domingo, 8 de julho de 2012

CRÔNICA DA SAUDADE - 08/07/2012

                                                

                    RONALDO

                  No dia de ontem, no velório do poeta e ex-governador Ronaldo Cunha Lima, no Palácio da Redenção, parei, por pouco tempo, ante o caixão, observei o seu rosto pálido e sem vida e, num relance, dona Glória e seus filhos, ali, ao lado, em prantos, e não tive como impedir que as lágrimas chegassem aos meus olhos e uma imensa tristeza invadisse o meu coração.
                     Naquele momento, vi-me, criança ainda, na alegria dos meus 11 anos, lá na rua Tiradentes, em Campina Grande, onde fui morar, ao lado da minha mãe e do meu irmão, vindo de João Pessoa, minha terra natal, após a morte do meu pai. Na mesma rua, na esquina com a Otacílio de Albuquerque, havia um terreno baldio, repleto de pés de carrapateira, e logo em seguida a casa do Major Cunha Lima e dona Nenzinha, onde, na base da baleadeira, fiz amizade com Ronaldo e com Fernando, dois dos filhos do casal, já que era com eles que saia prá caçar, no Sítio de Zé Rodrigues, que ficava ali pertinho, depois da rua Solon de Lucena.
                     Enquanto me afastava e dava um abraço na minha amiga Sonia Gemano, que lá estava, também envolta numa tristeza idêntica, fui caminhando pelos salões do Palácio e revivendo, também, os bons momentos da juventude, quando o que mais nos unia era a música e a poesia, presente no Clube do Bacurau, que reunia os seresteiros da cidade, e no programa A Hora Poética Campinense, que ia ao ar, diariamente, a partir das 5 da tarde, na Rádio Caturité, congregando os amantes da poesia, como Ronaldo, Orlando Tejo, Eilzo Matos, Eduardo Ramires e tantos outros, afora os nossos muitos encontros na Sorveteria Flórida, ali, embaixo da antiga Rádio Borborema, onde trabalhei por tantos anos.
                      As lembranças não deixavam de me envolver e voltei, sem dúvida, aos caminhos que Ronaldo percorreu ao entrar política, sendo cassado pela revolução e, no tempo devido, retornando à sua Campina Grande para, mais uma vez, eleger-se prefeito e demonstrar, ao povo campinense, todo o amor que sempre sentiu pela cidade que escolheu para viver, embora tenha nascido em Guarabira.
                      Os laços da nossa amizade foram mantidos ao longo das campanhas políticas das quais participei, especialmente nos anos 90, quando se elegeu Governador, escolhendo-me, à época, para assumir a Secretaria de Comunicação Social, onde, graças as constantes viagens pelos municípios paraibanos, consolidamos, mais ainda, a nossa parceria.
                      Como senador, fui chamado a assumir uma assessoria parlamentar lá em Brasília e, mais uma vez, conseguimos manter firme a amizade de sempre, que me levou, mais tarde, a participar da campanha de Cássio Cunha Lima para governador, tendo ocupado alguns cargos em sua administração.
                      Foi a partir de um AVC que o acometeu, que Ronaldo, embora tenha mantido acêsa a sua veia poética, escrevendo alguns dos seus mais belos e inspirados poemas, passou a sentir-se acorrentado, já que lhe faltavam os movimentos essenciais, preso à uma cadeira de rodas.
                      Vítima de um câncer no pulmão, Ronaldo Cunha Lima veio a falecer, no dia de ontem, e será sepultado, hoje, com grande participação popular, na cidade que escolheu como berço e onde deixou tantos amigos: Campina Grande.
                      Desde ontem o céu está mais azul e a lua cheia está muito mais bela, já que o poeta deve estar por lá, entre as nuvens, declamando seus poemas.
                      Ronaldo, pelo que foi e por tudo o que fez em favor da sua terra,  jamais será esquecido.
                                       
    
                                                                         

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