terça-feira, 23 de março de 2010

A CRÕNICA DA SEMANA


O ENFERMEIRO DO POVO

No domingo que passou, (21/03), recebi um telefonema do meu amigo Ricardo Barbosa, fazendo um convite:

- Logo mais, ao meio-dia, estaremos comemorando, com um festivo almoço, mais um aniversário do meu pai, que também é seu compadre e amigo. Para ele, principalmente, a sua presença será muito importante.

O mínimo que poderia fazer, tratando-se do aniversário do meu compadre Manoel Joaquim Barbosa, um amigo de tantos anos, era confirmar que estaria presente à confraternização.

E assim o fiz.

Ao chegar ao salão de eventos do edifício onde reside Ricardo, fui recebido pelo o anfitrião e logo depois, já sentado em volta de uma mesa e saboreando alguns quitutes, pude notar, pela sequência de pessoas amigas que adentravam ao local, que a festa em si, inteiramente dedicada, é claro, ao aniversariante, tinha sido feita sob encomenda para mim, que pude rever, numa tarde, dezenas de pessoas da minha mais chegada amizade que não via, por esse ou por aquele motivo, há bastante tempo.

Em primeiro lugar, o homenageado. Ao abraçar-me, o velho Manoel de guerra, aos 85 anos, ali estava, firme e forte, transmitindo alegria, como sempre, ao seu compadre e amigo. Abraço que chegou em dose dupla com a minha comadre Maria Barbosa. Ambos, ali presentes, levavam-me de volta à uma Campina Grande distante, um pouco diferente da progressista cidade de hoje, mas que jamais será esquecida. Vi-me no Posto de Enfermagem Manoel Joaquim Barbosa, onde o enfermeiro do povo começou a sua luta. A amizade era tanta que pouco a gente conseguia se afastar um do outro. Acompanhei de perto todo o seu trabalho. Sua vida com Maria. O nascimento dos primeiros filhos. Eram tantos os meninos que chegavam que achei que logo os dois teriam um time de futebol. Foram 12, ao todo.

A um certo tempo, Manoel resolveu lançar-se candidato a vereador. Não quis dizer nada, para não diminuir-lhe o entusiasmo. Mas a campanha não seria fácil, já que as vagas eram poucas e os candidatos políticamente mais conhecidos e mais endinheirados estavam todos na luta. Como dirigia a Rádio Borborema, criei um programa para o meu candidato a vereador no horário mais nobre da emissora, ao meio-dia. No começo, uma crônica diária, pedindo votos aos campinenses. Depois, um noticiário sobre as atividades do candidato. E, por fim, a fala do Manoel, cujo texto ele já encontrava pronto em cima do assunto escolhido. Apesar de todo o trabalho, a gente notava que a eleição se aproximava e ainda faltavam votos para garantir a vitória. Que mais poderíamos fazer ? Ocorreu um desastre com uma ambulância do Hospital dr. Brasileiro, em cujo interior se encontrava Manoel cuidando de um doente e, embora, nada de grave ocorresse com ninguém (nem ferimento leve), o acidente provocou verdadeira comoção, mereceu uma crônica daquelas, centenas de pessoas visitaram-no para deseja um feliz restabelecimento e, é claro, com tudo isso, os votos que faltavam chegaram na hora certa e o enfermeiro do povo foi eleito para o seu primeiro mandato como vereador.

Na festa, além de José Lacerda (tantas vezes eleito deputado que a gente chega a perder a conta do número de mandatos) e esposa, Raissa (hoje vereadora), sua filha, e do prefeito Ricardo Coutinho, que ali esteve para parabenizar o aniversariante e rever os amigos que ali estavam, muitas foram as pessoas conhecidas, ligadas àquela Campina Grande do passado, que aproveitaram o evento para para relembrar um tempo feliz que não volta mais.

Foi, realmente, um encontro com o passado.

quinta-feira, 11 de março de 2010

COMENTANDO A NOTÍCIA


A NOTÍCIA – O pré-acordo eleitoral agora formalizado entre o PT e o PMDB para as eleições 2010 vai garantir à pré-candidatura à Presidência da ministra da Casa Civil, Dilma Rousseff (PT), o dobro de tempo de propaganda gratuita na TV.

