segunda-feira, 5 de dezembro de 2011

CRÔNICA DA SAUDADE - 05/12/2011



“SEU” CABRAL E O TEATRO


        Campina Grande festejou, no último dia 30 de novembro, o quadragéssimo oitavo aniversário de fundação da sua maior marca cultural: o Teatro Municipal Severino Cabral.
           Como sempre acontece, todos os anos, no mês de novembro, muitas festividades ocorrem no palco daquela casa de espetáculos, que tem sido, ao longo do tempo, desde a sua inauguração, uma fonte de inspiração para a criação de não sei quantos eventos de repercussão nacional, como é o caso do Festival de Inverno – sem dúvida, o mais conhecido de todos.
          Em 1962, o prefeito Severino Cabral – ou simplesmente “seu” Cabral, como era mais conhecido – estava em dúvida quanto a obra que deveria construir no último ano da sua administração. Seus principais assessores tinham colocado em sua mesa, para apreciação, dois grandes projetos. Um deles – e o mais badalado – era um viaduto que seria construído na Floriano Peixoto, na confluência com a Cardoso Vieira, dando, àquela época, ares de modernidade à Rainha da Borborema. Viaduto Severino Cabral – pelo jeito, “seu” Cabral tinha gostado da idéia. O outro, era o projeto de um teatro, que preencheria uma lacuna existente na cidade. Qualquer uma das realizações, daria, sem dúvida, ao prefeito, o aval e o aplauso do povo campinense.
          Sendo assessor de imprensa de “seu” Cabral e tendo notado um ar de aprovação no seu rosto ao contemplar o projeto do viaduto, tratei de reunir os intelectuais da casa para um contra-ataque em defesa do teatro. Na chefia da Casa Civil, estava o poeta e escritor Figueiredo Agra – irmão da professora Elizabeth Marinheiro. Na Comunicação, lá estava o jornalista Epitácio Soares, cronista dos melhores. Juntamos outros tantos nomes e começamos a cercar o prefeito por todos os lados, mostrando a importância  do teatro para o desenvolvimento cultural da cidade.
           Embora não fosse muito ligado às letras e às artes, “Seu” Cabral, que pouco sabia ler e escrever, era um dos administradores mais notáveis que conheci, tendo sido, por isso mesmo, um político imbatível em memoráveis campanhas eleitorais.
             Ao entrar no seu gabinete, no entanto, ele já sabia o que seria melhor para o povo e anunciou:                          
             - Vamos começar a construir o nosso teatro  !
           E foi assim que o prefeito, considerado por muitos como inculto, construiu, em Campina, a maior oficina cultural da cidade, cuja inauguração, em 1963, há quarenta e sete anos atrás, foi a alavanca que faltava para acelerar o progresso da maior cidade do interior nordestino.
           “Seu” Cabral não era homem de leitura, mas via longe... via além da pedra e do cal das obras de engenharia... via, por cima de tudo isso, a força cultural do povo de Campina Grande .



                  

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