UM SAMBA DIFERENTE
No ano de 1999, ao chegar ao Rio
de Janeiro, fui informado por amigos, que sabiam da minha admiração por Ataulfo
Alves, dos show que estavam sendo realizados no Centro Cultural Banco do
Brasil, comemorando os 90 anos de nascimento de um dos maiores sambistas da
nossa terra. Á época, foram realizados quatro shows, dos quais só assisti ao
último deles – Na Cadência do Samba -, que contou com as presenças de
Elza Soares e Roberto Silva, que deram conta do recado e receberam os aplausos
entusiasmados da platéia.
Foi
com esse título – Na Cadência do Samba – que mantive vários programas no
ar, nas diversas emissoras de rádio por onde andei, sempre homenageando a
música de Ataulfo... os seus sucessos... aqueles sambas com um gingado
diferente que só ele sabia fazer... e que ficaram para sempre na história da
nossa música popular.
Nascido
na Fazenda Cachoeira, no município de Mirai, na Zona da Mata de Minas Gerais, no
dia 2 de maio de 1909, Ataulfo Alves de Sousa era filho de Severino de Sousa e
Matilde de Jesús, sendo que o pai – que tinha o apelido de Capitão sem
nunca ter sido militar – era um repentista, tocador de viola e de sanfona,
bastante conhecido em toda a região. Aos oito anos, Ataulfo já gostava de
improvisar com o pai, até que o perdeu para sempre, dois anos depois. Para
ajudar a mãe no sustento da casa e dos seus seis irmãos, o menino Ataulfo foi
leiteiro, condutor de bois, carregador de malas, menino de recados, entregador
de marmitas, engraxate e tudo o que aparecesse pela frente. Em 1937, apenas com
18 anos, transferiu-se para o Rio, acompanhando um médico, amigo da família,
passando a morar em Rio Comprido, onde passou a freqüentar rodas de samba.
Quando trabalhava, como prático de farmácia, na Drogaria do Povo, teve tempo
pra organizar um grupo musical, onde tocava violão, cavaquinho ou bandolim. Foi
quando Maria do Carmo, amiga das filhas do seu patrão, que vivia dizendo que um
dia seria uma grande artista. Ataulfo achava graça com aquela história. Só que,
mais tarde, aquela Maria seria conhecida internacionalmente com o nome de
Carmen Miranda. Mais tarde, os dois voltariam a se encontrar na RCA Victor e
Carmen gravou, de Ataulfo, Tempo Perdido. Em 1935, gravou seu primeiro
sucesso: Saudades do Meu Barracão, com Floriano Belham, vindo, em
seguida, Menina que Pinta o Sete, com o Bando da Lua. Em 1937, Carlos
Galhardo gravou, pela Odeon, a valsa A Você, assim como o samba-canção Quanta
Tristeza, uma consagração. Nos anos
40 e 50, Ataulfo foi um dos mais talentosos compositores, criando jóias
como Leva Meu Samba, Ai, que Saudades da Amélia, Atire a Primeira Pedra,
Nunca Mais, Infidelidade, Vida da Minha Vida, Errei Sim, Pois É, Atire a
Primeira Pedra, Leva meu Samba, Meus Tempos de Criança, Vai, Vai Mesmo, Na
Cadência do Samba, Laranja Madura e muitas outras composições que ninguém
esquece.
Ao
falecer, no dia 20 de abril de 1969, há 43 anos, no Rio de Janeiro que tanto
amava, vítima de uma úlcera no duodeno que o acompanhou por quase 20 anos,
Ataulfo Alves, o menino de Mirai, deixou a música brasileira mais pobre e o
nosso principal ritmo perdeu um pouco daquele balanço que só mesmo ele sabia como
colocar.
Foi a partir dai que o nosso samba tomou conta
do céu.
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