NOSSO COMENTÁRIO:

ALIANÇAS PARTIDÁRIAS

Após conviver com tantos problemas neste governo do Presidente Lula e do PT, que acabaram por atingir em cheio seus principais aliados, como é o caso do PMDB, cheguei a imaginar que doravante, antes de fazer qualquer aliança política, as grandes agremiações partidárias do nosso país dariam preferência à se engajarem numa luta individual nas próximas eleições, procurando, cada um deles, apresentar um candidato próprio, ao invés de servir de trampolim para os mais sabidos, como é caso da aliança atual.

Ao que parece, no entanto, já que os dois partidos estão preocupados, inclusive, com o tempo da propaganda gratuita que terão na TV nas próximas eleições, ao invés de avaliarem tudo o que de mais deprimente ocorreu neste governo que logo chegará ao fim, o PT e o PMDB não aprenderam, ao que parece, as muitas lições que foram dadas como golpes profundos sentidos nas próprias carnes.

Aparentemente, o conturbado governo do PT, repleto de problemas seríssimos e sem soluções que agradem ao povo, como é o caso do famoso mensalão, do caixa dois do partido, dos milhões desviados do Bancoop e tantos outros, que acabaram, por tabela, atingindo o PMDB, quando Sarney, presidente do Senado, teve que tornar públicas todas suas mazelas, o mesmo acontecendo, é claro, na Câmara dos Deputados, não só com o presidente Michel Temer, mas com outros peemedebistas famosos que tiveram que comer o pão que o diabo amassou.

Na realidade, os dirigentes dos grandes partidos, antes de efetuarem alianças com esta ou aquela agremiação política, deveriam pensar bastante, inclusive em reuniões nacionais, para avaliar se aquela conjunção política daria os bons resultados esperados por toda a agremiação.

O PMDB, que sempre foi um grande partido, tendo, por diversas vezes, comandado o destino do Brasil, parece que se acostumou a servir de tapete para que o PT, mais uma vez, possa desfilar como detentor de mais um mandato presidencial. Não sei se o dobro do tempo da propaganda gratuita na TV pode servir de incentivo à mais uma aliança PT/PMDB. O que deveria ser medido pelos dois partidos seria todos os problemas que foram enfrentados e que, na sua maioria, atingiram em cheio a honra e a credibilidade das duas agremiações.

No final, não haveria aliança. A não ser que os milhões sejam tantos que falem mais alto que todo e qualquer argumento.

quarta-feira, 10 de março de 2010

O JOSÉ DE RONALDO


Ronaldo podia ser Ronaldo como o pai queria, mas jamais deixaria de ter José no nome ou sua mãe não teria sido a Dona Nenzinha Cunha Lima, verdadeira expressão da mais pura mulher nordestina, voltada para as virtudes do lar e para os dogmas da religião católica. Se o menino tinha nascido entre o dia de São José de Arimatéia e o dia de São José, o pai de Jesús, como é que ele poderia deixar de ter um José no nome, por mais pomposo que fosse ?

E o menino foi batizado como Ronaldo José da Cunha Lima.

Assim como Ronaldo, que veio, com a família, lá de Guarabira, passando a residir na rua Tiradentes, quase no centro da cidade, eu também cheguei, à mesma época, de João Pessoa, com a minha família, que optou por residir na mesma rua, só que na parte que fica depois da Solon de Lucena, já pertinho do Campo de Zé Rodrigues. E foi assim que a gente foi misturando as nossas vidas – a princípio com as brincadeiras típicas da infância, juntando a turma toda das ruas vizinhas, como Helvetti Cruz, Zé Aleixo, Themistocles Maciel, Kerginaldo e muitos outros meninos de então -, até que chegamos à juventude, cada um pro seu lado, juntando-se de novo nas tardes prazeirosas da Rádio Caturité, quando a gente se encontrava para apresentar, das cinco às seis horas da tarde, o programa A Hora Poética Campinense, que também contava com a participação de novos poetas paraibanos, como Orlando Tejo, Eilzo Matos, Eduardo Ramires e tantos outros.

Esse rapazinho, que tinha jeito pra declamar poesia e gostava de aceitar desafios em qualquer roda de repente, enamorou-se por Campina, fez da cidade a sua musa e foi nas suas noites-madrugadas que encontrou inspiração para dar força à sua vida, casando-se com dona Gloria, com a qual constituiu uma grande família, formada por seus filhos Ronaldinho, Cássio, Glauce (Gal) e Savigny, que hoje completam a sua felicidade.

O menino de ontem já foi tudo o que sempre, um dia, havia sonhado ser: vereador... prefeito da sua amada Campina por três vezes... deputado estadual... deputado federal... governador da Paraíba... senador... e, mais do que tudo isso, um pai amantísimo e uma criatura humana quase sem falhas.

