RONALDO
No dia de ontem, no velório do poeta e
ex-governador Ronaldo Cunha Lima, no Palácio da Redenção, parei, por pouco
tempo, ante o caixão, observei o seu rosto pálido e sem vida e, num relance,
dona Glória e seus filhos, ali, ao lado, em prantos, e não tive como impedir
que as lágrimas chegassem aos meus olhos e uma imensa tristeza invadisse o meu
coração.
Naquele
momento, vi-me, criança ainda, na alegria dos meus 11 anos, lá na rua
Tiradentes, em Campina Grande, onde fui morar, ao lado da minha mãe e do meu irmão, vindo de João
Pessoa, minha terra natal, após a morte do meu pai. Na mesma rua, na esquina
com a Otacílio de Albuquerque, havia um terreno baldio, repleto de pés de
carrapateira, e logo em seguida a casa do Major Cunha Lima e dona Nenzinha,
onde, na base da baleadeira, fiz
amizade com Ronaldo e com Fernando, dois dos filhos do casal, já que era com
eles que saia prá caçar, no Sítio de
Zé Rodrigues, que ficava ali pertinho, depois da rua Solon de Lucena.
Enquanto
me afastava e dava um abraço na minha amiga Sonia Gemano, que lá estava, também
envolta numa tristeza idêntica, fui caminhando pelos salões do Palácio e
revivendo, também, os bons momentos da juventude, quando o que mais nos unia
era a música e a poesia, presente no Clube
do Bacurau, que reunia os seresteiros da cidade, e no programa A Hora Poética Campinense, que ia ao ar,
diariamente, a partir das 5 da tarde, na Rádio Caturité, congregando os amantes
da poesia, como Ronaldo, Orlando Tejo, Eilzo Matos, Eduardo Ramires e tantos
outros, afora os nossos muitos encontros na Sorveteria Flórida, ali, embaixo da
antiga Rádio Borborema, onde trabalhei por tantos anos.
As
lembranças não deixavam de me envolver e voltei, sem dúvida, aos caminhos que
Ronaldo percorreu ao entrar política, sendo cassado pela revolução e, no tempo
devido, retornando à sua Campina Grande para, mais uma vez, eleger-se prefeito
e demonstrar, ao povo campinense, todo o amor que sempre sentiu pela cidade que
escolheu para viver, embora tenha nascido em Guarabira.
Os
laços da nossa amizade foram mantidos ao longo das campanhas políticas das
quais participei, especialmente nos anos 90, quando se elegeu Governador,
escolhendo-me, à época, para assumir a Secretaria de Comunicação Social, onde,
graças as constantes viagens pelos municípios paraibanos, consolidamos, mais
ainda, a nossa parceria.
Como
senador, fui chamado a assumir uma assessoria parlamentar lá em Brasília e, mais uma vez,
conseguimos manter firme a amizade de sempre, que me levou, mais tarde, a
participar da campanha de Cássio Cunha Lima para governador, tendo ocupado
alguns cargos em sua administração.
Foi
a partir de um AVC que o acometeu, que Ronaldo, embora tenha mantido acêsa a
sua veia poética, escrevendo alguns dos seus mais belos e inspirados poemas,
passou a sentir-se acorrentado, já que lhe faltavam os movimentos essenciais,
preso à uma cadeira de rodas.
Vítima
de um câncer no pulmão, Ronaldo Cunha Lima veio a falecer, no dia de ontem, e
será sepultado, hoje, com grande participação popular, na cidade que escolheu
como berço e onde deixou tantos amigos: Campina Grande.
Desde
ontem o céu está mais azul e a lua cheia está muito mais bela, já que o poeta
deve estar por lá, entre as nuvens, declamando seus poemas.
Ronaldo,
pelo que foi e por tudo o que fez em favor da sua terra, jamais será esquecido.
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