DE
REPENTE... 80.
Num dia desses (num
domingo ou feriado, com certeza), sem ter nada prá fazer, assisti, em companhia
da minha esposa, um filme escolhido à êsmo: DE REPENTE 30, com Christa Allen no
papel principal.
Pensem numa comédia prá lá de divertida,
mostrando a história da adolescente JennaRink, de 13 anos, que não era levada a
sério por ninguém, e que, ao comemorar o seu aniversário, com a participação de
toda a meninada da vizinhança, trancou-se num armário em determinado momento,
como parte de uma brincadeira, e lá ficou esquecidapelos presentes. Foi ai que,
triste e revoltada com sua insignificância, fez um pedido: virar adulta, de
repente, para ter a vida com que sempre sonhou. No dia seguinte, ao despertar,
ela se vê, milagro-samente, com 30 anos de idade, no ano de 2004 – 17 anos
depois.
É como me sinto hoje, no dia de mais um
aniversário natalício, comas imagens das muitas etapas da minha vida sendo
repassadas na memória, como se fosse um filme nem sempre divertido, mas gostoso
de ser vivido, na maioria das suas etapas, com grande parte das suas cenas
desenvolvidas nas horas exatas e com as pessoas certas.
Vejo-me menino ainda, no início dos anos
40, ora na casa onde nasci, no antigo Ponto
de Cém Reis, vizinho ao velho cinema Plaza, onde assistia às divertidas
matinais dominicais, que exibiam desenhos animados e seriados, ora na casa da
praia, em Ponta-de-Mato, pertinho de Cabedelo, onde meu pai trabalhava, como
fiscal da Texaco.
Recordo-me do sítio da minha avó, em
Cruz das Armas, em frente ao quartel do 15 R.I., onde a minha infância
realmente floresceu, em contato com a natureza e com muitos animais, tomando
leite ao pé-da-vaca e correndo entre
as árvores, observando a revoada dos passarinhos e tudo o mais.
Não esqueço as traquinagens, ao voltar
da escola, junto com os coleguinhas, pegando
morcego nos bondes, o que significava driblar
o motorneiro e o cobrador, fazendo a viagem até em casa sem pagar um tostão
sequer.
O que não se pode esquecer, também,
naquela época, eram as costumeiras viagens de trem até à cidade de Pilar, onde
a minha avó, mãe de meu pai, Josefa de Lima Borges (Fifinha para o neto),
costumava permanecer por algum tempo, curtindo a tranquilidade do lugar,
enquanto o netinho aprendia a ler e escrever, fazia as primeiras amizades e ajudava
o padre a realizar as missas dominicais na igreja local.
- Fifinha, por que Deodato ?
- Porque seu avô, antes de morrer, quis
assim: o meu neto vai ter o meu nome por
inteiro, sem tirar nem pôr.
Pouco conheci o meu avô paterno, que
morreu quando eu ainda era pequeno.
Todos os dias, especialmente aos
domingos, não deixava de curtir a imagem do meu pai, sem camisa, mostrando a
musculatura bastante cultivada, que ele não se cansava de exibir. Até que, numa
certa manhã, ao acordar, não me deparei com a imagem paterna. Na inocência dos
meus dez anos, notando que a minha mãe, aflita, chorava, quis saber: “Onde está
o meu pai ?
Só aos poucos (e com bastante cuidado
para não me causar aflição, já que a dor seria inevitável), dona Nair, a minha
mãe, e dona Zefinha, a minha avó, conseguiram, com muito jeito, fazer com que
eu entendesse que meu pai, José Taumaturgo Borges, havia falecido, ali
próximo, no Hospital de Pronto-Socorro, onde se internára, de madrugada,
passando mal, devido, provavelmente, a um tumor maligno na próstata.
Como os familiares de minha mãe residiam
todos, inclusive seus pais, “seu” Amaro e dona Honorina (Pai Dindinho e Mãe
Dindinha para os netos), em Campina Grande, não restou outra alternativa à
jovem viúva senão retornar à sua terra,
E foi assim que, no dia 2 de setembro de
1945, tendo, em cada uma das suas mãos um dos seus dois filhos (eu e meu irmão,
Airton), dona Nair retornou à Campina num clima festivo, com o povo nas ruas
comemorando, alegremente, (essa cena eu não esqueço jámais) o fim da segunda
guerra mundial, que tantos males causou ao mundo em que vivemos.
Como a residência dos meus avós ficava
no centro, logo ali na Praça Clementino Procópio, pertinho da Usina de Luz, que gerava energia
elétrica para a cidade, minha mãe alugou uma casa nas proximidades, na rua 4 de
outubro.