Como poeta e escritor, a Paraíba e o Brasil já os conhece de sobra, lendo, ouvindo e aplaudindo as suas produções poéticas, que hoje fazem parte do que existe de melhor em termos literários em nosso estado.

Todo 18 de março, dia do aniversário de Ronaldo, a Paraíba inteira gostaria de estar ao seu lado, participando da sua festa e cantando, com alegria, o Parabéns Pra Você. Parabéns, Ronaldo, por tudo o que você sempre foi para o seu povo, para a Paraíba e para todos aqueles que nunca deixaram de admira-lo como amigo e como poeta !

(Crônica divulgada na Rádio Tabajara, no dia 20/03/2005)

terça-feira, 9 de março de 2010

UM CINEMA À LUZ DA LUA


Poucas são as pessoas da minha idade que se recordam da praia de Tambaú com as mesmas lembranças que me envolvem de vez em quando e que me fazem parar em alguns locais, como na calçada do antigo Elite e em frente ao Hotel Tambaú, pensativo, buscando, hoje, os caminhos de um passado distante.

Que idade poderia ter ? 16... 17 anos... algo assim, pois aqui estava, vindo de Campina, para passar um ano de boa-vida, ali, à beira-mar, em companhia da minha avó.

A juventude é inquieta e Tambaú, àquela época, se resumia no movimentado terminal do bonde, ali, naquele largo, onde existia o Elite Bar de um lado e, do outro, um Grupo Escolar do governo do estado, sem nada das modernas edificações de hoje. Nada das luxuosas residências à beira-mar... nada de Hotel Tambaú... nada de PB-Tur... nada de avenida Tamandaré (pelo menos, asfaltada como hoje)... nenhum edifício em destaque ao longo da orla... pois o que se via em toda a extensão de Tambaú, Manaira, Cabo Branco e Bessa, era uma mata quase compacta, formada por pés de coqueiros, de cajueiros e de araçás.

Durante o dia, mergulhos nas praias de águas límpidas, que ninguém é de ferro. E à noite... o que fazer ? Sentar numa mesa do Elite e tomar uma cervejinha ? Mas isso todo santo dia ? Era preciso inventar alguma coisa. E foi ai que apareceu um cara, que não me lembro o nome, e construiu uma palhoça sem teto, ali – onde hoje está a feirinha de Tambaú – em frente ao Hotel –, colocou uma tela de cinema lá no fim e espalhou, em toda a extensão do ambiente, uma série de bancos de madeira – daqueles que a gente encontra na maioria das igrejas. Na entrada, no alto, colocou uma placa, onde se lia: Cine Tambaú. Aos lados da entrada, lá estavam os cartazes, anunciando os filmes do dia, quase sempre faroestes. E foi pra lá que fui, em companhia de amigos, para curtir a novidade. Compramos ingresso e entramos. Lá dentro, tendo o céu azulado lá no alto, ficamos à vontade, vestidos de calções de praia, sem camisas, pés enfiados na areia da praia, aguardando o início da sessão. Antes do começo do filme, baixaram uma espécie de paliçada sobre a tela (para que a luz da lua não prejudicasse as imagens) e logo o bang-bang começou, causando o maior alvoroço na platéia.

Realmente, o dono do cinema inusitado – que não sei por quanto tempo existiu no local, pois tive que voltar para Campina -, foi, na verdade, um precursor do futuro, já que, muitos anos depois, surgiria, naquele local, o Hotel Tambaú de hoje. E, o mais incrível, lá dentro, luxuosamente instalado, um moderno cinema, cujo nome escolhido não foi outro, senão o mesmo da saudosa palhoça: Cine Tambaú.

Dá pra entender ? Não dá. Mas de saudade a gente entende, pois é com ela, com a lembrança do que passou, com as recordações, que a gente vai ter de conviver por toda a vida, prisioneiro eterno de um mundo que nunca se foi.

(Crônica divulgada na Rádio Tabajara, em 27/02/2005)

segunda-feira, 8 de março de 2010

SERENATAS


A vida de qualquer pessoa é formada por ciclos, dependendo do que faz e de onde está. Mas do que ciclos, esses espaços de tempo são verdadeiros círculos, que se entrelaçam com o passar das horas, dos dias, dos meses e dos anos, criando, por fim, uma única história, que é a nossa existência.

