sexta-feira, 30 de dezembro de 2011

A CRÔNICA DO DIA - 31/12/2012




ANO VAI, ANO VEM 


                  Sempre que a gente comemora, com muita esperança e alegria, a chegada de um novo ano, não se pode deixar de dizer adeus ao ano que vai embora, agradecendo a Deus por tudo aquilo de bom que foi possível realizar, ao longo dos 365 dias que já não existem mais, e que agora fazem parte do nosso passado.

                Como todos os anos das nossas vidas, 2011 foi repleto de bons e maus acontecimentos, que ora nos fizeram sorrir de felicidade e ora nos deixaram na mais profunda tristeza, já que as perdas foram bem mais significativas do que os ganhos obtidos ao longo do ano que hoje chega ao fim.

                  O Brasil inteiro lamentou as mortes de Lily Marinho, logo no dia 5 de janeiro, viúva de Roberto Marinho, o criador da Rede Globo; José de Alencar, industrial, ex-vice-presidente da República e uma figura querida e admirada por muitos; Itamar Franco, ex-Presidente da República, que deu sua contribuição ao crescimento do país; e Steve Jobs, que criou um mundo digital mais criativo para todos nós; além de geniais artistas, como John Herbert, Georgia Gomide, Nildo Parente, Elizabeth Taylor (quem jamais vai esquecer a eterna diva da sétima arte ?), Ami Jade Winehouse, Ítalo Rossi, Wilza Carla, Marcos Plonka e Adriano Reis, que ficaram famosos por suas interpretações, tanto na música como no cinema, tanto nos programas humorísticos como nas novelas de televisão, e resolveram, agora, sem qualquer aviso prévio, atuar nos palcos da eternidade. E que dizer do doutor Sócrates, que deu vida e criatividade ao nosso futebol, mas não conseguiu driblar a morte no último lance que teve pela frente ?  

                Foram muitas as vidas luminosas que se apagaram ao longo do ano que chegou ao fim, deixando o mundo, como um todo, um pouco mais sombrio.

          Como não lamentar a morte dos amigos mais próximos... dos parentes que se foram... dos companheiros que, até um dia desses, estavam presentes em nossas vidas, nos bate-papos de mesa de bar, no dia-a-dia e, de repente, se foram sem dizer adeus ?

             Na verdade, todos os anos das nossas vidas nos dão a impressão de que são feitos mais de tristezas que de alegrias. E sabem por que ? Porque justamente são os fatos mais marcantes aqueles que nos enchem tristeza ... que mais ferem os nossos corações... que mais nos fazem chorar e sofrer... e que, por isso mesmo, são os que jamais serão esquecidos, marcando para sempre as nossas vidas.

              O ano de 2011 foi muito bom, em termos de perdas vidas huma-nas, para a Paraíba, já que pouco ou quase nada tivemos a lamentar, mas o ano, em si, com relação ao desenvolvimento do estado, foi um dos piores dos últimos tempos.

                  Vamos agradecer a Deus por todos os frutos que conseguimos colher no ano que termina.

                  Que venha um feliz 2012 para todos nós.
                                                                      

quinta-feira, 22 de dezembro de 2011

CRÔNICA DO NATAL - dezembro 2011


CANTO DE NATAL



                Os povos de todo o mundo costumam comemorar, no final de cada ano, duas datas verdadeiramente significativas para a humanidade: o nascimento do Cristo, que é celebrado no dia 25 de dezembro – Dia de Natal -, e a Festa de Ano Novo, normalmente festejada na madrugada do primeiro dia de janeiro, quando, em várias nações dos diversos continentes, milhões de pessoas participam de uma verdadeira confraternização, saudando, com  muita alegria, a chegada de um novo período de 365 dias no calendário que rege as nossas vidas.

                     Embora os festejos que ocorrem em ambas as datas se equivalam em entusiasmo, beleza e intensas demonstrações de fé e de amizade, o Natal – especialmente à noite, quando todas as famílias se reúnem em seus lares para saudar o nascimento do Cristo -, representa, sem dúvida, um dos eventos que mais deixam transparecer a força da religião católica em quase todos os países do mundo.