Aos domingos, dona Nair e os filhos
participavam das reuniões festivas na casa dos pais, onde lá se encontrava, em
ritmo de alegria, com as suas irmãs Hilda, Maria, Judite, Guiomar, Letícia e
Edite e com seus irmãos Heitor, José, Reinaldo, Aguinaldo, Mário e Dário, a
fora cunhados e cunhadas e, é claro, dezenas de sobrinhos traquinas e
barulhentos.
Numa infância assim,vivida no âmbito da
família, meus primeiros amiguinhos, com certeza, não tinham como não surgir entre
os primos e primas com quem brincava, à toda hora, na casa de um e de outro.
Só quando passamos a morar na rua
Tiradentes, um pouco afastado do centro, é que outros amiguinhos foram
surgindo, como os filhos do Major Cunha Lima e dona Nenzinha, com destaque
para Fernando e Ronaldo, os dois mais traquinas e que mais deram certo comigo.
Exímia costureira, foi da
máquina-de-costura que dona Nair, por muito tempo, complementou as despesas da
casa e o sustento dos filhos, até que se inscreveu num curso do FISI (organismo
social americano especialista na formação de parteiras) e que estava presente
no nordeste brasileiro, á época, para suprir, com certeza, a falta de médicos
na região.
Alguns meses depois, após fazer as
provas finais em João Pessoa e receber o necessário diploma, eis que voltamos à
Campina, tendo a nova parteira assumido um cargo na Prefeitura e passado a
atuar na Maternidade Elpídio de Almeida.
Minha vida estudantil se passou, certamente,
nos dez anos vividos no Colégio Diocesano Pio XI, onde infância e juventude se
misturaram, período após período, do primário ao ginásio, sem esquecer o
científico, tendo sempre de obedecer as leis rígidas do padre Emídio Viana,
diretor do educandário, onde fiz.também um curso chamado pré-militar, que preparava o aluno de 17/18 anos para servir ao
exército nacional, de cuja convocação escapei, devido, principalmente, à minha
excessiva magreza.
No início dos anos 50, botando fé nos
elogios que a minha professora de português, dona Jacinta, fazia às minhas
matérias redacionais e à maneira como pedia que as lesse para que toda classe as
ouvisse e entendesse, fiz um teste, na antiga Rádio Borborema, para redator e
locutor, tendo sido aprovado e contratado.
Antes, trabalhei por pouco tempo em
algumas lojas comerciais, inclusive na conhecida Lojas Pernambucanas, como
caixa geral.
Com apoio do diretor de arte da emissora,
Fernando Silveira, meu mestre e amigo, de saudosa memória, logo me tornei seu
assistente e passei a produzir programas e novelas, como “Paixão de Cigano”,
“Cavaleiro da Vingança”, “A ilha dos Mortos” e tantas outras que ganharam muita repercussão
em toda a região serrana, devido às ondas curtas e médias da emissora, que eram
sintonizadas com facilidade em quase todo o estado.,
Foi nesta fase da minha vida, com os
neurônios da juventude em pleno vapor, que surgiram programas ainda hoje
lembrados pelos meninos da época,
como “As Aventuras do Flama”, seriado com muita ação, feito para o público
infanto-juvenil, que era transmitido todas as tardes, de segunda à sexta-feira,
man-tendo um impressionante nível de audiência,
Quando o herói se tornou conhecido e a
meninada já participava do “Clube do Agente Secreto do Flama”, com carteirinha
e tudo mais e com reuniões aos sábados no auditório da Borborema, tive que pôr
à prova mais uma das minhas aptidões, o desenho, passando a desenvolver as
histórias do seriado numa revista em quadrinhos, para felicidade dos seus
milhares de fãs.
A publicação, com textos, diagramação e
desenhos feitos por mim, teve todos os clichés
confeccionados no antigo “Diário da Borborema”, ali, na Cardoso Vieira, e
foi impressa na “Gráfica Júlio Costa”, no prédio ao lado, transformando-se na primeira revista em quadrinhos publicada no
norte e nordeste do Brasil.
Outros programas, com certeza, foram
levados ao ar, diariamente, como a crônica “Bom Dia Para Você”, os divertidos
“Seu Encrenquinha” (criticando tudo o que estava errado) e “Patrulha da
Cidade”, narrando, com graça, os acontecimento policiais, além de “Pensâo Hospício”,,humorístico,
“O Cinema em sua Casa” (radiofonizações de filmes famosos), e tantos outros,
apresentados semanalmente.
