sexta-feira, 30 de dezembro de 2011

A CRÔNICA DO DIA - 31/12/2012




ANO VAI, ANO VEM 


                  Sempre que a gente comemora, com muita esperança e alegria, a chegada de um novo ano, não se pode deixar de dizer adeus ao ano que vai embora, agradecendo a Deus por tudo aquilo de bom que foi possível realizar, ao longo dos 365 dias que já não existem mais, e que agora fazem parte do nosso passado.

                Como todos os anos das nossas vidas, 2011 foi repleto de bons e maus acontecimentos, que ora nos fizeram sorrir de felicidade e ora nos deixaram na mais profunda tristeza, já que as perdas foram bem mais significativas do que os ganhos obtidos ao longo do ano que hoje chega ao fim.

                  O Brasil inteiro lamentou as mortes de Lily Marinho, logo no dia 5 de janeiro, viúva de Roberto Marinho, o criador da Rede Globo; José de Alencar, industrial, ex-vice-presidente da República e uma figura querida e admirada por muitos; Itamar Franco, ex-Presidente da República, que deu sua contribuição ao crescimento do país; e Steve Jobs, que criou um mundo digital mais criativo para todos nós; além de geniais artistas, como John Herbert, Georgia Gomide, Nildo Parente, Elizabeth Taylor (quem jamais vai esquecer a eterna diva da sétima arte ?), Ami Jade Winehouse, Ítalo Rossi, Wilza Carla, Marcos Plonka e Adriano Reis, que ficaram famosos por suas interpretações, tanto na música como no cinema, tanto nos programas humorísticos como nas novelas de televisão, e resolveram, agora, sem qualquer aviso prévio, atuar nos palcos da eternidade. E que dizer do doutor Sócrates, que deu vida e criatividade ao nosso futebol, mas não conseguiu driblar a morte no último lance que teve pela frente ?  

                Foram muitas as vidas luminosas que se apagaram ao longo do ano que chegou ao fim, deixando o mundo, como um todo, um pouco mais sombrio.

          Como não lamentar a morte dos amigos mais próximos... dos parentes que se foram... dos companheiros que, até um dia desses, estavam presentes em nossas vidas, nos bate-papos de mesa de bar, no dia-a-dia e, de repente, se foram sem dizer adeus ?

             Na verdade, todos os anos das nossas vidas nos dão a impressão de que são feitos mais de tristezas que de alegrias. E sabem por que ? Porque justamente são os fatos mais marcantes aqueles que nos enchem tristeza ... que mais ferem os nossos corações... que mais nos fazem chorar e sofrer... e que, por isso mesmo, são os que jamais serão esquecidos, marcando para sempre as nossas vidas.

              O ano de 2011 foi muito bom, em termos de perdas vidas huma-nas, para a Paraíba, já que pouco ou quase nada tivemos a lamentar, mas o ano, em si, com relação ao desenvolvimento do estado, foi um dos piores dos últimos tempos.

                  Vamos agradecer a Deus por todos os frutos que conseguimos colher no ano que termina.

                  Que venha um feliz 2012 para todos nós.
                                                                      

quinta-feira, 22 de dezembro de 2011

CRÔNICA DO NATAL - dezembro 2011


CANTO DE NATAL



                Os povos de todo o mundo costumam comemorar, no final de cada ano, duas datas verdadeiramente significativas para a humanidade: o nascimento do Cristo, que é celebrado no dia 25 de dezembro – Dia de Natal -, e a Festa de Ano Novo, normalmente festejada na madrugada do primeiro dia de janeiro, quando, em várias nações dos diversos continentes, milhões de pessoas participam de uma verdadeira confraternização, saudando, com  muita alegria, a chegada de um novo período de 365 dias no calendário que rege as nossas vidas.

                     Embora os festejos que ocorrem em ambas as datas se equivalam em entusiasmo, beleza e intensas demonstrações de fé e de amizade, o Natal – especialmente à noite, quando todas as famílias se reúnem em seus lares para saudar o nascimento do Cristo -, representa, sem dúvida, um dos eventos que mais deixam transparecer a força da religião católica em quase todos os países do mundo.

                      Diferenciando-se dos festejos de fim-de-ano, quando a chegada de um novo ciclo em nossas vidas é comemorado com bebidas, fogos de artifício, música e muitos festejos mundanos, as comemorações de Natal, que ocorrem principalmente à noite, em todos os lares, costumam reunir famílias, em volta de uma mesa, para a ceia natalina, onde as orações mais puras se elevam aos céus e todos se cumprimentam, entre si, numa grandiosa manifestação de paz e amor.

                     O que existe verdadeiramente, nessas confraternizações, que se repetem, todos os anos, nas casas de milhões de famílias católicas em todo o mundo, é um verdadeiro hino de amor... um canto de Natal... um poema de paz que fala aos corações de todos os presentes... uma comemoração, enfim, que serve para solidificar cada vez mais os laços familiares que teimam em se desfazer com o passar do tempo.

                     No seu poema “O Natal Que Eu Quero”, o poeta Luiz Carlos Amorim diz tudo o que a gente está querendo dizer:

                    - Quero o Natal completo e por inteiro, verdadeiro;/ quero o Natal pulsando em mim e em todo o ser;/ quero o Natal nos olhos, como luz a colorir a vida e a semear a paz;/ quero o Natal nas mãos: carinho a segurar ternura; /quero o Natal nos lábios: canção a propagar a fé;/ quero o Natal no coração, multiplicando amor: presente maior que posso ter.

