segunda-feira, 12 de julho de 2010

CRÔNICA DA SAUDADE – 12/07/10

SAUDADES DO GONZAGÃO

Quem era o artista brasileiro que mais se identificava com o nosso povo, criando sucessos que ficaram para sempre na história da nossa música popular e que jamais será esquecido, tão fortes foram os laços criados entre a voz que cantava e os ouvintes que a aplaudiam e ainda a aplaudem, hoje, vinte e um anos depois das suas despedidas deste mundo em que vivemos e que ficou, sem dúvida, bem mais triste e sombrio, depois da sua partida ? Que outro cantor, além de Luiz Gonzaga, exercia sobre o povo aquele fascínio, que dominava cada um dos seus admiradores, como num passe de mágica, reunindo-os aos milhares em sua volta nos muitos shows que realizou por todo esse país imenso, aplaudido, como sempre, por verdadeiras multidões, que nunca deixavam de estar onde ele estivesse, cada vez mais empolgadas com a sua música e interpretação ?

Ao longo de quase meio século, dirigindo essa ou aquela emissora de rádio, jamais conheci alguém que tivesse esse poder de aglutinação, que era como uma marca do nosso Gonzagão. Por muitas vezes, quando dirigia a Rádio Borborema de Campina Grande, deparei-me, em várias ocasiões, com a figura risonha de Luiz Gonzaga, adentrando, de repente, em minha sala e perguntando: “Onde é que vai ser o show ?” – como se a gente tivesse marcado alguma coisa. E o show que ele queria era no dia seguinte... sem demora... em um clube, numa praça ou no auditório... restando, para anuncia-lo, apenas algumas horas. E o mais incrível de tudo era que o improvisado show, criado assim, quase sem nenhum aviso ao grande público, logo virava sucesso, com uma verdadeira multidão vindo ao encontro do Gonzagão, cantando suas músicas e aplaudindo o seu artista preferido !

Luiz Gonzaga não era apenas o rei do baião... o criador do nosso principal ritmo... o seu mais autêntico intérprete... o nosso Luiz Lua Gonzaga era mais do que tudo isso: ele era o próprio nordeste... com sua maneira de falar... de cantar... de dizer as coisas... de conversar com a gente sofrida do sertão... de identificar-se com todos os nordestinos... graças às suas músicas... à sua sanfona... às suas raízes... ao velho Januário e seus oito baixos... às suas permanentes preocupações com sua terra e com sua gente... graças, enfim, a nordestinidade do seu trabalho !

Luiz Gonzaga de Gonzaguinha... o filho querido que o amava tanto... que não pôde viver com a dor da sua saudade e resolveu partir também... explodindo o coração dos que adoravam a música de ambos e não sabiam como viver sem os dois.

No último dia 02 de agosto, fez 21 anos que o Nordeste convive com esta dor que sintetiza a saudade de Gonzagão. Dor que vira alegria. Que faz a gente reverencia-lo, ano após ano, sem nunca esquecer a força da sua presença. Faz 21 anos que ele fechou os olhos, lá no Recife, e partiu.

Como a Asa Branca da música famosa, o velho Lula bateu as asas... e voou para a eternidade.

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