Se o ciclo da minha infância foi vivido, aqui, em João Pessoa, espalhando pelas ruas de Cruz das Armas e de Jaguaribe um sem número de traquinagens e peraltices que ninguém esquece, o ciclo da adolescência e da juventude foi passado em Campina Grande, marcado, sem dúvida, pelos muitos sonhos e vivências próprias da idade.

Nos anos 60, ao embalo do programa A Hora Poética Campinense, que era transmitido pela Rádio Caturité, muitos dos sonhadores da época se reuniam no estúdio da emissora para declamar seus versos: era quase um ponto-de-encontro obrigatório, que contava com as presenças de Ronaldo Cunha Lima, Orlando Tejo, Eilzo Matos, Eduardo Ramires e tantos outros, cada um já iluminando o ambiente com as luzes brilhantes das suas inteligências.

Se o programa era levado ao ar das 5 às 6 da tarde, restava-nos, depois, pela frente, uma longa noite – principalmente às sextas-feiras – e uma pergunta no ar: o que fazer com a madrugada ? Por decisão unânime, resolvemos preenche-la com algumas serestas, tendo nascido, daí, o Clube do Bacurau, cujas sessões se alongavam até o nascer do dia.

Para receber a serenata, uma jovem era selecionada dentre tantas outras beldades. Feito a escolha, lá íamos nós, de violão a tiracolo, despertar a donzela premiada com as canções da época. Antonio Emiliano, o nosso violonista-mór, colocava uma escada no poste mais próximo e puxava de lá a energia que dava vida ao violão elétrico. E a seresta, feita assim de improviso, quebrava o silêncio da noite, enternecendo o coração dos que a ouviam. E assim, por muitas vezes, as serenatas do Clube do Bacurau contavam com vozes famosas, como as de Nelson Gonçalves, Orlando Silva, Roberto Silva e tantos outros, que nos acompanhavam, após suas apresentações na Borborema, nessas audições extras e inesquecíveis.

Hoje, as serenatas já não existem mais.

Resta-nos, no entanto, ainda, sonhar de olhos abertos com essas madrugadas que ficaram para sempre no passado com suas músicas que ainda ressoam em nossos ouvidos.

É como se as serenatas estivessem acontecendo hoje. Como se as cenas estivessem se passando agora. Como se os momentos felizes ficassem para sempre em nossa memória. Eternizados na música e na saudade.

(Crônica divulgada pela Rádio Tabajara, no dia 20/02/05)


sábado, 6 de março de 2010

RECORDAÇÕES


As criaturas humanas não vivem do presente nem do futuro. Para todos nós, que percorremos as estradas da vida, o presente é um momento fugaz, quase imperceptível, como uma luz que se acende em nosso interior, com a momentaneidade de um segundo, iluminando o caminho a seguir. Já o futuro é incerto e desconhecido. As pessoas vivem, lutam, trabalham e se desdobram no presente, pensando unicamente em garantir um futuro feliz, mesmo sem ter a certeza de que irão usufruir do tempo que virá. Sendo abstrato e inexistente, o futuro, concretamente, não faz parte das nossas vidas.

Do que vivemos mesmo é do passado.

Quanto mais vivemos, mais acumulamos, ao longo dos anos, um sem número de recordações que passam a compor, realmente, a nossa história, dizendo, pra quem quiser saber, quais os motivos que nos fizeram existir.

O homem pode ser rico, poderoso e importante no presente... pode dar a impressão que será mais rico, poderoso e importante no futuro... mas é o seu passado, sem dúvida, quem vai definir a sua grandeza interior, a sua inteligência e, acima de tudo, o seu merecimento de receber o aplauso e a admiração dos que o rodeiam.

A partir deste domingo, dentro do Bom Dia, Saudade, vamos enfocar sempre, nesta espaço de tempo, muitas das recordações que ficaram em nossas vidas, que se tornaram lembranças inesquecíveis e que fazem parte do passado de todos os nossos ouvintes.

Vasculhando o passado de algumas gerações, vamos falar sobre amigos que já se foram, que partiram e deixaram saudade... que foram em busca de outras vidas, mas que fizeram questão de marcar as suas presenças entre nós com a genialidade dos seus talentos e com a fulgurância das suas inteligências.

A Crônica da Saudade será assim: um momento especial de recordação e de lembranças que haverão de trazer de volta figuras queridas que já se foram, mas que se tornaram, ao partir, mais presentes ainda em nossas vidas.

Para se viver bem o presente não podemos esquecer o passado.

Mais do que nunca, vamos recordar e viver.