                     São esses os sentimentos que devem tomar conta de todos nós nesta noite de Natal, quando a história do filho de Deus se torna cada vez mais presente em nossos corações, iluminando, com a luz divina, todos os caminhos  que nos levam ao futuro incerto, aonde só poderemos chegar, um dia, guiados pelas mãos do Cristo.

                       O menino está chegando... vamos saudá-lo com muita alegria !

                                  

terça-feira, 20 de dezembro de 2011

CRÔNICA DA SAUDADE - 28/12/2012



O TEMPO E O VENTO


    No ano de 2005, o Brasil inteiro comemorou, mas não com o brilho e a intensidade que o acontecimento merecia, o centenário de nascimento de um dos mais conhecidos e respeitados escritores do século XX, autor de obras que ficaram para sempre integradas à história da literatura brasileira de ficção, onde poucos conseguiram se destacar nacionalmente.
     Nascido no dia 17 de dezembro 1905, Érico Lopes Veríssimo veio à luz na cidade de Cruz Alta, no Rio Grande do Sul, tendo, como pais, o casal Sebastião e Abegahy. Com apenas 4 anos, o pequeno Érico quase veio a falecer, vítima de uma meningite e uma broncopneumonia intensa, escapando graças a um tratamento sério realizado em Porto Alegre. Aos 13 anos, gostava de estudar no Colégio Elementar Venâncio Aires, assistia aulas particulares com a professora Margarida Pardelhas e, nas horas vagas, ou ia ao Cinema Ideal ou ficava na Farmácia Brasileira, do seu pai, onde lia autores nacionais, como Coelho Neto, Aluisio Azevedo, Joaquim Manoel de Macedo, Afrânio Peixoto e Afonso Arinos, além dos estrangeiros Walter Scott, Tolstoi, Eça de Queiroz, Emile Zola e Dostoievski. O jovem Veríssimo já mostrava pra que veio, destacando-se, no colégio Cruzeiro do Sul, onde estudava no internato, nas aulas de literatura, inglês, francês e no estudo da Bíblia. Depois de trabalhar no Banco do Comércio, em Cruz Alta, o nosso futuro escritor acabou como sócio da Pharmacia Central, naquela cidade, em 1926, onde, além das suas atividades como boticário, dava aulas particulares de literatura e inglês.
    Foi na revista mensal Cruz Alta em Revista, que Érico Veríssimo, mesmo a contragosto, publicou os seus primeiros contos, como Um Conto de Natal, Ladrão de Gado e a Tragédia de um Homem Gordo. A partir de 1930, passou a residir em Porto Alegre, disposto a viver dos seus escritos, tendo publicado, como diretor da Revista do Globo, sua primeira obra: Fantoches, uma coletânea de histórias na forma de peças de teatro. Foi também pela Globo que publicou, em seguida, o romance Clarissa, o ficção-científica Viagem à Aurora do Mundo e o A Volta do Gato Preto. Em 1947, começou a escrever a sua obra máxima: O Tempo e o Vento, previsto para ficar com cerca de 800 páginas, acabou ficando com quase duas mil e quinhentas páginas, sendo transformado numa trilogia, envolvendo O Retrato e O Arquipélago, considerado. uma obra-prima. Em 1971, publica o livro Incidente em Antares e, a partir de 1976, começa a escrever, sob o título Solo de Clarineta, as suas memórias, editando o primeiro volume em 1973.
     Além de tudo o que fez por nossa literatura, ainda nos deixou, dando continuidade à sua obra, o seu filho Luiz Fernando Veríssimo, um dos mais prolíferos e bem humorados escritores brasileiros, autor, dentre outras obras, do Homem Nu, O Analista de Bagé, Sexo na Cabeça, além das impagáveis aventuras do detetive Ed Mort..
      Tendo falecido, vítima de um enfarte, no dia 28 de novembro de 1975, há 29 anos exatos, impedindo-o de completar a sua autobiografia, Érico Veríssimo merece, ainda hoje, o reconhecimento e a saudade do povo brasileiro.
       O que o vento não leva, o tempo eterniza. 

