quinta-feira, 9 de dezembro de 2010

CRÔNICA DA SAUDADE - 09/12/2010



UM LAGO ENCANTADO


Mário Lago foi um dos mais autênticos radialistas que já conheci. Já famoso como compositor, poeta, escritor, teatrólogo e ator, ele se vangloriava de só se sentir em casa, realmente, quando estava ali, nos estúdios da Rádio Nacional do Rio de Janeiro, ao lado dos colegas de profissão, como pude vê-lo, no início dos anos 60, preparando-se para gravar um dos capítulos de mais uma de suas famosas novelas radiofônicas. Com aquele seu jeitão de filosófo e de profeta, costumava dizer: O meu orgulho é ser radialista.

Pertencente à uma família de músicos, Mário Lago não tinha como não ser um grande e talentoso compositor. Filho do maestro Antonio Lago, Mário nasceu no Rio de Janeiro, no dia 26 de novembro de 1911. Seus avós, tanto o materno Giuseppe Croccia, quanto o paterno, José Lago, eram músicos. Ambos tiveram grande influência na trajetória de vida de um dos mais consagrados compositores da música popular brasileira.

No dia 26 de novembro, em todo o Brasil – quando Mário, se estivesse vivo, completaria 99 anos – ninguém verá ou ouvirá um único registro em jornais, revistas, emissoras de televisão ou de rádio, a respeito de uma data tão importante, que não deveria jamais ser esquecida, principalmente pelos veículos que tanto lhe devem , como a Rede Globo.

Era advogado, mas praticamente não exerceu a profissão, preferindo escrever para o então florescente teatro-de-revistas, onde produziu peças de sucesso, tornando-se, ao mesmo tempo, um excelente compositor e um ator genial, tendo se tornado um dos mais renomados galãs do teatro de comédia brasileiro nos anos 40. Quem pode negar seu talento invulgar como compositor, quando lembramos alguns dos seus maiores sucessos, como Ai que saudade da Amélia e Atire a Primeira Pedra, que Ataulfo Alves imortalizou ? E como teria sido o carnaval brasileiro sem a sua Aurora, marchinha que ficou para sempre ? E o nosso cancioneiro romântico como teria ficado sem o fox Nada Além, sucesso nacional com Orlando Silva, além de outras paginais imortais na voz do “cantor das multidões”, como Dá-me Tuas Mãos e Número Um, ou aquele maravilhoso Devolve, interpretado por Carlos Galhardo ? E que dizer do samba-canção Fracasso, que se imortalizou na voz de Francisco Alves ? E aquele É Tão Gostoso, seu Moço, sucesso com Nora Ney ? E o belíssimo Rua Sem Sol, com Ângela Maria ?

Radiator e autor de programas radiofônicos de grande repercussão, Mário Lago foi um dos expoentes máximos da Rádio Nacional do Rio de Janeiro. Politicamente, no entanto, fez parte dos quadros do Partido Comunista Brasileiro por 50 anos e, por causa de sua intensa militância política, sofreu represálias durante a ditadura Vargas e a ditadura militar, tendo sido preso em várias ocasiões. A partir de 1966, passou a atuar, como ator, nas novelas da Rede Globo, onde se consagrou nacionalmente.

Morreu no dia 31 de maio de 2002, no Rio, mas a sua memória não deve ser esquecida: Mário Lago é uma daquelas pessoas que nasceram pra viver para sempre. Como um lago encantado. Ali. À nossa frente. Onde se possa admira-lo a todo instante, com suas águas calmas e serenas. Eternamente.

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