quarta-feira, 1 de setembro de 2010

CRÔNICA DA SAUDADE - setembro


REVENDO O PASSADO

Você pode escrever a história de uma cidade, fazer uso de todo o seu poder de descrição para que tudo chegue ao conhecimento dos seus leitores nos mínimos detalhes – pode, afinal, colocar, em cada frase, tudo aquilo o que vê em sua volta -, mas mesmo assim, com esse cuidado e sensibilidade, será difícil, senão impossível, fazer com que as pessoas consigam ver o que foi descrito, sem que haja, junto ao texto, fotos ou ilustrações.

È por isso que dizem – principalmente quando se está diante de uma belíssima foto – que, na maioria das vezes, uma imagem vale mais que mil palavras.

Sou do tempo dos velhos sobrados da rua Duque de Caxias, onde, em um deles, funcionava o Foto Stuckert, um dos pioneiros em fotografia da nossa capital. Poderia falar também do Foto Estrela. Do Foto Hudson. De tantos outros que surgiram no centro, na época, todos comandados por grandes profissionais da fotografia. Só que o Foto Stuckert me fala mais desse tempo, pois era no primeiro andar do velho sobrado, onde morei por mais de um ano, tendo vindo de Campina para cá, enquanto estudava no Lyceu.

Foi com Gilberto Stuckert – casado com a minha tia Zilete – que aprendi a valorizar o simples gesto de acionar uma máquina fotográfica para guardar, numa foto, uma paisagem qualquer da cidade. Ele dizia que, à cada fotografia tirada, o passado de João Pessoa ia ganhando mais um arquivo, para que, no futuro, as gerações de então pudessem conhecer a cidade de um tempo que já não existia mais. O pai de Gilberto, “seu” Eduardo – que era, na verdade, o pintor, desenhista e fotógrafo sueco Eduardo Francis Rodolf Deglon Stuckert – foi quem primeiro captou as imagens da capital, de 1900 a 1940, sendo seguido, pelo filho, de 1930 a 1970 – existindo, hoje, juntando-se aos dois alguns outros fotógrafos do período, mais de mil fotografias da cidade de João Pessoa e de algumas personalidades que fizeram a sua história.

“Seu” Eduardo faleceu na década de 40, mas passou, para o filho, Gilberto, os negócios de fotografia, que continuaram até o seu falecimento no dia 20 de outubro de 1986, quando passou todo o seu acervo para Gilberto Stuckert Filho, que publicou um livro com esses registros que remontam ao ano de 1870.

As fotos, por si só, falam da evolução da cidade, mostrando os mais diversos meios-de-transporte – que vai do velho bonde de tração animal aos bondes elétricos, das marinetes aos ônibus modernos -, assim como as mudanças arquitetônicas e os novos e modernos caminhos criados ao longo do tempo.

Vendo as fotos, a gente revive o passado de João Pessoa. E – por que não dizer ? - o nosso próprio passado.

O pessoense já bem vivido, ao ler o livro, vêr-se-á em cada uma de suas fotografias.

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