       http://www.fraseseproverbios.com/frases-de-erico-verissimo.php                                                                       

quarta-feira, 14 de dezembro de 2011

CRÔNICA DA SAUDADE - 14/12/2011



TOM MAIOR
       
            No dia 8 de dezembro de 2011, especialmente no Brasil e em alguns outros países, como os Estados Unidos, onde viveu e atuou por muitos anos, milhares de pessoas lembraram, sem dúvida, a presença de Tom Jobim entre nós, chorando toda esse tempo vivido sem a genialidade e o talento de um dos maiores compositores e instrumentistas da história da música popular brasileira.                
                Nascido no dia 25 de janeiro de 1927, no bairro da Tijuca, no Rio, Antonio Carlos Brasileiro de Almeida Jobim, passando a residir em Ipanema em 1931, onde passou, menino ainda, a sua iniciação musical, aprendendo a tocar piano. Cursou arquitetura e chegou a trabalhar em um escritório. Casou-se em 1949 com Thereza Harmanny, tendo nascido, deste casamento, os filhos Paulo, que se tornaria músico como o pai, e Elizabeth, que se tornou artista plástica e participante da  Banda Nova, grupo que o acompanhou nos últimos anos de sua carreira., atuando no coro feminino característico dos seus trabalhos finais.           
              No início da sua carreira, Tom trabalhou, como pianista, nas melhores casas noturnas cariocas, como Drink, Bambu Bar, Arpége, Sacha’s, Monte Carlo, Night Day, Casablanca e tantas outras, revesando-se, às vezes, com Newton Mendonça, de quem se tornou grande amigo e com quem iniciou uma bem sucedida parceria musical, que gerou canções como Desafinado e Samba de Uma Nota Só, dentre outras. Foi com Newton que gravou o primeiro registro fonográfico de uma composição de sua autoria, em 1953, com a canção Incerteza. Em 1956 foi apresentado a Vinícius de Morais, que viria a se tornar seu parceiro mais importante, logo ali, no Bar Gouveia, em frente à Academia Brasileira de Letras, no Rio, oportunidade em que foi convidado a musicar a peça Orfeu da Conceição. Além de Vinicius, com quem fez músicas famosas como Só Danço Samba e Garota de Ipanema, Tom compôs outras melodias inesquecíveis com Dolores Duran, como é o caso de Se é por Falta de Adeus, Estrada do Sol e Por Causa de Você. Em 1962, viajou, pela primeira vez, aos Estados Unidos, onde participou, ao lado de outros artistas brasileiros, do show Bossa Nova, apresentado no Carnegie Hall, em Nova York.                                                  
                 No início dos anos 60, com o lançamento de dois LPs, o sucesso de Tom Jobim era tão grande, que chegou a vender, com a versão instrumental de Desafinado, gravada por Stan Getz e Charles Bird, mais de um milhão de cópias.                             
            Em 1965, gravou mais dois LPs que despontaram nas paradas: Antonio Carlos Jobim e A Certain Mr. Jobim, lançados pela Warner Bros, mas foi com o disco Francis Albert Sinatra & Antonio Carlos Jobim, em 1967, que recebeu mais uma indicação para o Grammy.
                 Tom Jobim faleceu no dia 8 de dezembro de 1994, há 17 anos, aos 67 anos de idade, em Nova York, no Hospital Mount Sinai.
             Foi o início de uma grande saudade que parece aumentar a cada ano, especialmente quando ouvimos a sua música.

