segunda-feira, 28 de abril de 2014

CRÔNICA DA SAUDADE - 30-04-2014




                                                                           


SEIS ANOS SEM CAYMMI

                                               Nos anos 70, por quase um ano, curti a vida em Salvador, na Bahia, graças a um convite do jornalista, radialista e meu amigo de todas as horas, Luiz Otávio Amorim, que tão cedo resolveu partir para outras paragens. De repente, lá estava eu, na terra de tantos sonhos, percorrendo as ladeiras de Salvador, as suas muitas igrejas, o seu famoso Mercado Modelo e, pra que não disessem que eu fui pra lá só pra fazer turismo, preparava, ao mesmo tempo, as novas programações da Rádio Sociedade e da TV Itapuan, que eram os veículos associados, naquela época, no estado.
                                               Nas minhas andanças com Luiz Otávio, em busca de contratar pessoas que pudessem nos ajudar no lançamento das novas programações, fui apresentado à uma figura excepcional: o escritor Guido Guerra – um jovem e talentoso escritor, bastante conhecido em todas as áreas. Foi por intermédio de Guido que almoçamos, certo dia, com Jorge Amado e Zélia Katai, numa entrevista informal com o casal, quando descobrimos que o maior escritor brasileiro, à época, escrevia todos os seus livros à mão, já que nunca aprendera a usar uma máquina de datilografia. Era ela, a sorridente Zélia, sua companheira, quem botava ordem em todos os seus rascunhos, datilografando-os, um a um. E o que era mais incrível - conforme confidenciou – cabia à ela a tarefa de colocar as vírgulas e ponto-e-vírgulas que o nosso Jorge, comumente, esquecia de colocar.
                                               Foi com Guido Guerra, também, que fomos à festa dos 60 anos de Dorival Caymmi, grande amigo de Jorge Amado e um dos maiores e mais festejados compositores brasileiros de todos os tempos. Lá estávamos nós, na casa de Caymmi, na praia de Ondina, cercado por familiares – por Stella, sua esposa, e pelos filhos, Nana, Dori e Danilo, além de amigos e parentes – o próprio Caymmi, com seu jeitão de eterno jovem, apagando as 60 velinhas do bonito, cheiroso e enfeitado bolo.
                                               Nascido em Salvador, no dia 30 de abril de 1914, filho do funcionário público Durval Henrique, que tocava violão, bandolim e piano, e de Dona Sinhá, como sempre foi conhecida a sua mãe, Aurelina Cândida Caymmi, Dorival logo se aventurou pelo mundo da música. Em 1939, Caymmi já lançava, com Carmen Miranda, seu primeiro grande sucesso O que é que a baiana tem ? E logo vieram outros sucessos inesquecíveis da nossa música popular, como Boneca de Pixe, Na Baixa do Sapateiro, O Mar, O Samba da Minha Terra, Quem Não Gosta de Samba, É Doce Morrer no Mar (em parceria com seu amigo Jorge Amado), A Jangada Voltou Só, Requebre que eu dou um Doce, Vatapá, Rosa Morena, Marina, Gabriela, Nunca Mais, Sábado em Copacabana, Não Tem Solução e o célebre... Você Já Foi à Bahia ?, além de muitas outras páginas do nosso cancioneiro.                                                                                   Foi esse o Dorival Caymmi que conheci há mais de 30 anos atrás. Se esivesse vivo, estaria completando cem anos no próximo dia 30 e outro jantar festivo seria realizado em sua casa. 
                                                      E foi assim que esse homem sempre jovem, no dia 16 de agosto de 2008, resolveu partir para a eternidade, aos 94 anos, deixando tristes e saudosos todos os seus amigos e admiradores espalhados por esse imenso Brasil.


https://www.youtube.com/watch?v=EaPt8zhC3Jw

quinta-feira, 17 de abril de 2014

A CRÔNICA DA SAUDADE - 17-04-2014




                                                                                     



     NELSON GONÇALVES

          Há dezesseis anos, no dia 18 de abril de 1998, o Brasil perdia muito da sua musicalidade e do seu romantismo com o falecimento de um dos seus mais consagrados cantores de todos os tempos, ídolo de milhões de brasileiros e dono de uma voz inconfundível: Nelson Gonçalves.

Filho de pais portugueses, que passaram a residir em São Paulo, no bairro do Braz, logo após o nascimento do primogênito, Antonio Gonçalves Sobral (era este o verdadeiro nome de Nelson Gonçalves), que nasceu em Santana do Livramento, no Rio Grande do Sul, no dia 21 de julho de 1919.

Aos 16 anos, tornou-se lutador de boxe na categoria peso-médio, até que, dois anos depois, resolveu tentar a sorte como cantor. Num programa de calouros da Rádio Tupi de São Paulo fez a primeira tentativa e foi reprovado. Na segunda, foi contratado. Tentou fixar-se no Rio de Janeiro, mas foi em São Paulo onde recebeu convite para um teste de gravação e foi recomendado a RCA Victor pelos compositores Osvaldo França e Rosano Monello. Foi com a ajuda de Benedito Lacerda que gravou, em 1941, seu primeiro disco, onde o samba Sinto-me Bem, de Ataulfo Alves, fez um relativo sucesso, garantindo ao cantor dois contratos: um, com a gravadora e, outro, com a Rádio Mayrink Veiga, para onde foi levado por Carlos Galhardo. Nesse mesmo ano, ao gravar Renúncia, de Roberto Martins e Mário Rossi, deu início à uma série de sucessos que marcariam a década de 40, como a célebre canção Maria Bethânia, de Capiba, os tangos Carlos Gardel e Hoje Quem Paga Sou eu, de Herivelto Martins e David Nasser.

            Na década de 50, gravou sucessos marcantes de Adelino Moreira, como A Última Seresta e A Volta do Boêmio, além de parcerias com o compositor em Mariposa, Timidez e no bolero Fica Comigo Esta Noite. No final da década, Nelson tornou-se viciado, passando a travar uma dramática batalha contra as drogas, problema que acabaria por ocasionar uma interrupção em sua carreira em 1962, quando foi preso por acusação de tráfico, tendo sido absolvido em julgamento.

            Nessa época, formou-se um mutirão de amigos que se uniram em torno da sobrevivência do cantor... do seu retorno às atividades artísticas... de sua volta aos shows, às gravações e ao sucesso. Por telefone, ele pedia socorro. E foram muitas as vezes em que inventamos temporadas na Rádio Borborema de Campina Grande, onde ele vinha e se apresentava cercado de cuidados, acompanhado da esposa, que o mantinha afastado das drogas. Em 1965, ele já era o mesmo Nelson de sempre. Gago, inteiramente gago ao falar; perfeito, totalmente perfeito, ao cantar.

            Em vida, nenhum cantor popular foi maior do que Nelson: gravou 120 LPs,  20 CDs, vendeu 50 milhões de discos, ganhou 15 discos de platina e 41 de ouro.

           E ficou para sempre no coração do povo brasileiro. 



            https://www.youtube.com/watch?v=8YaOWBvx_Ms