E foi assim, nos veículos associados de
Campina – nas emissoras de rádio e de TV, e no jornal (o velho Diário da
Borborema que já não circula mais) – que a minha vida foi se consolidando
profissionalmente, enquanto muitas amizades se formaram para sempre, envolvendo
pessoas como Hilton Mota, Gil Gonçalves, Leonel Medeiros, Themistocles Maciel,
Joselito Lucena, Eraldo Cesar, Ary Rodrigues, Humberto de Campos, Genésio de
Souza, Paulo Rogério, Edileusa Siqueira, Silvinha de Alencar, Eliza Cesar,
Janete Alves e tantas outras, cuja relação completa ainda permanece na minha
memória (sendo que a maioria delas já não se encontra entre nós),
Já casado (Adivinhem quem foram os
padrinhos ? Claro: Hilton Mota e Alba, sua esposa), tive, a partir daí, que
encarar a vida com mais seriedade, já
que os filhos da união com dona Zita, a primeira esposa, já estavam a caminho:
inicialmente, Delba; logo após, Deodato Filho, e, na sequência, Denickson, Denise
e Denison, que logo estariam encomendando netos e bisnetos para alegrar minha
vida.
Convocado por Assis Chateaubriand, dono
dos Associados, Hilton Mota assumiu, em 1962, a Superintendência dos Diários
Associados em Pernambuco, levando-me na bagagem, como Diretor Geral da empresa,
para cuidar, especialmente, das rádios Clube (a velha PRA-8) e Tamandaré, sem
esquecer, é claro, a TV Rádio Clube, que passava por dificuldades financeiras,
já que só o Diário de Pernambuco, à época, mostrava prá que veio.
Foram mais de quatro anos de luta
constante, durante os quais aprendi a amar e admirar a terra vizinha,
especialmente as cidades de Olinda e Recife, onde morei, fiz muitos amigos e das
quais surgiram dois dos meus filhos, tendo sido a época em que mais viajei ao
sul do país, especialmente ao Rio e São Paulo, sempre em busca de melhorias
para as empresas locais..
Com as emissoras de rádio e TV liderando
a audiência e dando lucro certo, retornei à Campina Grande, quatro anos
depois, voltando a dirigir as emissoras de rádio e TV e refazendo os contatos
com os amigos.
Mesmo tendo participado da campanha que
elegeu Enivaldo Ribeiro prefeito de Campina Grande em 1976 e
de ter sido nomeado para um importante cargo na administração municipal,
preferi aceitar um convite do governador Ivan Bichara para assessorá-lo na
secretária de Comunicação, já que a minha mãe, dona Nair, acabára de ser
diagnosticada com um câncer no seio, sendo urgente e inadiável a nossa mudança
para João Pessoa.
A principal providência, portanto, foi
tomada de imediato: já que aluguei uma casa num terreno vizinho ao Hospital
Laureano, onde, através de uma abertura no muro, passavam médicos e enfermeiras,
que cuidavam, permanentemente, de dona Nair, sem que ela precisasse ficar
hospitalizada, já que haviam instalado, no seu quarto, os equipamentos
necessários para o seu tratamento, tendo sido assim, com essas providências,
que a minha mãe viveu por mais dez anos, distribuindo carinho e amor aos seus
filhos.
No mesmo ano, passei a trabalhar também
no Correio da Paraíba que, à épo-ca, não era o conglomerado de hoje, pois
contava apenas com um jornal (ainda impresso pelo sistema antigo, na base de
linotipos e clichés) e uma emissora de rádio AM, com pouca potência de
transmissão, mas com uma boa audiência na cidade.
Foi o deputado federal Teotônio Neto,
dono da empresa à época, que esteve em minha casa, em Manaira, e, de volta à
Brasília, pediu-me que tomasse conta dos veículos de comunicação, juntamente
com meu amigo Aluisio Moura, de saudosa memória.Outra coisa não fizemos – eu e
Aluisio (isso sem falar em João Manoel de Carvalho, editor-chefe, à época, e
ainda hoje, bastante atuante, editando o jornal Contraponto) -, já que o Correio logo estaria sendo impresso em
off-set, passando a funcionar na rua Pedro II, onde se encontra até hoje,
especialmente após ser adquirido pelos empresários Roberto e Paulo Cavalcanti,
da Polyutil.
Foram quinze anos de minha vida
dedicados ao Sistema Correio de Comunicação, como um todo, participando do
surgimento das demais emissoras de FM, não só em João Pessoa como em outras
cidades, até o aparecimento da TV Correio, que deu asas e força à empresa, como
um todo.