http://www.youtube.com/watch?v=srfP2JlH6ls                                                                

segunda-feira, 12 de dezembro de 2011

O CONTO DO MÊS - dezembro 2011



         A VOLTA DE TEREZA                   
          Era  grande  a  preocupação  da  família  com  o  Heitor.  E  não  podia ser de outra  maneira. A  recente  tragédia  ainda estava ali,  presente em  todas  as  suas cores,  viva,  palpitante, suscitando  angústia e  dor, como  se  tivesse  ficado  impregnada  nas paredes , nos móveis,  em  cada  canto  daquela casa,  lembrando, a  todo  instante, a  beleza, o encanto, o sorriso e a ternura,  principais traços da personalidade de  Tereza, que  soube  reinar  como  uma  rainha naquele autêntico palácio à beira-mar. E  foi  assim que todos os familiares atenderam ao  chama-  do de dona  Rosinha,  a  matriarca dos Guimarães Pereira,  para  uma  reunião,  naquele  domingo  ensolarado,  na  mansão  da  praia,  onde  Heitor praticamente se enclausurara, após  a  morte  da  esposa.  O  objetivo  era  um  só: fazer com que o jovem viúvo voltasse a se interessar pela  vida  e  a  comandar  as  empresas do  pai,  como,  na verdade,  sempre fizera - e com sucesso -  depois que o velho, vítima de  um  enfarte,  nunca  mais  voltou à  plenitude de  suas  condições  físicas  e  mentais,  passando  a  viver,  quase  que  vegetativamente, numa UTI de  um  hospital.  Sendo filho único  e  herdeiro natural  de  uma verdadeira fortuna, Heitor não podia se dar ao luxo de se  ausentar das empresas por mais de três meses.
            - Precisamos fazer com que volte a sentir  interesse  pela  vida - argumentava a  mãe.  Afinal, a Tereza morreu. Nada pode mudar  isso. Temos  que  forçá-lo  a  aceitar  a realidade. Ele não pode continuar preso naquela casa, isolado  de  todos, sem atender a ninguém, como  a  esperar que Tereza venha ao  seu  encontro. Ela morreu. Nada  pode  alterar essa verdade. E ele  não pode continuar vivendo à espera de uma ilusão. Conto com todos vocês para o encontro deste domingo na  mansão da praia.
            E foi assim que, logo  cedinho, naquele domingo cheio de sol, dezenas de carros começaram a ser estacionados nos amplos jardins  da casa, conduzindo  os  parentes  mais  chegados e todos  os  diretores  das empresas da família.
            Todos sabiam que a  missão não era das mais  fáceis,  para  não  denomina-la  impossível. Aqueles  que conheciam Heitor mais de perto, que jamais o viram afastar-se de uma  decisão  tomada,  sabiam,  melhor que os outros, das dificuldades que teriam pela frente. Imaginavam a dor que o abatêra. E  respeitavam o seu  sofrimento. O seu  desejo  de  isolar-se  por  um  tempo.  Só que o isolamento estava prolongando-se além da conta.  Especialmente  para ele, que deixara de ser, com o afastamento do pai, apenas um homem, para ser um conjunto de empresas, responsável direto pela vida de centenas de  pessoas,  que  dependiam das  suas  decisões  para continuar sobrevivendo.  Ao negar-se a  receber seja quem fosse, isolando-se inteiramente  naquela  casa, sem o mínimo contato com o mundo exterior,  todos, a pedido da própria dona Rosinha, resolveram  acatar aquela decisão. Mas os dias foram  passando. As semanas. Os meses. Agora - entendiam  todos -,  alguma  providência  tinha  que  ser  tomada.  Não  era  possível  continuar  de  olhos  fechados, como se  nada  estivesse  acontecendo, enquanto o Heitor, sem atender sequer  a  telefonemas,  permanecia dentro daquela casa, esperando a volta de Tereza.
             Para servi-lo, permitiu apenas a presença  da  velha  Engrácia, que  praticamente o  criou, com  seus quase trinta anos  de  bons  serviços prestados à família.
             Por telefone, era a  fiel  serviçal  que  mantinha  dona  Rosinha  informada  sobre  tudo  o que ocorria no casarão, onde se sentia  perdida, sem ter uma  só  pessoa com quem conversar.
           - Isso aqui tá cada  vez  mais triste, dona Rosinha - disse, na última vez em que  telefonou. O menino continua trancado no quarto  de  cima, deitado na cama de casal, esperando  dona Tereza voltar. Tem  dia que não come nadinha. Nem  toca na comida que levo. A bandeja  volta  do jeito que foi. Chega tá  magrinho, coitado. E não fala nada. Se eu puxo conversa, ele nem liga. Se  fecha no quarto de novo e fica lá, deitado, olhando pro retrato da patroa.
          Foram essas  informações  da Engrácia,  afora  a  preocupação  de todos  com  os  destinos das empresas, que fizeram com que dona Rosinha, a  despeito  da  intransigência  do  filho,  marcasse  a  reunião,  que  já se iniciava na imensa sala de visitas.
        - Além das preocupações  tipicamente  maternas, que  me deixam transtornada com a  situação  do  meu filho - disse, dirigindo-se a todos, a matriarca -,  aflige-me,  também,  os  problemas que envolvem  as empresas, que é o principal motivo da maioria dos que aqui estão.  Subirei  ao quarto e convocarei o Heitor  para a reunião, sem saber, ao  certo, à essa altura, se  ele  atenderá  ou  não ao meu apelo.
            Diante da porta  do  quarto, bateu levemente e se fez anunciar:
           - Heitor... está me ouvindo ? É sua mãe... Preciso  falar  urgentemente com você.
            Silêncio.
          - Abra  a porta  por  um  momento - pediu.
             Nada.
           - Abra a  porta,  meu  filho - insistiu.
             De dentro,  nem  um  ruído sequer.
            - Estamos reunidos  na sala à sua espera. Temos assuntos inadiáveis  a  tratar.  Assuntos que  dependem de sua decisão.  Vamos  aguardar a sua  presença.  Não sairemos de lá enquanto não comparecer. Ficaremos a tarde e a  noite  toda,  se for preciso. Mas não sairemos  sem  antes falarmos com você.  E,  além  de tudo  isso, estou louca  de  saudade.  Preciso vê-lo... abraçá-lo... beijá-lo. Não me falte. A sua mãe ainda está viva e precisa de você.   
