LÁGRIMAS DE MARÇO
A julgar pelos últimos e tristes acontecimentos, o mês de março, conhecido pela força das águas, graças às chuvas inesperadas e às enchentes que sempre atormentaram, todos os anos, as mais diversas regiões do nosso país, está querendo concorrer com o mês de agosto ( que rima com desgosto) em se tratando de perdas de vidas das mais significativas para o povo brasileiro.
Como
se não bastasse a morte do nosso Chico Anysio, o mestre do humor no rádio e na
televisão, que nos ensinou a enfrentar, sorrindo, as constantes dificulda-des
das nossas vidas, através dos muitos personagens famosos que soube criar para
tornar mais divertida a existência de todos nós, eis que chega uma outra
notícia que mais parece um complemento da primeira: o falecimento de Millor
Fernandes.
Quando a gente acaba de enxugar as lágrimas advindas da partida do nosso
Chico, que lá se foi para a eternidade, deixando em cada um de nós a lembrança
do seu humor fino e inesquecível, transmitido sempre através de um dos seus
famosos personagens, eis que nos abalamos novamente com o falecimento de Millor
Fernandes, nascido no dia 16 de agosto de 1923, no Rio de Janeiro, cidade onde
sempre viveu e onde se destacou, ao longo da sua vida, como cartunista,
humorista, dramaturgo, escritor e tradutor (impressionou a todos com suas traduções
brilhantes das peças de Shakespeare), e falecido, como o Brasil inteiro já
lamenta, na última terça-feira, 27 do corrente mês.
Qual
o cinqüentão ou cinquentona que não se divertia, todas as semanas, nas páginas
da revista “O Cruzeiro”, lendo o Pif-Paf,
assinado por este incrível Millor Fer-nades ?
Super-inteligente,
dotado de uma capacidade incrível de fazer humor, Millor tornou-se, sem dúvida,
uma das principais figuras da imprensa brasileira no século XX, obtendo grande
sucesso de crítica e de público em todas as áreas artísticas por onde se
aven-turou, como na ilustração, na tradução e na dramaturgia, tendo sido, por
conta disso, várias vezes premiado.
Testemunhei.
um dia, lá no Rio, nos estúdios da TV Globo, um encontro inusitado, onde Chico
Anísio e Millor Fernandes se encontraram (não sei se pela primeira vez),
participando de um evento jornalístico.
Embora
a cena não despertasse a devida atenção, ali estavam, lado a lado, dois dos
maiores humoristas brasileiros, que haveriam, ao longo dos anos, cada um a seu
modo, transmitir, ao povo brasileiro, o riso que faltava, para que todos nós,
que sempre nos divertimos com o Pif-Paf
e com a Escolinha do Professor Raimundo,
pudéssemos ficar devida-mente vacinados contra as mazelas que nos atingem todos
os dias quando assistimos aos pro-gramas jornalísticos das emissoras de TV.
Parece
que Deus teve pena de todos nós e manteve, ao nosso lado, por muito tempo, dois
expoentes do humor e da alegria.http://www.youtube.com/watch?v=pGBb8sm-RNw