                      Diferenciando-se dos festejos de fim-de-ano, quando a chegada de um novo ciclo em nossas vidas é comemorado com bebidas, fogos de artifício, música e muitos festejos mundanos, as comemorações de Natal, que ocorrem principalmente à noite, em todos os lares, costumam reunir famílias, em volta de uma mesa, para a ceia natalina, onde as orações mais puras se elevam aos céus e todos se cumprimentam, entre si, numa grandiosa manifestação de paz e amor.

                     O que existe verdadeiramente, nessas confraternizações, que se repetem, todos os anos, nas casas de milhões de famílias católicas em todo o mundo, é um verdadeiro hino de amor... um canto de Natal... um poema de paz que fala aos corações de todos os presentes... uma comemoração, enfim, que serve para solidificar cada vez mais os laços familiares que teimam em se desfazer com o passar do tempo.

                     No seu poema “O Natal Que Eu Quero”, o poeta Luiz Carlos Amorim diz tudo o que a gente está querendo dizer:

                    - Quero o Natal completo e por inteiro, verdadeiro;/ quero o Natal pulsando em mim e em todo o ser;/ quero o Natal nos olhos, como luz a colorir a vida e a semear a paz;/ quero o Natal nas mãos: carinho a segurar ternura; /quero o Natal nos lábios: canção a propagar a fé;/ quero o Natal no coração, multiplicando amor: presente maior que posso ter.

                     São esses os sentimentos que devem tomar conta de todos nós nesta noite de Natal, quando a história do filho de Deus se torna cada vez mais presente em nossos corações, iluminando, com a luz divina, todos os caminhos  que nos levam ao futuro incerto, aonde só poderemos chegar, um dia, guiados pelas mãos do Cristo.

                       O menino está chegando... vamos saudá-lo com muita alegria !

                                  

terça-feira, 20 de dezembro de 2011

CRÔNICA DA SAUDADE - 28/12/2012



O TEMPO E O VENTO


    No ano de 2005, o Brasil inteiro comemorou, mas não com o brilho e a intensidade que o acontecimento merecia, o centenário de nascimento de um dos mais conhecidos e respeitados escritores do século XX, autor de obras que ficaram para sempre integradas à história da literatura brasileira de ficção, onde poucos conseguiram se destacar nacionalmente.
     Nascido no dia 17 de dezembro 1905, Érico Lopes Veríssimo veio à luz na cidade de Cruz Alta, no Rio Grande do Sul, tendo, como pais, o casal Sebastião e Abegahy. Com apenas 4 anos, o pequeno Érico quase veio a falecer, vítima de uma meningite e uma broncopneumonia intensa, escapando graças a um tratamento sério realizado em Porto Alegre. Aos 13 anos, gostava de estudar no Colégio Elementar Venâncio Aires, assistia aulas particulares com a professora Margarida Pardelhas e, nas horas vagas, ou ia ao Cinema Ideal ou ficava na Farmácia Brasileira, do seu pai, onde lia autores nacionais, como Coelho Neto, Aluisio Azevedo, Joaquim Manoel de Macedo, Afrânio Peixoto e Afonso Arinos, além dos estrangeiros Walter Scott, Tolstoi, Eça de Queiroz, Emile Zola e Dostoievski. O jovem Veríssimo já mostrava pra que veio, destacando-se, no colégio Cruzeiro do Sul, onde estudava no internato, nas aulas de literatura, inglês, francês e no estudo da Bíblia. Depois de trabalhar no Banco do Comércio, em Cruz Alta, o nosso futuro escritor acabou como sócio da Pharmacia Central, naquela cidade, em 1926, onde, além das suas atividades como boticário, dava aulas particulares de literatura e inglês.
    Foi na revista mensal Cruz Alta em Revista, que Érico Veríssimo, mesmo a contragosto, publicou os seus primeiros contos, como Um Conto de Natal, Ladrão de Gado e a Tragédia de um Homem Gordo. A partir de 1930, passou a residir em Porto Alegre, disposto a viver dos seus escritos, tendo publicado, como diretor da Revista do Globo, sua primeira obra: Fantoches, uma coletânea de histórias na forma de peças de teatro. Foi também pela Globo que publicou, em seguida, o romance Clarissa, o ficção-científica Viagem à Aurora do Mundo e o A Volta do Gato Preto. Em 1947, começou a escrever a sua obra máxima: O Tempo e o Vento, previsto para ficar com cerca de 800 páginas, acabou ficando com quase duas mil e quinhentas páginas, sendo transformado numa trilogia, envolvendo O Retrato e O Arquipélago, considerado. uma obra-prima. Em 1971, publica o livro Incidente em Antares e, a partir de 1976, começa a escrever, sob o título Solo de Clarineta, as suas memórias, editando o primeiro volume em 1973.
     Além de tudo o que fez por nossa literatura, ainda nos deixou, dando continuidade à sua obra, o seu filho Luiz Fernando Veríssimo, um dos mais prolíferos e bem humorados escritores brasileiros, autor, dentre outras obras, do Homem Nu, O Analista de Bagé, Sexo na Cabeça, além das impagáveis aventuras do detetive Ed Mort..
      Tendo falecido, vítima de um enfarte, no dia 28 de novembro de 1975, há 29 anos exatos, impedindo-o de completar a sua autobiografia, Érico Veríssimo merece, ainda hoje, o reconhecimento e a saudade do povo brasileiro.
       O que o vento não leva, o tempo eterniza. 