          Sem  dizer  mais nada,  dona Rosinha desceu as escadas devagar  e  foi  amparada,  já  nos  últimos  degraus, pela velha Engrácia.
        - Ele vai descer ?
       - Não  sei, minha querida. Na verdade, não sei. Ele não disse uma única palavra.
        As duas se encaminharam para uma das varandas e,  por  alguns minutos, ficaram em  silêncio, observando, do alto daquela encosta, as ondas quebrando nas  rochas,  lá embaixo.
        - No dia em que  eles se casaram, a maré tambem estava cheia, como agora, com esses vagalhões indo de encontro aos rochedos e fazendo idêntico  barulho  -  lembrou dona Rosinha, com os olhos cheios de lágrimas.   Ele estava  extremamente feliz. Abraçou-me aqui nesta varanda , e  confessou  sua  alegria. “Sou um homem de  sorte:  tenho a melhor  mãe  do  mundo  e  acabo de encontrar a mulher da minha vida !” - disse, sorrindo. E era uma verdade,  pelo menos  no que se referia à Tereza. Jamais vi duas pessoas tão apaixonadas. Eles se amaram como só se pode amar uma vez na vida: com toda a intensidade possível. Era lindo vê-los juntos,  desdobrando-se  nu- ma sequência  de  carinhos,  tão bonitos e felizes, como se fossem uma  só  pessoa.  Se é  verda- de que cada ser humano tem direito à  sua  outra  metade,  cabendo-nos  procurá-la  pelos  cami-  nhos  do  mundo, Tereza  era,  sem dúvida, a parte que faltava ao Heitor.  Ninguém  poderia  ima- ginar, no entanto, o que estava por acontecer. Na  noite  de  núpcias,  após  horas  inesquecíveis  do  mais puro amor, Tereza  adormeceu  nos braços de Heitor e nunca mais despertou.  No outro  dia, em  prantos, descobriu  que  ela  estava  morta.  Havia sofrido  um colapso cardíaco  durante  a noite e,  sem  emitir  um só gemido, despedira-se da vida.
          A pobre e sofrida  Engrácia apenas baixou a cabeça e, com lágrimas nos olhos e com  uma  expressão  de profunda tristeza no rosto, perguntou:
        - A senhora acha que o nosso menino voltará a ser o que era antes, após sentir  tão  grande dor ?
       - Não  sei,  Engrácia - respondeu, angustiada, a mãe. Sinceramente, não sei. Foi um golpe duro  demais para ele. Só o tempo será capaz de dizer se terá forças para  retornar à  uma  vida  normal.
        - Um dia desses -  lembrou  a velha serviçal -, falou-me  pela  última  vez. Abriu  a  porta  do quarto e me disse: “Você e mamãe têm  que acreditar em mim. Tereza logo  estará de volta. Quando isso  acontecer, tudo voltará ao normal”.
       - Os mortos não voltam - concluiu, aflita, dona  Rosinha. E  nós  duas  sabemos  muito  bem disso.
        As horas passavam lentamente. As pessoas, espalhadas pelos diversos cômodos  da  mansão, fica-vam, em pequenos grupos, ora em silêncio, ora  falando  baixinho,  à  espera  de  um  improvável desfecho: a chegada do Heitor ao  recinto  da reunião. Por  volta  da  meia-noite,  dona Rosinha achou que não  adiantava mais esperar e pediu à todas as pessoas presentes que comparecessem à sala de visitas.
         - Já esperamos demais - disse, com voz embargada.
         Neste exato momento, as luzes da mansão se apagaram e se acenderam,  por  repetidas  vezes, como  se um grave defeito tivesse ocorrido na rede elétrica. Enquanto todos  se  entreolhavam,  assustados, um  trovão ribombou lá fora, e mais outro,  prenunciando  uma  sequência  de  raios, que  passou a  iluminar  o firmamento,  coberto, de  repente,  por  núvens   negras  e  pesadas. Só que a tempestade não veio. O que veio foi um silêncio estranho,  que  invadiu  a  casa  e dominou as pessoas, até  que  a  voz de Heitor se fez ouvir no alto  da  escada.
        - É uma felicidade,  meus  amigos, recebê-los em minha casa, para uma reunião  !
         Todos olharam espantados, enquanto o Heitor,  alegre  e  feliz,  de braços abertos, começava a descer  a escada, abraçando a mãe - ainda sob o impacto da surpresa - e apertando as mãos  dos amigos.
         - Parem de me olhar desse jeito e vamos à reunião.
          Todos  ouviram o Heitor falar dos planos para o futuro das  empresas, dar  conselhos  aos  diretores  sobre os problemas apresentados  e  se despedir de todos, dizendo:
          - Amanhã, logo cedinho, estarei no batente. Conto com vocês.
           Após beijar a mãe que, mais tranquila e feliz, voltara a sorrir, pediu licença  a  todos  e  voltou  ao  seu quarto.
            Ao fechar a porta, o ambiente semi-escuro viu-se iluminado por uma luz azulada.
           - Deu tudo certo. Preferi não dizer a ninguem que você tinha voltado. Que nunca mais vai me deixar. Que está aqui ao meu lado para sempre. Que não estou mais sozinho.
            Ao seu lado, ninguém. Nada que os olhos comuns pudessem ver. Apenas aquela luz azulada que o envolvia a todo instante e  que  se  fez mais  incandescente  ainda  quando se deitou na cama, sussurando palavras de amor.
            - Nunca mais me deixe,  Tereza ! Não posso viver sem você !
             No dia seguinte, a cama em desalinho denunciava tudo o que acontecera  naquela  noite fantástica.
              Engrácia foi recebida  com um beijo e serviu o café da manhã a  um  Heitor  exultante  de alegria, que se alimentou muito bem e, de pasta na mão, dirigiu-se ao carro na garagem.
              - Tem certeza que está tudo bem, patrãozinho ?
             - Tudo  bem,  Engrácia.  E por que não estaria ? Vamos  ao  trabalho. Tenho  muito  o que fazer.
               Antes  de  dar  partida  ao carro, disse à Engrácia:
               - Não me pergunte porquê. Leve uma bandeja com  um café-da-manhã ao meu  quarto. Deixe lá.
              Quando o  carro  afastou-se, a velha levou o café ao quarto.
              Por via das dúvidas, com tudo aquilo que a Tereza mais gostava.  
                
