terça-feira, 9 de março de 2010

UM CINEMA À LUZ DA LUA


Poucas são as pessoas da minha idade que se recordam da praia de Tambaú com as mesmas lembranças que me envolvem de vez em quando e que me fazem parar em alguns locais, como na calçada do antigo Elite e em frente ao Hotel Tambaú, pensativo, buscando, hoje, os caminhos de um passado distante.

Que idade poderia ter ? 16... 17 anos... algo assim, pois aqui estava, vindo de Campina, para passar um ano de boa-vida, ali, à beira-mar, em companhia da minha avó.

A juventude é inquieta e Tambaú, àquela época, se resumia no movimentado terminal do bonde, ali, naquele largo, onde existia o Elite Bar de um lado e, do outro, um Grupo Escolar do governo do estado, sem nada das modernas edificações de hoje. Nada das luxuosas residências à beira-mar... nada de Hotel Tambaú... nada de PB-Tur... nada de avenida Tamandaré (pelo menos, asfaltada como hoje)... nenhum edifício em destaque ao longo da orla... pois o que se via em toda a extensão de Tambaú, Manaira, Cabo Branco e Bessa, era uma mata quase compacta, formada por pés de coqueiros, de cajueiros e de araçás.

Durante o dia, mergulhos nas praias de águas límpidas, que ninguém é de ferro. E à noite... o que fazer ? Sentar numa mesa do Elite e tomar uma cervejinha ? Mas isso todo santo dia ? Era preciso inventar alguma coisa. E foi ai que apareceu um cara, que não me lembro o nome, e construiu uma palhoça sem teto, ali – onde hoje está a feirinha de Tambaú – em frente ao Hotel –, colocou uma tela de cinema lá no fim e espalhou, em toda a extensão do ambiente, uma série de bancos de madeira – daqueles que a gente encontra na maioria das igrejas. Na entrada, no alto, colocou uma placa, onde se lia: Cine Tambaú. Aos lados da entrada, lá estavam os cartazes, anunciando os filmes do dia, quase sempre faroestes. E foi pra lá que fui, em companhia de amigos, para curtir a novidade. Compramos ingresso e entramos. Lá dentro, tendo o céu azulado lá no alto, ficamos à vontade, vestidos de calções de praia, sem camisas, pés enfiados na areia da praia, aguardando o início da sessão. Antes do começo do filme, baixaram uma espécie de paliçada sobre a tela (para que a luz da lua não prejudicasse as imagens) e logo o bang-bang começou, causando o maior alvoroço na platéia.

Realmente, o dono do cinema inusitado – que não sei por quanto tempo existiu no local, pois tive que voltar para Campina -, foi, na verdade, um precursor do futuro, já que, muitos anos depois, surgiria, naquele local, o Hotel Tambaú de hoje. E, o mais incrível, lá dentro, luxuosamente instalado, um moderno cinema, cujo nome escolhido não foi outro, senão o mesmo da saudosa palhoça: Cine Tambaú.

Dá pra entender ? Não dá. Mas de saudade a gente entende, pois é com ela, com a lembrança do que passou, com as recordações, que a gente vai ter de conviver por toda a vida, prisioneiro eterno de um mundo que nunca se foi.

(Crônica divulgada na Rádio Tabajara, em 27/02/2005)

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