sexta-feira, 20 de agosto de 2010

CRÔNICA DA SAUDADE - AGOSTO 2010


A FORÇA DE UM PAI

Quando conheci Sergio Bittencourt nos corredores da antiga TV Tupi, no Rio, antes do início do Programa Flávio Cavalcanti, emocionei-me ao conhecer de perto muito mais o jurado famoso que sempre dava notas sensatas e merecidas aos calouros (ao contrário da Márcia de Windsor que só dava nota 10) do que o jornalista e compositor de tanto sucesso, que o Brasil inteiro aplaudia. Num bate-papo informal enquanto a gente tomava um cafezinho, fiquei sabendo do amor imenso que Sergio sempre havia dedicado ao seu pai, Jacob do Bandolim. Soube ainda que, para tristeza minha, o inspirado jurado, compositor e jornalista, era hemofílico desde a mais tenra idade e, apesar da sua luta constante contra a terrível doença, havia perdido praticamente uma das pernas, locomovendo-se com dificuldade. Foi da sua própria voz que ouvi um breve relato da morte do pai: Foi num dia 13 de agosto de 1969 – esse agosto é sempre insano – que meu pai, dirigindo sozinho o seu carro, chegou à sua casa, em Jacarepaguá, vindo da residência de um dos seus poucos ídolos, Pixinguinha, e – já ofegante –avisou que estava morrendo, sendo recostado pela mulher e pelo sogro no chão da grande varanda, onde morreria. Jacob Pick Bittencourt foi, para mim, mais do que um pai, do que um amigo, do que um ídolo. Ele foi, é e será sempre, para mim, um homem, desses que a gente escreve com “agá” maiúsculo, um ser genial. Tenho certeza e assumo: não sou nada, porque, de fato, não preciso ser. Me basta ter a certeza inabalável de que nasci do amor, da loucura, da irrealidade e da lucidez de grande gênio. À época, o compositor Sergio Bittencourt ainda sentia os aplausos do público brasileiro ao ouvir o grande sucesso do momento: Naquela Mesa, um samba-póstumo que Sergio fizera em homenagem ao seu pai e que voz de Elizeth Cardoso o imortalizou.

Foi num dia 13 de agosto, Dia dos Pais à época, que o cronista fica sem saber, ao certo, a quem homenagear: se a Jacob Pick Bittencourt, que nasceu no Rio, no dia 14 de fevereiro de 1918, tendo falecido na mesma cidade, num dia como o de hoje, ou a seu filho, Sergio Bittencourt, que na cidade maravilhosa também nasceu, em 1941, deixando inúmeras musicas de sucesso, inclusive o Naquela Mesa, onde homenageia o pai, até que a morte, um dia, em 9 de julho de 1979, também o levou, vítima de um enfarte, aos 38 anos.

A homenagem, justa e merecida, deve ficar para os dois expoentes da nossa música: para Jacob, por ter sabido ser um pai, na verdadeira expressão da palavra, e por ter legado à música popular brasileira tantos sucessos que ainda hoje recebem os aplausos do público; e ao seu filho, Sergio, por sua declaração pública de amor ao pai que sempre teve, através de uma composição que, ainda hoje, mais de trinta anos depois, continua presente em nossas vidas, tornando mais bela a data que hoje comemoramos.

Cada filho que, no dia 8 de agosto, estiver ao lado do seu pai, feliz com a felicidade daquele homem que sempre o guiou na vida, pode emocionar-se muito mais ainda, ouvindo a historia que Sergio Bittencourt nos conta com sua música.

Jacob foi um pai que serviu de inspiração a um grande filho.

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