  


     

segunda-feira, 5 de dezembro de 2011

CRÔNICA DA SAUDADE - 05/12/2011



“SEU” CABRAL E O TEATRO


        Campina Grande festejou, no último dia 30 de novembro, o quadragéssimo oitavo aniversário de fundação da sua maior marca cultural: o Teatro Municipal Severino Cabral.
           Como sempre acontece, todos os anos, no mês de novembro, muitas festividades ocorrem no palco daquela casa de espetáculos, que tem sido, ao longo do tempo, desde a sua inauguração, uma fonte de inspiração para a criação de não sei quantos eventos de repercussão nacional, como é o caso do Festival de Inverno – sem dúvida, o mais conhecido de todos.
          Em 1962, o prefeito Severino Cabral – ou simplesmente “seu” Cabral, como era mais conhecido – estava em dúvida quanto a obra que deveria construir no último ano da sua administração. Seus principais assessores tinham colocado em sua mesa, para apreciação, dois grandes projetos. Um deles – e o mais badalado – era um viaduto que seria construído na Floriano Peixoto, na confluência com a Cardoso Vieira, dando, àquela época, ares de modernidade à Rainha da Borborema. Viaduto Severino Cabral – pelo jeito, “seu” Cabral tinha gostado da idéia. O outro, era o projeto de um teatro, que preencheria uma lacuna existente na cidade. Qualquer uma das realizações, daria, sem dúvida, ao prefeito, o aval e o aplauso do povo campinense.
          Sendo assessor de imprensa de “seu” Cabral e tendo notado um ar de aprovação no seu rosto ao contemplar o projeto do viaduto, tratei de reunir os intelectuais da casa para um contra-ataque em defesa do teatro. Na chefia da Casa Civil, estava o poeta e escritor Figueiredo Agra – irmão da professora Elizabeth Marinheiro. Na Comunicação, lá estava o jornalista Epitácio Soares, cronista dos melhores. Juntamos outros tantos nomes e começamos a cercar o prefeito por todos os lados, mostrando a importância  do teatro para o desenvolvimento cultural da cidade.
           Embora não fosse muito ligado às letras e às artes, “Seu” Cabral, que pouco sabia ler e escrever, era um dos administradores mais notáveis que conheci, tendo sido, por isso mesmo, um político imbatível em memoráveis campanhas eleitorais.
             Ao entrar no seu gabinete, no entanto, ele já sabia o que seria melhor para o povo e anunciou:                          
             - Vamos começar a construir o nosso teatro  !
           E foi assim que o prefeito, considerado por muitos como inculto, construiu, em Campina, a maior oficina cultural da cidade, cuja inauguração, em 1963, há quarenta e sete anos atrás, foi a alavanca que faltava para acelerar o progresso da maior cidade do interior nordestino.
           “Seu” Cabral não era homem de leitura, mas via longe... via além da pedra e do cal das obras de engenharia... via, por cima de tudo isso, a força cultural do povo de Campina Grande .



                  

terça-feira, 29 de novembro de 2011

CRÔNICA DA SAUDADE - novembro 2001




           UM LAGO ENCANTADO




              Mário Lago foi um dos mais autênticos radialistas que já conheci. Já famoso como compositor, poeta, escritor, teatrólogo e ator, ele se vangloriava de só se sentir em casa, realmente, quando estava ali, nos estúdios da Rádio Nacional do Rio de Janeiro, ao lado dos colegas de profissão, como pude vê-lo, no início dos anos 60, preparando-se para gravar um dos capítulos de mais uma de suas famosas novelas radiofônicas. Com aquele seu jeitão de filosófo e de profeta, costumava dizer: O meu orgulho é ser radialista.
                Pertencente à uma família de músicos, Mário Lago não tinha como não ser um grande e talentoso compositor. Filho do maestro Antonio Lago, Mário nasceu no Rio de Janeiro, no dia 26 de novembro de 1911. O Brasil inteiro deveria estar comemorando o centenário do seu nascimento, não acham ? Seus avós, tanto o materno Giuseppe Croccia, quanto o paterno, José Lago, eram músicos. Ambos tiveram grande influência na trajetória de vida de um dos mais consagrados compositores da música popular brasileira.
            No dia 26 de novembro, em todo o Brasil – quando Mário, se estivesse vivo, completaria 100 anos – muita gente foi à televisão, especialmente à Rede Globo, onde ele, durante tantos anos, mostrou o seu talento - para lembrar  a importância do grande ator, escritor, musicista e autor de letras de obras musicais que ficaram para sempre na história da música popular brasileira, isso sem falar no que deixou escrito, com sua natural genialidade, em jornais e revistas, assim como nas dezenas de novelas que escreveu para o rádio e para a TV, além de peças de teatro.
        Era advogado, mas praticamente não exerceu a profissão, preferindo escrever para o então florescente teatro-de-revistas, onde produziu peças de sucesso, tornando-se, ao mesmo tempo, um excelente compositor e um ator genial, tendo se tornado um dos mais renomados galãs do teatro de comédia brasileiro nos anos 40. Quem pode negar seu talento invulgar como compositor, quando lembramos alguns dos seus maiores sucessos, como Ai que saudade da Amélia e Atire a Primeira Pedra, que Ataulfo Alves imortalizou ? E como teria sido o carnaval brasileiro sem a sua Aurora, marchinha que ficou para sempre ? E o nosso cancioneiro romântico como teria ficado sem o fox Nada Além, sucesso nacional com Orlando Silva, além de outras paginais imortais na voz do “cantor das multidões”, como Dá-me Tuas Mãos e Número Um, ou aquele maravilhoso Devolve, interpretado por Carlos Galhardo ? E que dizer do samba-canção Fracasso, que se imortalizou na voz de Francisco Alves ? E aquele É Tão Gostoso, seu Moço, sucesso com Nora Ney ? E o belíssimo Rua Sem Sol, com Ângela Maria ?
          Radiator e autor de programas radiofônicos de grande repercussão, Mário Lago foi um dos expoentes máximos da Rádio Nacional do Rio de Janeiro. Politicamente, no entanto, fez parte dos quadros do Partido Comunista Brasileiro por 50 anos e, por causa de sua intensa militância política, sofreu represálias durante a ditadura Vargas e a ditadura militar, tendo sido preso em várias ocasiões. A partir de 1966, passou a atuar, como ator, nas novelas da Rede Globo, onde se consagrou nacionalmente.
               Morreu no dia 31 de maio de 2002, no Rio, mas a sua memória não deve ser esquecida: Mário Lago é uma daquelas pessoas que nasceram pra viver para sempre. Como um lago encantado. Ali. À nossa frente. Onde a gente possa admira-lo a todo instante, com suas águas calmas e serenas. Eternamente.

