TRISTEZAS DE JULHO
Este mês de julho que está por terminar, além do
frío e da chuva que fazem parte do nosso inverno, resolveu trazer, para dentro
de cada um de nós que se encanta com os nossos escritores, em apenas três dias
(bem próximos uns dos outros), uma imensa tristeza, que haveremos de carregar
por toda a vida, já que cada uma das motivações tinham a vêr com a essência do
atual ambiente literário brasileiro.
Logo em seguida, no dia 19, logo pela manhã, aos 80
anos, faleceu outro grande escriitor - Rubem Alves -, mineiro de Boa Esperança,
autor de mais de 150 li-vros, envolvendo crônicas, literatura infanto-juvenil,
filosofia, teologia e religião, onde se destacam O Quarto do Mistério, A
Volta do Pássaro Encantado e Gandhi: A Magia dos Gestos Petiços.
Rubem nos deixou, vítima que foi de um agravamento de males nas funções renais,
pulmonares e circulatórias.
Cinco dias depois (por essa ninguém poderia esperar
!), o nosso Ariano Suassuna, nascido, aqui, em João Pessoa, no dia 16 de junho
de 1927, no Palácio da Redenção, já que o seu pai, João Suassuna, era, à época,
o Presidente do Estado da Paraíba, morreu, no dia 23, no Hospital Português do
Recife, onde se internára, há dois dias, vítima de um AVC.
Durante
a revolução de 1930, aos 3 anos, Ariano ficou órfão, já que seu pai, por
motivos políticos, foi assassinado e a família foi obrigada a mudar de cidade,
tendo ido prá Taperoá, no interior do Estado, onde residiu, de 1933 a 1937, e
onde iniciou seus estudos e teve os primeiros contátos com a cultura regional,
assistindo a apresentações de mamulengos e a desafios de viola.
Em
1942, mudá-se, com a família, para o Recife, onde passou a estudar no Colégio
Americano Batista e no Ginásio Pernambucano, ingressando, de-pois, no devido
tempo, na Faculdade de Direito, onde fundou o Teatro do Estudante de
Pernambuco, para o qual escreveu, em 1947, a sua primeira peça: Uma
Mulher Vestida de Sol e, no ano seguinte, Cantam as Harpas do Sião.
Em
1950, conclui o curso de Direito e passa a se dedicar à advocacia e ao teatro,
tendo escrito, em 1956, a comédia O Auto da Compadecida - um grande
sucesso teatral - e, a partir de 1970, inspirado e sob sua direção, o Movimento
Armorial, cujo objetivo era valorizar os vários aspectos da cultura do
nordeste brasi-leiro, como literatura de cordel, música, dança e teatro, entre
outros.
Em 1971, iniciou sua trilogia
com o Romance da Pedra do Reino e o Príncipe do Sangue Que
Vai-e-Volta, dando sequência, a partir dai, à várias outras hustórias.
Mas o melhor de Ariano era a
sua presença: divertido, sempre feliz, incapaz de relatar tristezas, ele conquistava
mais ainda a quem o conhecia de perto, ouvindo o seu papo e rindo com
suas piadas.
Ainda bem que tive esse
privilégio: e foi lá, em Taperoá, cercado de cabritos e tendo, ao longe, a Pedra
do Reino, que ouvi as suas histórias e passei a admirá-lo muito mais, já
que a criatura humana que ali estava, nos fazendo rir, era tão admirável quanto
o genial escritor que habitava a sua mente.
Foi esse o Ariano Suassuna
que conhecemos, não só através sua obra literária marcante como pelo seu
espírito divertido e o seu modo único de contar his-tórias nordestinas.
Ubaldo... Rubem Alves...
Ariano... um trio do outro mundo, que deu relevância à nossa literatura e,
soube, melhor que ninguém, dizer o que sentia e o que o povo queria saber.
Agora, de repente, eles se
foram.
São as tristezas de julho.