quinta-feira, 1 de março de 2012

CRÔNICA DA SAUDADE - 01/03/2012


Assis Valente e Carmen Miranda

VALENTE E GENIAL

         Foi em meados dos anos 50, quando comecei a trabalhar em rádio, lá em Campina Grande, na antiga Rádio Borborema, que tive oportunidade de divulgar o ritmo musical brasileiro que mais me fascinava, que era o samba, através de uma série de programas encaixados na programação daquela emissora, todos eles enfocando os nossos mais conhecidos sambistas.

        O programa Epopéia do Samba, apresentado, aos domingos, à noite, focalizava sempre um grande compositor do nosso ritmo mais popular, como é o caso de Ary Barroso, Adoniran Barbosa e tantos outros, que faziam o sucesso daquela grande atração da Borborema.

         Fã incondicional de Assis Valente, resolvi focaliza-lo no programa do dia 08 de março de 1958, um domingo, passando a escrever os textos que seriam lidos, depois, por Hilton Mota, um dos mais notáveis locutores que já conheci. Falei do seu nascimento, no dia 19 de março de 1911, entre Bom Jardim e Patiota, na Bahia, durante uma viagem de sua mãe. Falei também de como ele foi tirado dos seus pais, sendo entregue à uma família para ser criado. Especialista em prótese dentária, viveu em Salvador até 1927, ano em que viajou para o Rio de Janeiro e lá ficou para sempre.

       Foi no início dos anos 30, que começou a compor sambas, graças ao incentivo de Heitor dos Prazeres, de quem se tornou grande amigo. Com Carmen Miranda, de quem se dizia apaixonado, lançou alguns dos seus maiores sucessos, Good-bye, Etcetera, a marchinha Recadinho de Papai Noel, Por Causa de você, Isso não se atura e tantos outros. Apesar dos sambas que marcaram época, como Este Samba Foi feito pra Você, com Mário Reis, Já é de Madrugada, com Orlando Silva, Brasil Pandeiro, com os Anjos do Inferno, Boneca de Pano, com Quatro Ases e um Coringa, e Camisa Listrada, gravado, em 69, por Maria Bethânia, Assis Valente ainda compôs marchinhas maravilhosas como Boas Festas – verdadeiro hino natalino em nosso país -, Cai,Cai,Balão, gravada por Aurora Miranda, e muitas outras composições que jamais serão esquecidas.

           Sempre enfrentando apertos financeiros, tentou o suicídio por três vezes: na primeira, atirou-se do alto do Corcovado e, milagrosamente, ficou preso a um galho de árvore, sendo salvo por um equipe do Corpo de Bombeiros; na segunda, cortou os pulsos com uma lâmina de barbear e, no hospital, mais uma vez, escapou; na terceira e última vez, tomou formicida com guaraná, em um banco da praia do Russel, no Rio, e, sem socorro, morreu.

         Foi esta a notícia que me pegou de surpresa, há exatos 54 anos, no dia 06 de março de 1958, quando, sentado á máquina, finalizava o script do Epopéia do Samba em homenagem a Assis Valente, enquanto ouvia, na discoteca, o Camisa Listrada.

           Nada mudei no script. Só acrescentei, no final, o meu dolorido “adeus” ao Assis. Valente no nome e na vida. Que daqui se foi na hora que assim bem quis.

                                            http://www.youtube.com/watch?v=00Z2Zg_h6uw&feature=fvsr                                                                         

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