AS PEDRAS NO CAMINHO
Amanheci hoje com a poesia de Carlos Drummond de Andrade na cabeça, provavelmente porque, a cada dia 17 de agosto, lamentamos o falecimento do nosso poeta, ocorrido há exatos 26 anos , desde quando vivemos apenas com a força da sua poesia..
Quando conheci Drummond, na José Olympio Editora, lá no Rio, tive a nítida impressão, ao ouvi-lo falar sobre um dos seus livros, que estava sendo lançado naquele momento, que o poeta não nascêra para viver num mundo repleto de tantos caminhos tortuosos como o nosso. A impressão que ficára era a de que ele não teria condições de sobreviver por muito tempo ao mundo hostil e violento como este em que estávamos vivendo. Só que nunca me enganára tanto: a poesia daquele homem, fisicamente frágil, era uma arma poderosa, de extremo poder tranqüilizante, que serenava os espíritos, dissipava rancores, afastava tristezas, reacendia esperanças e semeava ternura por onde passava.
Nascido na distante Itabira do Mato Dentro, no interior de Minas Gerais, no dia 31 de outubro de 1902, Carlos Drummond de Andrade estudou em Belo Horizonte e com os jesuítas do Colégio Anchieta, em Nova Friburgo, no Rio, de onde foi expulso por insubordinação mental. De volta à capital mineira, passou a escrever no Diário de Minas, onde começou a aglutinar muitos adeptos para um incipiente movimento modernista. Em 1925, formou-se em farmácia, em Ouro Preto. Logo em seguida, entrou no serviço público e, em 1934, transferiu-se para o Rio de Janeiro, onde foi chefe de gabinete de Gustavo Capanema, Ministro da Educação, até 1945, escrevendo, de 1954 a 1969, no Correio da Manhã e, a partir daí, no Jornal do Brasil.
Foram com seus livros, no entanto, que conseguiu falar com seu povo e tornar-se conhecido em todo o mundo. Em 1940, lançou Sentimento do Mundo e, em 1942, José; mas foi com A Rosa do Povo, em 1945, que Drummond lançou-se ao encontro da história contemporânea e da experiência coletiva, participando, social e politicamente, da luta do povo brasileiro em todos os níveis. A partiu daí, o que se viu foi uma sucessão de obras-primas que marcaram definitivamente a sua vida.
A morte de sua filha única, a cronista Maria Julieta Drummond de Andrade, no dia 5 de agosto de 1987, atingiu profundamente a sua alma e fez com que o poeta, já com 85 anos, viesse a falecer doze dias depois, lá mesmo, no Rio.
Nunca me esquecerei – disse, num dos seus poemas, Drummond – que no meio do caminho tinha uma pedra.
Foi essa pedra, com certeza, que não deixou o poeta prosseguir pelo seu caminho de sempre, já que, numa encruzilhada, preferiu seguir outros rumos, deixando o nosso mundo, cada vez mais conturbado, para iniciar uma viagem em busca de outros sonhos.
Com sua poesia, Drumond eternizou-se em nossas vidas.
http://www.youtube.com/watch?v=2GMoB1ukqCk
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