TRISTEZAS DE JUNHO
De vez em quando, na abertura de um novo mês, costumo folhear o calendário da saudade – aquele que a gente tem guardado em notas e na memória – para saber quais foram as nossas perdas mais sentidas ao longo daquele período que se inicia, principalmente num mês como esse que está chegando, chuvoso e friorento, que costuma botar a gente pra ficar mais tempo em casa, encolhido ali, num cantinho, divagando com as lembranças de um tempo que já se foi. Neste início de junho não temos como deixar de lembrar aqueles que, ao partirem, tornaram-se mais presentes nas vidas de todos nós, principalmente através de musicas que marcaram as nossas existências, como é o caso de João Nogueira e Moreira da Silva, dois símbolos vivos da história do nosso mais tradicional e popular ritmo, que é o samba, e que até parece que combinaram em nos deixar num mesmo dia.
João Nogueira – cujo nome completo era João Batista Nogueira Júnior – foi um carioca da gema, nascido ali, no Méier, na zona norte do Rio, no dia 12 de novembro de 1941. Filho de um músico profissional, João nunca deixou de estar em contato com o samba e o choro, já que Pixinguinha, Donga e João da Baiana sempre freqüentaram a sua casa. Aprendeu a tocar violão com o próprio pai, que morreu quando ele tinha apenas 10 anos, a partir de quando a família passou por uma fase difícil, obrigando-o a trabalhar. O famoso “Clube do Samba”, que ele criou em sua própria casa, e que funcionou, depois, no Flamengo e na Barra da Tijuca, onde permanece até hoje. João Nogueira, em 1972, lançou, pela Odeon, seu primeiro LP, onde já se destacavam vários sucessos de sua autoria. Ao falecer, na madrugada do dia 6 de junho de 2000, vítima de um enfarte, quando se recuperava de um AVC, lá mesmo, no Rio que tanto amou, João Nogueira nos deixou uma herança musical repleta de grandes sucessos, todos, é claro, no ritmo do samba clássico, como Espelho, Um Ser de Luz, Súplica, O Poder da Criação e tantos outros que ficaram na história.
Antonio Moreira da Silva – que se tornou nacionalmente famoso pelo sobrenome completo – foi, ao contrário de João Nogueira, o sambista do samba do morro, todo cheio de malemolências, que conquista o brasileiro pela batida cadenciada e pelos versos que retratam a alma popular. Moreira da Silva, o velho Moringueira, nascido no dia primeiro de abril de 1902 – no alvorecer do século XX – era filho de um policial militar tocador de trombone e viveu toda a sua infância no Morro do Salgueiro. Com sua imagem de malandro e boêmio, Moreira da Silva, ao partir para a eternidade no mesmo dia 6 de junho, também do ano 2000, premiou a música popular brasileira com sambas-de-breque e chôros geniais de sua autoria e por ele interpretados, onde se destacam Casinha Amarela, Acertei no Milhar, Dormi no Molhado, Na Subida do Morro, 1.296 Mulheres, Olha o Padilha, O Rei do Gatilho, Patrulha da Cidade e muitos outros, todos presentes em mais de 20 LPs gravados, além de mais de 100 discos em rpm e quatro CDs. O eterno malandro foi uma forte marca musical em todo o século XX.
Ambos se foram numa mesma data e deixaram uma única e imensa saudade... dessas que a gente não cansa de chorar.
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