       http://www.fraseseproverbios.com/frases-de-erico-verissimo.php                                                                       

quarta-feira, 14 de dezembro de 2011

CRÔNICA DA SAUDADE - 14/12/2011



TOM MAIOR
       
            No dia 8 de dezembro de 2011, especialmente no Brasil e em alguns outros países, como os Estados Unidos, onde viveu e atuou por muitos anos, milhares de pessoas lembraram, sem dúvida, a presença de Tom Jobim entre nós, chorando toda esse tempo vivido sem a genialidade e o talento de um dos maiores compositores e instrumentistas da história da música popular brasileira.                
                Nascido no dia 25 de janeiro de 1927, no bairro da Tijuca, no Rio, Antonio Carlos Brasileiro de Almeida Jobim, passando a residir em Ipanema em 1931, onde passou, menino ainda, a sua iniciação musical, aprendendo a tocar piano. Cursou arquitetura e chegou a trabalhar em um escritório. Casou-se em 1949 com Thereza Harmanny, tendo nascido, deste casamento, os filhos Paulo, que se tornaria músico como o pai, e Elizabeth, que se tornou artista plástica e participante da  Banda Nova, grupo que o acompanhou nos últimos anos de sua carreira., atuando no coro feminino característico dos seus trabalhos finais.           
              No início da sua carreira, Tom trabalhou, como pianista, nas melhores casas noturnas cariocas, como Drink, Bambu Bar, Arpége, Sacha’s, Monte Carlo, Night Day, Casablanca e tantas outras, revesando-se, às vezes, com Newton Mendonça, de quem se tornou grande amigo e com quem iniciou uma bem sucedida parceria musical, que gerou canções como Desafinado e Samba de Uma Nota Só, dentre outras. Foi com Newton que gravou o primeiro registro fonográfico de uma composição de sua autoria, em 1953, com a canção Incerteza. Em 1956 foi apresentado a Vinícius de Morais, que viria a se tornar seu parceiro mais importante, logo ali, no Bar Gouveia, em frente à Academia Brasileira de Letras, no Rio, oportunidade em que foi convidado a musicar a peça Orfeu da Conceição. Além de Vinicius, com quem fez músicas famosas como Só Danço Samba e Garota de Ipanema, Tom compôs outras melodias inesquecíveis com Dolores Duran, como é o caso de Se é por Falta de Adeus, Estrada do Sol e Por Causa de Você. Em 1962, viajou, pela primeira vez, aos Estados Unidos, onde participou, ao lado de outros artistas brasileiros, do show Bossa Nova, apresentado no Carnegie Hall, em Nova York.                                                  
                 No início dos anos 60, com o lançamento de dois LPs, o sucesso de Tom Jobim era tão grande, que chegou a vender, com a versão instrumental de Desafinado, gravada por Stan Getz e Charles Bird, mais de um milhão de cópias.                             
            Em 1965, gravou mais dois LPs que despontaram nas paradas: Antonio Carlos Jobim e A Certain Mr. Jobim, lançados pela Warner Bros, mas foi com o disco Francis Albert Sinatra & Antonio Carlos Jobim, em 1967, que recebeu mais uma indicação para o Grammy.
                 Tom Jobim faleceu no dia 8 de dezembro de 1994, há 17 anos, aos 67 anos de idade, em Nova York, no Hospital Mount Sinai.
             Foi o início de uma grande saudade que parece aumentar a cada ano, especialmente quando ouvimos a sua música.

