segunda-feira, 10 de outubro de 2011

HOMENAGEM




            OBRIGADO, HQPB.
                         (Palavras proferidas ao receber o Troféu HQPB)


                        Muitas são as pessoas que me interpelam ao vivo ou através de telefone, carta, e-mail, etc., lembrando-me de toda uma época feliz que vivi, entre os anos 50 e 60, na cidade de Campina Grande, especialmente quanto ao período em que trabalhei na Rádio Borborema, produzindo, naquela emissora, um seriado radiofônico, totalmente feito para crianças e adolescentes, intitulado “As Aventuras do Flama”, que acabou se tornando um grande sucesso junto ao público infanto-juvenil.
                          Agora, com este prêmio que aqui recebo, neste V HQPB, sinto-me ainda mais lisonjeado, já que a simples lembrança do meu nome trouxe de volta à minha memória um emaranhado de fatos positi-vos inteiramente ligados a um dos períodos mais festivos e vibrantes da minha existência
                   As primeiras histórias do seriado “As Aventuras do Flama” foram divulgadas, na Rádio Borborema, no início dos anos 60, no horário das 13.00 horas, tornando-se, em bem pouco tempo, um verdadeiro campeão de audiência, mexendo com a garotada de inúmeras cidades de toda a Paraíba, através das ondas curtas e médias da emissora e graças, sem dúvida, em primeiro lugar, ao excelente desempenho do cast de rádio-teatro, onde se destacavam aplaudidos radiatores e radiatrizes, intérpretes, enfim, que ainda hoje são lembrados com carinho, devido ao excelente trabalho que realizaram nas mais diversas novelas da época.
                        Mesmo sem querer aparecer ou arranjar mais trabalho para quem já tinha sobre os ombros os encargos da Direção Artística da emissora, que mantinha na sua programação, à época, diversas novelas, programas humorísticos e de auditorio, além de um sem número de noticiários, resolvi que o papel do Flama ficaria a meu cargo, cabendo à Edileusa Siqueira o de Eliana - a noiva do herói -, a Benjamim Bley, o de Zico - o eterno companheiro do defensor da lei - e, para complementar, o Comissário Laurence, que seria vivido por Ezequias Bernardo.
                    Com o sucesso cada vez maior do seriado, a meninada da época comparecia à emissora, querendo manter contato com o herói, já que, utilizando uma máscara, posei para fotos, que eram entregues aos fãs, já devidamente autografadas pelo Flama, aos sábados, no auditório da Borborema, quando ocorriam as reuniões do Clube do Agente Secreto, oportunidade em que todos, de posse de uma carteira que os identificavam como membro do citado clube, passavam a concorrer a sorteios semanais e a ter direito a abatimento no preço dos ingressos dos demais programas, especialmente no Clube Papai Noel, de Eraldo Cesar, aos domingos, pela manhã.
                     Para que se tenha uma idéia da audiência da novela, recebi, certo dia, em meu gabinete de trabalho, uma visita inusitada: de repente, lá estavam, à minha frente, querendo tratar de um mesmo assunto, os donos dos maiores colégios da cidade, á época. Sabem qual era o assunto ? O horário da novela “As Aventuras do Flama”. Segundo todos eles, a maioria das crianças estavam chegando atrasadas aos colégios (cujo horário de entrada era de 13.00 horas), devido ao seriado. Todos ficavam nas ruas, ouvindo a novela onde quer que existisse um rádio e só então, após o término, é que seguiam para seus educandários, onde chegavam, é claro, com atraso.
                  Havendo bom senso de todos os lados, a direção da emissora acabou por concordar com a mudança do horário para 17.00 horas, agradando a gre-gos e troianos.
                    Como a garotada de então ouvia, também, através da Rádio Jornal do Comércio do Recife, o seriado “Jerônimo, o herói do sertão”, e o referido herói passou a ter uma revista em quadrinhos mensal a identificá-lo, publicada pela Rio Gráfica Editora, todo mundo logo passou a exigir, nas reuniões semanais, que o Flama também tivesse as suas aventuras divulgadas numa revista em quadrinhos.
                     Não tinha outro jeito: passei a desenhar a história, bolei todo o esquema da revista e, em bem pouco tempo, tudo já estava sendo preparado para ser impresso. Os textos e clichês foram feitos nas oficinas do Diário da Borborema, órgão que também pertencia aos Diários Associados, e a impressão, própriamente dita, ficou a cargo da Gráfica Júlio Costa, que funcionava, à época, ao lado do jornal. E foi assim, com alguns anúncios feitos de última hora para custear as despesas, que a revista “As Aventuras do Flama” foi impressa e logo chegou às bancas, no mês de março de 1963, tendo um lançamento especial, é claro, num sábado, numa sessão do Clube do Agente Secreto, com o auditório da Rádio Borborema superlotado.
                     Para os fãs do Flama, a coisa, agora, estava completa: seu herói marcava presença na Rádio Borborema, de segunda à sexta-feira, com suas aventuras e, mensalmente, lá estava ele nas páginas de uma revista inteiramente sua, desenhada e escrita pelo próprio autor do seriado , ali mesmo, em Campina Grande.
                 Sem querer querendo, como todos sabem, a revista “As Aventuras do Flama” acabou se tornando, na história dos quadrinhos em nosso país, a pri-meira do gênero a ser impressa no norte e nordeste do Brasil.
                      Como tive que me transferir para o Recife, em 1963, passando a ocupar o cargo de Diretor Geral nos Diários Associados de Pernambuco, logo lá estava eu às voltas com uma nova programação para a Rádio Clube de Pernambuco, a famosa PRA-8, onde inclui, mais uma vez, em meio à tantas outras atrações, o seriado “As Aventuras do Flama” que, lançado ao ar, logo se transformou em sucesso, mostrando que a criançada é uma só em qualquer cidade do país. Ao retornar à  Paraíba, três anos depois, tive a surpresa de encontrar, em Campina Grande, a antiga Rádio Caturité, que pertencia à Diocesa, em novas instalações, tendo à frente o meu amigo Stênio Lopes, que me fez um convite para que melhorasse a programação da emissora com a inclusão de novas atrações. Naquele ano em que fiquei à frente da Rádio Caturité (antes que os Associados me levassem de volta ao ninho antigo), uma nova programação fez sucesso na emissora, onde a garotada da época exigiu que o Flama retornasse à sua terra natal. Foi assim, portanto, que o seriado “As  Aventuras do Flama” passou a ser irradiado, também, pela Caturité, conforme capítulo gravado e divulgado na internet, que pode ser ouvido e relembrado por todos aqueles que ainda hoje sentem saudade do seriado.
                       Foi assim que tudo ocorreu num momento feliz da minha vida, quando, em plena juventude, cuidava de tentar a realização de todos os meus sonhos.
                   E o Flama, com seus mais de dois mil capítulos, fez parte, sem dúvida, não só da minha história, mas da vida de milhares de crianças, que hoje, já adultos, ainda recordam, com saudade, os festivos e eletrizantes episódios do mais empolgante seriado da época.
                      A todos os organizadores do V HQPB, especialmente a este incansável e talentoso Janúncio Neto, criador do Made In PB, agradeço a lembrança do meu nome para receber tão importante homenagem.
                       A todos, muito obrigado.





Um comentário:

  1. Nós é que agradecemos, Sr. Deodato Borges. Homenageá-lo e o Flama foi uma alegria, uma honra e nosso dever!!!

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