quinta-feira, 14 de abril de 2011

CRÔNICA DA SAUDADE - abril 2011




SAUDADE DA MORENA

A melhor lembrança que guardo de Clara Nunes, a morena de Angola que enlouqueceu o Brasil, foi a sua entrada estonteante em minha sala, em 1968, quando dirigia a Rádio Sociedade da Bahia, em Salvador, bela e envolvente nos seus 26 anos, trazendo, em suas mãos, o segundo LP que acabára de gravar na Odeon, cujo título – Você passa, eu acho graça – fora retirado da música de Ataulfo Alves que tinha se transformado em seu primeiro grande sucesso, tendo servido, também, para fixar a sua voz ao nosso samba.

Logo após ouvir a música-tema do LP e de parabenizar a jovem cantora por sua interpretação, fiz com que a música fosse tocada nos principais horários da emissora e fiz um convite à sua intérprete para que participasse de um programa de auditório que logo iria ao ar na TV Itapuan. Clara não só aceitou o convite, como subiu ao palco e, diante das câmeras, deu um show de canto e de rebolado, conquistando de vez a admiração dos baianos.

Alegre e descontraída, parecendo sempre de bem com a vida, Clara Nunes passou pela vida como um raio de luz, iluminando os caminhos e conquistando corações com a força dos seus encantos e das suas musicas.

Tendo sido a caçula dos sete filhos do casal Manuel Araújo e Amélia Nunes, Clara nasceu, no dia 12 de agosto de 1942, no distrito de Paraopeba (hoje Caetanópolis), no município de Cedro, no interior de Minas Gerais, local onde viveu até os 16 anos de idade. Suas primeiras ligações com a música, foi através do pai, que era violeiro e tocava nas festas de Folia de Reis, e com o coral da Matriz de Cruzada Eucarística, onde cantava ladainhas em latim. Com a morte dos pais, foi morar com dois irmãos em Belo Horizonte, participando do Coral Renascença, da igreja do bairro onde morava. Em 1960, foi a vencedora do concurso A Voz de Ouro ABC, na fase mineira, cantando a música Serenata do Adeus, de Vinicius de Morais. Logo depois, com a música Só Adeus, de Jair Amorim e Evaldo Gouveia, obteve o 3º lugar na finalíssima realizada em São Paulo. Ao lado de Milton Nascimento – Bituca -, que atuava como baixista, ela passou aparecer como crooner de boates e, logo após, na televisão, fazendo sucesso no programa de Hebe Camargo na TV Itacolomi, até que ganhou um show todo seu, onde apresentava artistas de renome nacional, como Ângela Maria, Altemar Dutra e muitos outros. Em 1965, foi para o Rio de Janeiro, onde passou a atuar nos melhores programas de televisão. A partir de 1969, com o disco Ave Maria do Retirante, tornou-se nacionalmente conhecida. No ano seguinte, realizou, com Ivon Curi, um grande show em Luanda, na África. Com Toquinho e Vinicius, percorreu o Brasil com o show O Poeta, a Moça e o Violão. E vieram os grandes sucessos: Contos de Areia, Menino de Deus, O Mar Serenou, Juízo Final, Macunaíma, herói da nossa gente, A Flor da Pele, Coração Leviano, Feira de Mangaio (do nosso Sivuca e Glorinha) e tantas outros.

Clara morreu no Rio, dia 2 de um mês de abril igual a este,no ano de 1983, após submeter-se à uma simples cirurgia de varises. Faz 28 anos que ela se foi, deixando, em seu lugar, esta imensa saudade.

2 comentários:

  1. Foi inigualável cantora. Dançei agarradinho vários sucessos desta imortal interprete. Saudades...

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  2. Resgatar cultura e o que sempre Deo faz, mais saudades ainda, é o que ele mesmo já retratou. Clara, foi espetacularmente abencoada com sua cultura e voz.

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