Assis Valente e Carmen Miranda
VALENTE E GENIAL
Foi em meados dos anos 50, quando comecei a trabalhar em rádio, lá em Campina Grande, na antiga Rádio Borborema, que tive oportunidade de divulgar o ritmo musical brasileiro que mais me fascinava, que era o samba, através de uma série de programas encaixados na programação daquela emissora, todos eles enfocando os nossos mais conhecidos sambistas.
O
programa Epopéia do Samba, apresentado, aos domingos, à noite,
focalizava sempre um grande compositor do nosso ritmo mais popular, como é o
caso de Ary Barroso, Adoniran Barbosa e tantos outros, que faziam o sucesso
daquela grande atração da Borborema.
Fã
incondicional de Assis Valente, resolvi focaliza-lo no programa do dia 08 de
março de 1958, um domingo, passando a escrever os textos que seriam lidos,
depois, por Hilton Mota, um dos mais notáveis locutores que já conheci. Falei
do seu nascimento, no dia 19 de março de 1911, entre Bom Jardim e Patiota, na Bahia,
durante uma viagem de sua mãe. Falei também de como ele foi tirado dos seus
pais, sendo entregue à uma família para ser criado. Especialista em prótese
dentária, viveu em Salvador até 1927, ano em que viajou para o Rio de Janeiro e
lá ficou para sempre.
Foi
no início dos anos 30, que começou a compor sambas, graças ao incentivo de
Heitor dos Prazeres, de quem se tornou grande amigo. Com Carmen Miranda, de
quem se dizia apaixonado, lançou alguns dos seus maiores sucessos, Good-bye,
Etcetera, a marchinha Recadinho de Papai Noel, Por Causa de
você, Isso não se atura e tantos outros. Apesar dos sambas que
marcaram época, como Este Samba Foi feito pra Você, com Mário Reis, Já
é de Madrugada, com Orlando Silva, Brasil Pandeiro, com os Anjos do
Inferno, Boneca de Pano, com Quatro Ases e um Coringa, e Camisa
Listrada, gravado, em 69, por Maria Bethânia, Assis Valente ainda
compôs marchinhas maravilhosas como Boas Festas – verdadeiro hino
natalino em nosso país -, Cai,Cai,Balão, gravada por Aurora Miranda, e muitas
outras composições que jamais serão esquecidas.
Sempre
enfrentando apertos financeiros, tentou o suicídio por três vezes: na primeira,
atirou-se do alto do Corcovado e, milagrosamente, ficou preso a um galho de
árvore, sendo salvo por um equipe do Corpo de Bombeiros; na segunda, cortou os
pulsos com uma lâmina de barbear e, no hospital, mais uma vez, escapou; na
terceira e última vez, tomou formicida com guaraná, em um banco da praia do
Russel, no Rio, e, sem socorro, morreu.
Foi
esta a notícia que me pegou de surpresa, há exatos 54 anos, no dia 06 de março
de 1958, quando, sentado á máquina, finalizava o script do Epopéia do
Samba em homenagem a Assis Valente, enquanto ouvia, na discoteca, o Camisa
Listrada.
Nada
mudei no script. Só acrescentei, no final, o meu dolorido “adeus” ao
Assis. Valente no nome e na vida. Que daqui se foi na hora que assim bem quis.
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