http://www.youtube.com/watch?v=srfP2JlH6ls                                                                

segunda-feira, 12 de dezembro de 2011

O CONTO DO MÊS - dezembro 2011



         A VOLTA DE TEREZA                   
          Era  grande  a  preocupação  da  família  com  o  Heitor.  E  não  podia ser de outra  maneira. A  recente  tragédia  ainda estava ali,  presente em  todas  as  suas cores,  viva,  palpitante, suscitando  angústia e  dor, como  se  tivesse  ficado  impregnada  nas paredes , nos móveis,  em  cada  canto  daquela casa,  lembrando, a  todo  instante, a  beleza, o encanto, o sorriso e a ternura,  principais traços da personalidade de  Tereza, que  soube  reinar  como  uma  rainha naquele autêntico palácio à beira-mar. E  foi  assim que todos os familiares atenderam ao  chama-  do de dona  Rosinha,  a  matriarca dos Guimarães Pereira,  para  uma  reunião,  naquele  domingo  ensolarado,  na  mansão  da  praia,  onde  Heitor praticamente se enclausurara, após  a  morte  da  esposa.  O  objetivo  era  um  só: fazer com que o jovem viúvo voltasse a se interessar pela  vida  e  a  comandar  as  empresas do  pai,  como,  na verdade,  sempre fizera - e com sucesso -  depois que o velho, vítima de  um  enfarte,  nunca  mais  voltou à  plenitude de  suas  condições  físicas  e  mentais,  passando  a  viver,  quase  que  vegetativamente, numa UTI de  um  hospital.  Sendo filho único  e  herdeiro natural  de  uma verdadeira fortuna, Heitor não podia se dar ao luxo de se  ausentar das empresas por mais de três meses.
            - Precisamos fazer com que volte a sentir  interesse  pela  vida - argumentava a  mãe.  Afinal, a Tereza morreu. Nada pode mudar  isso. Temos  que  forçá-lo  a  aceitar  a realidade. Ele não pode continuar preso naquela casa, isolado  de  todos, sem atender a ninguém, como  a  esperar que Tereza venha ao  seu  encontro. Ela morreu. Nada  pode  alterar essa verdade. E ele  não pode continuar vivendo à espera de uma ilusão. Conto com todos vocês para o encontro deste domingo na  mansão da praia.
            E foi assim que, logo  cedinho, naquele domingo cheio de sol, dezenas de carros começaram a ser estacionados nos amplos jardins  da casa, conduzindo  os  parentes  mais  chegados e todos  os  diretores  das empresas da família.
            Todos sabiam que a  missão não era das mais  fáceis,  para  não  denomina-la  impossível. Aqueles  que conheciam Heitor mais de perto, que jamais o viram afastar-se de uma  decisão  tomada,  sabiam,  melhor que os outros, das dificuldades que teriam pela frente. Imaginavam a dor que o abatêra. E  respeitavam o seu  sofrimento. O seu  desejo  de  isolar-se  por  um  tempo.  Só que o isolamento estava prolongando-se além da conta.  Especialmente  para ele, que deixara de ser, com o afastamento do pai, apenas um homem, para ser um conjunto de empresas, responsável direto pela vida de centenas de  pessoas,  que  dependiam das  suas  decisões  para continuar sobrevivendo.  Ao negar-se a  receber seja quem fosse, isolando-se inteiramente  naquela  casa, sem o mínimo contato com o mundo exterior,  todos, a pedido da própria dona Rosinha, resolveram  acatar aquela decisão. Mas os dias foram  passando. As semanas. Os meses. Agora - entendiam  todos -,  alguma  providência  tinha  que  ser  tomada.  Não  era  possível  continuar  de  olhos  fechados, como se  nada  estivesse  acontecendo, enquanto o Heitor, sem atender sequer  a  telefonemas,  permanecia dentro daquela casa, esperando a volta de Tereza.
             Para servi-lo, permitiu apenas a presença  da  velha  Engrácia, que  praticamente o  criou, com  seus quase trinta anos  de  bons  serviços prestados à família.
             Por telefone, era a  fiel  serviçal  que  mantinha  dona  Rosinha  informada  sobre  tudo  o que ocorria no casarão, onde se sentia  perdida, sem ter uma  só  pessoa com quem conversar.