Nesta época, no início dos anos 80, Damásio Franca, eleito, mais uma vez, prefeito de João Pessoa, pediu-me que o ajudasse a preparar um projeto, que seria enviado à Câmara Municipal, criando uma Secretária de Comunicação para o município. Aceitei o convite e logo o projeto já estava na Câmara, onde foi aprovado. E foi assim, ocupando sempre o cargo de Diretor de Comunicação, estratégicamente bolado para substituir o de sub-secretário, que permaneci, ao longo de várias administrações, como as de Osvaldo Trigueiro, Carneiro Arnaud, Chico Franca e, lógico, as duas seguidas de Cícero Lucena.
Nesta época, no início dos anos 80, Damásio Franca, eleito, mais uma vez, prefeito de João Pessoa, pediu-me que o ajudasse a preparar um projeto, que seria enviado à Câmara Municipal, criando uma Secretária de Comunicação para o município. Aceitei o convite e logo o projeto já estava na Câmara, onde foi aprovado. E foi assim, ocupando sempre o cargo de Diretor de Comunicação, estratégicamente bolado para substituir o de sub-secretário, que permaneci, ao longo de várias administrações, como as de Osvaldo Trigueiro, Carneiro Arnaud, Chico Franca e, lógico, as duas seguidas de Cícero Lucena.
Em 1982 não tinha como não estar
presente em Campina Grande para receber Ronaldo Cunha Lima que havia sido
afastado da Prefeitura em 1968, com seus direitos po-líticos cassados pela
revolução, e agora estava de volta, anistiado, depois de dez anos no Rio, querendo
recuperar o apoio popular que nunca perdêra, tanto assim que foi eleito, mais
uma vez, como prefeito da cidade.
Quando se candidatou a Governador do
Estado em 1990, não tive outra alternativa, senão largar tudo e oferecer os
meus serviços para o que precisasse, na campanha política: era o menino da
Tiradentes, o adolescente dos primeiros versos, o advogado inteligente e o
amigo de sempre que ali estava ante um grande desafio, esperando a ajuda de
todos, es-pecialmente do povo paraibano.
Eleito Governador em 1991, Ronaldo não
fez por menos e pediu que ficasse ao seu lado nas andanças pelos municípios do
estado, como Secretário de Comunicação Social, preparando os caminhos para uma
grande administração que pretendia realizar na sua terra, tendo se afastado do
Governo em 1993, deixando, em seu lugar, o vice, Cícero Lucena.
Em 1994, fiz a campanha de Mariz, outro
grande amigo, como se fosse a reeleição de Ronaldo, e não deu outra: eleito,
segredou-me que queria continuar a contar com o meu trabalho. Só que que teve
de viajar às pressas para São Paulo, a fim de tratar um câncer. E de lá não
voltou mais. Foi o vice-Governador Maranhão, que estava no cargo, quem me pôs a
par de tudo, num único telefonema, comunicando o falecimento de Antônio Mariz
e, ao mesmo tempo, dizendo que acabára de assinar a minha nomeação como diretor
da Rádio Tabajara.
A partir dai, seguiu-se a reeleição de
Maranhão em 1999, que foi em frente até o ano de 2003, quando a presença de
Ronaldo voltou a ser forte na administração estadual, através da figura do seu
filho, governador Cássio Cunha Lima, que se estendeu até o ano de 2010, período
em que estive no jornal A União e mais uma vez na Tabajara, assim como na
PB-Gás, procurando ajudar o menino no
que fosse possível.
Nos últimos anos, a não ser por uma
participação pequena na campanha de Cícero Lucena como candidato a prefeito de
João Pessoa, tenho me mantido afastado das atividades políticas, torcendo,
como sempre, pelos meus amigos que lá estão, a fim de que todos possam atingir
os objetivos a que se propõem.
Foram essas as reminiscências que me
ocorreram no dia de hoje, quando, ao lado da minha segunda esposa, Elcemy (a
minha Boneca), lembrei-me que o domingo, 20 de janeiro, dia de São Sebastião (é
por isso que as melhores comemorações do meu aniversário aconteceram no Rio),
está chegando.
Penso, repenso... vejo, revejo... e fico
sem entender como tudo passou tão depressa.
Como diria meu grande e saudoso amigo
Chico Anísio: foi tudo muito ligeiro... foi vapt-vupt.
De súbito... valeu o susto: oitenta.
E nada do que passou volta mais.