quarta-feira, 23 de novembro de 2011

COMENTANDO A NOTÍCIA - 23/11/2011




A NOTÍCIA: - O governo do Distrito Federal mudou o nome do estádio, em Brasília,  para Estádio Nacional, mas isso está dando uma confusão danada. Em Brasília e em todo o Brasil, é a polêmica da vez: o governo do Distrito Federal mudou o nome do Estádio Mané Garrincha para Estádio Nacional. Tem até abaixo-assinado contra a mudança. A torcida ficou uma arara – não só do Botafogo, onde Mané Garrincha jogou.

NOSSO COMENTÁRIO:

                                                        
                                                       UM DRIBLE NO POVO

                          Como a abertura da Copa do Mundo de 2014 será feita no Estádio Mané Garrincha, em Brasília, com transmissão da festa inaugural do evento para todo o mundo, via rádio e TV, além de uma completa cobertura jornalística, envolvendo todos os veículos de divulgação, está claro que o governo brasiliense elegeu o acontecimento como a oportunidade que faltava para divulgar os encantos e o progresso da capital do país, mostran-do, em primeiro plano, o novo e monumental estádio que se encontra em obras, visando a grande festa do esporte mais reverenciado pelo nosso povo.

                               O Governo do Distrito Federal botou mãos à obra, arranjou dinheiro ninguém sabe onde e , num abrir e fechar de olhos, deu início a reconstrução do estádio que deverá servir de palco para a abertura da Copa, cujas obras seguem em ritmo acelerado e, como era de se esperar, devidamente superfaturado.

                              O povo brasileiro, já acostumado a lidar com o superfaturamento dessas obras inesperadas e inadiáveis, estaria disposto a fechar os olhos para tudo o que o coração não sente, desde que os prejuizos de hoje se transformassem no sucesso de amanhã, quando o mundo aplaudisse a organização e a beleza da Copa de 2014.

                              Por baixo do pano, no entanto, as autoridades governamentais toma-ram uma decisão que foi um verdadeiro drible no povo brasileiro: mudaram o nome simples e popular do estádio – Estádio Mané Garrincha – para um nome que, aos olhos do Governo, daria mais força ao evento: Estádio Nacional de Brasília.

                             Os protestos já começaram e não serão apenas dos botafoguenses, como eu, que vibraram com as jogadas do genial Mané Garrincha, não só no Botafogo, como na Seleção Brasileira, mas de torcedores de todos os clubes do país, que tinham, no eterno driblador, o seu grande ídolo, independente da camisa que vestia.

                            Se o Governo do Distrito Federal deseja se sair bem nesta Copa do Mundo, mostrando todos os encantos de Brasília, deve começar com uma demonstração de respeito aos ídolos do esporte que pretende promover, mantendo o nome original do estádio e, mais ainda, inaugurando, na oportunidade, um grande museu, mostrando quem foi o nosso Mané  Garrincha e qual a sua importância para o desenvolvimento do futebol brasileiro.

                             Garrincha fez parte de uma fase importante do nosso futebol e foi a sua presença, não só em partidas memoráveis que disputou pelo Botafogo, ao lado de Nilton Santos, Didi, Gerson e tantos outros, onde as suas jogadas e os seus dribles fizeram história,  mas – e principalmente – na seleção brasileira, onde, com suas pernas tortas, encheu de alegria um país inteiro.

                                 Quando o novo estádio de Brasília recebeu o nome de Mané Garrin-cha, os aplausos, na sua inauguração, vieram de todo o país.

                           Se o governo do Distrito federal insistir na mudança do nome do Estádio, em vez de aplausos, ele ouvirá uma vaia que virá, com certeza, de todos os recantos desta imensa nação.    


quinta-feira, 17 de novembro de 2011

CRÔNICA DA SAUDADE - 19/11/2001



PRESENÇA DE AUGUSTO


      Não há como separar o poeta da sua terra natal. Por mais que ele tenha vivido no sul do país, a sua história, como a sua sombra, teria de ficar aqui.

      Augusto Carvalho Rodrigues dos Anjos nasceu logo ali, em Cruz do Espírito Santo, no dia 20 de abril de 1884, filho de Alexandre Rodrigues dos Anjos e de Sinhá Mocinha – dona Córdula de Carvalho Rodrigues dos Anjos. A partir daí, a vida do maior poeta brasileiro é uma presença constante e marcante na história de João Pessoa. Em 1900, começa a estudar no Lyceu Paraibano e escreve o seu primeiro soneto: “Saudade”. Em 1901 passa a colaborar com o jornal O Comércio, da capital, onde publica vários sonetos que haveriam de fazer parte do livro Eu e outras poesias.