           - Isso aqui tá cada  vez  mais triste, dona Rosinha - disse, na última vez em que  telefonou. O menino continua trancado no quarto  de  cima, deitado na cama de casal, esperando  dona Tereza voltar. Tem  dia que não come nadinha. Nem  toca na comida que levo. A bandeja  volta  do jeito que foi. Chega tá  magrinho, coitado. E não fala nada. Se eu puxo conversa, ele nem liga. Se  fecha no quarto de novo e fica lá, deitado, olhando pro retrato da patroa.
          Foram essas  informações  da Engrácia,  afora  a  preocupação  de todos  com  os  destinos das empresas, que fizeram com que dona Rosinha, a  despeito  da  intransigência  do  filho,  marcasse  a  reunião,  que  já se iniciava na imensa sala de visitas.
        - Além das preocupações  tipicamente  maternas, que  me deixam transtornada com a  situação  do  meu filho - disse, dirigindo-se a todos, a matriarca -,  aflige-me,  também,  os  problemas que envolvem  as empresas, que é o principal motivo da maioria dos que aqui estão.  Subirei  ao quarto e convocarei o Heitor  para a reunião, sem saber, ao  certo, à essa altura, se  ele  atenderá  ou  não ao meu apelo.
            Diante da porta  do  quarto, bateu levemente e se fez anunciar:
           - Heitor... está me ouvindo ? É sua mãe... Preciso  falar  urgentemente com você.
            Silêncio.
          - Abra  a porta  por  um  momento - pediu.
             Nada.
           - Abra a  porta,  meu  filho - insistiu.
             De dentro,  nem  um  ruído sequer.
            - Estamos reunidos  na sala à sua espera. Temos assuntos inadiáveis  a  tratar.  Assuntos que  dependem de sua decisão.  Vamos  aguardar a sua  presença.  Não sairemos de lá enquanto não comparecer. Ficaremos a tarde e a  noite  toda,  se for preciso. Mas não sairemos  sem  antes falarmos com você.  E,  além  de tudo  isso, estou louca  de  saudade.  Preciso vê-lo... abraçá-lo... beijá-lo. Não me falte. A sua mãe ainda está viva e precisa de você.   
          Sem  dizer  mais nada,  dona Rosinha desceu as escadas devagar  e  foi  amparada,  já  nos  últimos  degraus, pela velha Engrácia.
        - Ele vai descer ?
       - Não  sei, minha querida. Na verdade, não sei. Ele não disse uma única palavra.
        As duas se encaminharam para uma das varandas e,  por  alguns minutos, ficaram em  silêncio, observando, do alto daquela encosta, as ondas quebrando nas  rochas,  lá embaixo.
        - No dia em que  eles se casaram, a maré tambem estava cheia, como agora, com esses vagalhões indo de encontro aos rochedos e fazendo idêntico  barulho  -  lembrou dona Rosinha, com os olhos cheios de lágrimas.   Ele estava  extremamente feliz. Abraçou-me aqui nesta varanda , e  confessou  sua  alegria. “Sou um homem de  sorte:  tenho a melhor  mãe  do  mundo  e  acabo de encontrar a mulher da minha vida !” - disse, sorrindo. E era uma verdade,  pelo menos  no que se referia à Tereza. Jamais vi duas pessoas tão apaixonadas. Eles se amaram como só se pode amar uma vez na vida: com toda a intensidade possível. Era lindo vê-los juntos,  desdobrando-se  nu- ma sequência  de  carinhos,  tão bonitos e felizes, como se fossem uma  só  pessoa.  Se é  verda- de que cada ser humano tem direito à  sua  outra  metade,  cabendo-nos  procurá-la  pelos  cami-  nhos  do  mundo, Tereza  era,  sem dúvida, a parte que faltava ao Heitor.  Ninguém  poderia  ima- ginar, no entanto, o que estava por acontecer. Na  noite  de  núpcias,  após  horas  inesquecíveis  do  mais puro amor, Tereza  adormeceu  nos braços de Heitor e nunca mais despertou.  No outro  dia, em  prantos, descobriu  que  ela  estava  morta.  Havia sofrido  um colapso cardíaco  durante  a noite e,  sem  emitir  um só gemido, despedira-se da vida.
          A pobre e sofrida  Engrácia apenas baixou a cabeça e, com lágrimas nos olhos e com  uma  expressão  de profunda tristeza no rosto, perguntou:
        - A senhora acha que o nosso menino voltará a ser o que era antes, após sentir  tão  grande dor ?
       - Não  sei,  Engrácia - respondeu, angustiada, a mãe. Sinceramente, não sei. Foi um golpe duro  demais para ele. Só o tempo será capaz de dizer se terá forças para  retornar à  uma  vida  normal.
        - Um dia desses -  lembrou  a velha serviçal -, falou-me  pela  última  vez. Abriu  a  porta  do quarto e me disse: “Você e mamãe têm  que acreditar em mim. Tereza logo  estará de volta. Quando isso  acontecer, tudo voltará ao normal”.
       - Os mortos não voltam - concluiu, aflita, dona  Rosinha. E  nós  duas  sabemos  muito  bem disso.
        As horas passavam lentamente. As pessoas, espalhadas pelos diversos cômodos  da  mansão, fica-vam, em pequenos grupos, ora em silêncio, ora  falando  baixinho,  à  espera  de  um  improvável desfecho: a chegada do Heitor ao  recinto  da reunião. Por  volta  da  meia-noite,  dona Rosinha achou que não  adiantava mais esperar e pediu à todas as pessoas presentes que comparecessem à sala de visitas.
         - Já esperamos demais - disse, com voz embargada.
         Neste exato momento, as luzes da mansão se apagaram e se acenderam,  por  repetidas  vezes, como  se um grave defeito tivesse ocorrido na rede elétrica. Enquanto todos  se  entreolhavam,  assustados, um  trovão ribombou lá fora, e mais outro,  prenunciando  uma  sequência  de  raios, que  passou a  iluminar  o firmamento,  coberto, de  repente,  por  núvens   negras  e  pesadas. Só que a tempestade não veio. O que veio foi um silêncio estranho,  que  invadiu  a  casa  e dominou as pessoas, até  que  a  voz de Heitor se fez ouvir no alto  da  escada.
        - É uma felicidade,  meus  amigos, recebê-los em minha casa, para uma reunião  !
         Todos olharam espantados, enquanto o Heitor,  alegre  e  feliz,  de braços abertos, começava a descer  a escada, abraçando a mãe - ainda sob o impacto da surpresa - e apertando as mãos  dos amigos.
         - Parem de me olhar desse jeito e vamos à reunião.
          Todos  ouviram o Heitor falar dos planos para o futuro das  empresas, dar  conselhos  aos  diretores  sobre os problemas apresentados  e  se despedir de todos, dizendo:
          - Amanhã, logo cedinho, estarei no batente. Conto com vocês.
           Após beijar a mãe que, mais tranquila e feliz, voltara a sorrir, pediu licença  a  todos  e  voltou  ao  seu quarto.
            Ao fechar a porta, o ambiente semi-escuro viu-se iluminado por uma luz azulada.
           - Deu tudo certo. Preferi não dizer a ninguem que você tinha voltado. Que nunca mais vai me deixar. Que está aqui ao meu lado para sempre. Que não estou mais sozinho.
            Ao seu lado, ninguém. Nada que os olhos comuns pudessem ver. Apenas aquela luz azulada que o envolvia a todo instante e  que  se  fez mais  incandescente  ainda  quando se deitou na cama, sussurando palavras de amor.
            - Nunca mais me deixe,  Tereza ! Não posso viver sem você !
             No dia seguinte, a cama em desalinho denunciava tudo o que acontecera  naquela  noite fantástica.
              Engrácia foi recebida  com um beijo e serviu o café da manhã a  um  Heitor  exultante  de alegria, que se alimentou muito bem e, de pasta na mão, dirigiu-se ao carro na garagem.
              - Tem certeza que está tudo bem, patrãozinho ?
             - Tudo  bem,  Engrácia.  E por que não estaria ? Vamos  ao  trabalho. Tenho  muito  o que fazer.
               Antes  de  dar  partida  ao carro, disse à Engrácia:
               - Não me pergunte porquê. Leve uma bandeja com  um café-da-manhã ao meu  quarto. Deixe lá.
              Quando o  carro  afastou-se, a velha levou o café ao quarto.
              Por via das dúvidas, com tudo aquilo que a Tereza mais gostava.  
                
