OBRIGADO,
HQPB.
(Palavras
proferidas ao receber o Troféu HQPB)
Muitas são as pessoas que me interpelam
ao vivo ou através de telefone, carta, e-mail, etc., lembrando-me de toda uma
época feliz que vivi, entre os anos 50 e 60, na cidade de Campina Grande,
especialmente quanto ao período em que trabalhei na Rádio Borborema,
produzindo, naquela emissora, um seriado radiofônico, totalmente feito para
crianças e adolescentes, intitulado “As Aventuras do Flama”, que acabou se
tornando um grande sucesso junto ao público infanto-juvenil.
Agora,
com este prêmio que aqui recebo, neste V HQPB, sinto-me ainda mais lisonjeado,
já que a simples lembrança do meu nome trouxe de volta à minha memória um
emaranhado de fatos positi-vos inteiramente ligados a um dos períodos mais
festivos e vibrantes da minha existência
As
primeiras histórias do seriado “As Aventuras do Flama” foram divulgadas, na
Rádio Borborema, no início dos anos 60, no horário das 13.00 horas,
tornando-se, em bem pouco tempo, um verdadeiro campeão de audiência, mexendo
com a garotada de inúmeras cidades de toda a Paraíba, através das ondas curtas
e médias da emissora e graças, sem dúvida, em primeiro lugar, ao excelente
desempenho do cast de rádio-teatro, onde se destacavam
aplaudidos radiatores e radiatrizes, intérpretes, enfim, que
ainda hoje são lembrados com carinho, devido ao excelente trabalho que
realizaram nas mais diversas novelas da época.
Mesmo
sem querer aparecer ou arranjar mais trabalho para quem já tinha sobre os
ombros os encargos da Direção Artística da emissora, que mantinha na sua
programação, à época, diversas novelas, programas humorísticos e de auditorio,
além de um sem número de noticiários, resolvi que o papel do Flama ficaria a
meu cargo, cabendo à Edileusa Siqueira o de Eliana - a noiva do herói -, a
Benjamim Bley, o de Zico - o eterno companheiro do defensor da lei - e, para
complementar, o Comissário Laurence, que seria vivido por Ezequias Bernardo.
Com
o sucesso cada vez maior do seriado, a meninada da época comparecia à emissora,
querendo manter contato com o herói, já que, utilizando uma máscara, posei para
fotos, que eram entregues aos fãs, já devidamente autografadas pelo Flama, aos
sábados, no auditório da Borborema, quando ocorriam as reuniões do Clube do
Agente Secreto, oportunidade em que todos, de posse de uma carteira que os
identificavam como membro do citado clube, passavam a concorrer a sorteios
semanais e a ter direito a abatimento no preço dos ingressos dos demais
programas, especialmente no Clube Papai Noel, de Eraldo Cesar, aos domingos, pela
manhã.
Para
que se tenha uma idéia da audiência da novela, recebi, certo dia, em meu
gabinete de trabalho, uma visita inusitada: de repente, lá estavam, à minha
frente, querendo tratar de um mesmo assunto, os donos dos maiores colégios da
cidade, á época. Sabem qual era o assunto ? O horário da novela “As Aventuras
do Flama”. Segundo todos eles, a maioria das crianças estavam chegando
atrasadas aos colégios (cujo horário de entrada era de 13.00 horas), devido ao
seriado. Todos ficavam nas ruas, ouvindo a novela onde quer que existisse um
rádio e só então, após o término, é que seguiam para seus educandários, onde
chegavam, é claro, com atraso.
Havendo
bom senso de todos os lados, a direção da emissora acabou por concordar com a
mudança do horário para 17.00 horas, agradando a gre-gos e troianos.
Como
a garotada de então ouvia, também, através da Rádio Jornal do Comércio do
Recife, o seriado “Jerônimo, o herói do sertão”, e o referido herói passou a
ter uma revista em quadrinhos mensal a identificá-lo, publicada pela Rio
Gráfica Editora, todo mundo logo passou a exigir, nas reuniões semanais, que o
Flama também tivesse as suas aventuras divulgadas numa revista em quadrinhos.
Não
tinha outro jeito: passei a desenhar a história, bolei todo o esquema da
revista e, em bem pouco tempo, tudo já estava sendo preparado para ser impresso.
Os textos e clichês foram feitos nas oficinas do Diário da Borborema, órgão que
também pertencia aos Diários Associados, e a impressão, própriamente dita,
ficou a cargo da Gráfica Júlio Costa, que funcionava, à época, ao lado do
jornal. E foi assim, com alguns anúncios feitos de última hora para custear as
despesas, que a revista “As Aventuras do Flama” foi impressa e logo chegou às
bancas, no mês de março de 1963, tendo um lançamento especial, é claro, num
sábado, numa sessão do Clube do Agente Secreto, com o auditório da Rádio
Borborema superlotado.
Para
os fãs do Flama, a coisa, agora, estava completa: seu herói marcava presença na
Rádio Borborema, de segunda à sexta-feira, com suas aventuras e, mensalmente, lá
estava ele nas páginas de uma revista inteiramente sua, desenhada e escrita pelo
próprio autor do seriado , ali mesmo, em Campina Grande.
Sem
querer querendo, como todos sabem, a revista “As Aventuras do Flama” acabou se
tornando, na história dos quadrinhos em nosso país, a pri-meira do gênero a ser
impressa no norte e nordeste do Brasil.
Como
tive que me transferir para o Recife, em 1963, passando a ocupar o cargo de
Diretor Geral nos Diários Associados de Pernambuco, logo lá estava eu às voltas
com uma nova programação para a Rádio Clube de Pernambuco, a famosa PRA-8, onde
inclui, mais uma vez, em meio à tantas outras atrações, o seriado “As Aventuras
do Flama” que, lançado ao ar, logo se transformou em sucesso, mostrando que a
criançada é uma só em qualquer cidade do país. Ao retornar à Paraíba, três anos depois, tive a surpresa de
encontrar, em Campina Grande, a antiga Rádio Caturité, que pertencia à Diocesa,
em novas instalações, tendo à frente o meu amigo Stênio Lopes, que me fez um
convite para que melhorasse a programação da emissora com a inclusão de novas
atrações. Naquele ano em que fiquei à frente da Rádio Caturité (antes que os
Associados me levassem de volta ao ninho antigo), uma nova programação fez
sucesso na emissora, onde a garotada da época exigiu que o Flama retornasse à
sua terra natal. Foi assim, portanto, que o seriado “As Aventuras do Flama” passou a ser irradiado,
também, pela Caturité, conforme capítulo gravado e divulgado na internet, que
pode ser ouvido e relembrado por todos aqueles que ainda hoje sentem saudade do
seriado.
Foi
assim que tudo ocorreu num momento feliz da minha vida, quando, em plena
juventude, cuidava de tentar a realização de todos os meus sonhos.
E
o Flama, com seus mais de dois mil capítulos, fez parte, sem dúvida, não só da
minha história, mas da vida de milhares de crianças, que hoje, já adultos,
ainda recordam, com saudade, os festivos e eletrizantes episódios do mais
empolgante seriado da época.
A
todos os organizadores do V HQPB, especialmente a este incansável e talentoso
Janúncio Neto, criador do Made In PB, agradeço a lembrança do meu nome para
receber tão importante homenagem.
A
todos, muito obrigado.
Nós é que agradecemos, Sr. Deodato Borges. Homenageá-lo e o Flama foi uma alegria, uma honra e nosso dever!!!
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