  


     

segunda-feira, 5 de dezembro de 2011

CRÔNICA DA SAUDADE - 05/12/2011



“SEU” CABRAL E O TEATRO


        Campina Grande festejou, no último dia 30 de novembro, o quadragéssimo oitavo aniversário de fundação da sua maior marca cultural: o Teatro Municipal Severino Cabral.
           Como sempre acontece, todos os anos, no mês de novembro, muitas festividades ocorrem no palco daquela casa de espetáculos, que tem sido, ao longo do tempo, desde a sua inauguração, uma fonte de inspiração para a criação de não sei quantos eventos de repercussão nacional, como é o caso do Festival de Inverno – sem dúvida, o mais conhecido de todos.
          Em 1962, o prefeito Severino Cabral – ou simplesmente “seu” Cabral, como era mais conhecido – estava em dúvida quanto a obra que deveria construir no último ano da sua administração. Seus principais assessores tinham colocado em sua mesa, para apreciação, dois grandes projetos. Um deles – e o mais badalado – era um viaduto que seria construído na Floriano Peixoto, na confluência com a Cardoso Vieira, dando, àquela época, ares de modernidade à Rainha da Borborema. Viaduto Severino Cabral – pelo jeito, “seu” Cabral tinha gostado da idéia. O outro, era o projeto de um teatro, que preencheria uma lacuna existente na cidade. Qualquer uma das realizações, daria, sem dúvida, ao prefeito, o aval e o aplauso do povo campinense.
          Sendo assessor de imprensa de “seu” Cabral e tendo notado um ar de aprovação no seu rosto ao contemplar o projeto do viaduto, tratei de reunir os intelectuais da casa para um contra-ataque em defesa do teatro. Na chefia da Casa Civil, estava o poeta e escritor Figueiredo Agra – irmão da professora Elizabeth Marinheiro. Na Comunicação, lá estava o jornalista Epitácio Soares, cronista dos melhores. Juntamos outros tantos nomes e começamos a cercar o prefeito por todos os lados, mostrando a importância  do teatro para o desenvolvimento cultural da cidade.
           Embora não fosse muito ligado às letras e às artes, “Seu” Cabral, que pouco sabia ler e escrever, era um dos administradores mais notáveis que conheci, tendo sido, por isso mesmo, um político imbatível em memoráveis campanhas eleitorais.
             Ao entrar no seu gabinete, no entanto, ele já sabia o que seria melhor para o povo e anunciou:                          
             - Vamos começar a construir o nosso teatro  !
           E foi assim que o prefeito, considerado por muitos como inculto, construiu, em Campina, a maior oficina cultural da cidade, cuja inauguração, em 1963, há quarenta e sete anos atrás, foi a alavanca que faltava para acelerar o progresso da maior cidade do interior nordestino.
           “Seu” Cabral não era homem de leitura, mas via longe... via além da pedra e do cal das obras de engenharia... via, por cima de tudo isso, a força cultural do povo de Campina Grande .