       Muitas são as datas determinantes em sua vida que o tornaram cada vez mais ligado à esta cidade. Em 1905, amargurou a morte do dr. Alexandre, seu pai. Em 1907 concluiu o curso de Direito no Recife e, no ano seguinte, transferiu-se para João Pessoa, onde passou a dar aulas particulares. Neste mesmo ano, morreu Aprígio Pessoa de Melo, padrasto de sua mãe e patriarca da família, deixando o Engenho Pau Darco em grave situação financeira. Augusto passou a lecionar no Instituto Maciel Pinheiro e foi nomeado professor do Lyceu Paraibano. Os leitores do jornal A União já começavam a se encantar com os sonetos publicados por Augusto. Foi assim com o soneto Budismo Moderno e numerosos outros poemas. No Teatro Santa Roza, nas comemorações do 13 de maio, chocou a platéia com suas palavras aparentemente sem nexo e bizarras. Publicou ainda, em A União, os sonetos Mistério de um fósforo e Noite de um Visionário. Aqui mesmo, casou-se com Éster Fialho. Sua família vende o Engenho Pau Darco e ele, sem conseguir licenciar-se do Lyceu, demite-se e embarca com a mulher para o Rio de Janeiro. Em 1911, Augusto é nomeado professor de Geografia, Corografia e Cosmografia do Ginásio Nacional – atual Colégio Pedro II. Nasce sua filha Gloria. Colabora no jornal O Estado e dá aulas na Escola Normal. Augusto e seu irmão Odilon custeiam a impressão de 1.000 exemplares do livro Eu. A crítica o recebe ao mesmo tempo com aplauso e repulsa.  Nasce seu filho Guilherme Augusto. Em 1914 publica O Lamento das Coisas na Gazeta de Leopoldina, dirigida por seu concunhado Rômulo Pacheco. É nomeado diretor do Grupo Escolar de Leopoldina, para onde se transfere. Doente desde o dia 30 de outubro, faleceu às 4 horas da madrugada do dia 12 de novembro, de pneumonia, aos 30 anos de idade.

        Fiz questão de contar a história da vida de Augusto dos Anjos com a mesma rapidez que ele impôs à sua passagem entre nós.

        Mas ficou patente que ele não tem como fugir das suas profundas raízes com a Paraíba: como todo bom escritor paraibano, estudou no Lyceu, publicou versos em A União e jamais será esquecido pelo seu povo.

        Vida breve... presença eterna.

quarta-feira, 9 de novembro de 2011

COMENTANDO A NOTÍCIA - 09/11/11




A notícia: O ex-governador da Paraíba, Cássio Cunha Lima (PSDB-PB), tomou posse hoje (9) como senador, após ter sua eleição, em 2010, reconhecida pelo Supremo Tribunal Federal. Cunha Lima teve sua eleição barrada pela Lei da Ficha Limpa, mas diante do entendimento do STF sobre a validade da lei, não atingindo as últimas eleições, foi conduzido ao cargo no lugar de Wilson Santiago (PMDB-PB).

Nosso comentário:
                             
                                     EM NOME DA JUSTIÇA

                 Prometi a mim mesmo, ao divulgar o comentário que fiz , logo após o resultado das eleições de 2010, saudando, com o entusiasmo natural de qualquer eleitor que vibra com a vitória do seu candidato, a confirmação já esperada por mais de um milhão de votantes de que Cássio Cunha Lima estava eleito como Senador da República, que jamais voltaria a comentar uma notícia em nosso país, antes da sua confirmação definitiva e com a certeza de que nada mais poderia impedir a sua concretização.
                 Foi assim que tive a devida paciência para, ao longo dos meses, suportar, sem espernear, tudo o que aconteceu com Cássio e com seus eleitores, deste o dia em que, com base na Lei da Ficha Limpa, o candidato mais votado para Senador no estado da Paraíba não pôde tomar posse no cargo folgadamente conquistado, provocando, não só nele como no seu eleitorado, uma grande e dolorosa frustação.
                  Acompanhei, sem querer acreditar no que estava acontecendo, tudo que se passou até então, com a verdadeira batalha jurídica que se travou em seguida, mas com uma certeza, lá no íntimo, de que, mesmo no Brasil de hoje, com tantos motivos para se duvidar da justiça, os paraibanos que haviam votado em Cássio teriam de reconquistar a sua esperança de que a vitória do povo está na força das urnas.
                Após a posse, o senador Cássio Cunha Lima fez questão de afirmar que não é contra a Lei da Ficha Lima, mas fez um alerta sobre as falhas provocadas pela emoção no momento em que foi aprovada, precisando, assim, de reparos.
             - O que houve, naquele instante – disse Cássio – foi uma necessidade política do Congresso de responder à uma demanda da sociedade. E, como sabemos, a pressa é inimiga da perfeição, e legislação, assim, foi produzida em confronto com a própria legislação.  
                 Tranquilamente, Cássio continuou falando sobre a injustiça sofrida:
                 - Mais do que uma ficha limpa, tenho uma vida limpa. Fui prefeito por três mandatos, governador por dois mandatos e não tenho condenação por improbidade. A punição que sofri foi no campo social, quando a justiça entendeu que um programa nosso, bem parecido com o Bolsa Família, interferiu no resultado da eleição.
                Agora, já devidamente empossado, O que Cássio deve fazer é arregassar as mangas para recuperar o tempo perdido, já que os meses que ele perdeu com uma batalha jurídica, ao invés de estar trabalhando em favor da Paraíba e dos paraibanos, jamais serão recuperados.
              Melhor que ninguém, é o que Cássio sabe fazer melhor: tenho certeza de que aquilo que a gente espera que faça em favor da nossa terra, ele fará, sem dúvida, surpreendendo, como sempre, com sua coragem e com seu dinamismo.
                             

                                                                             

segunda-feira, 7 de novembro de 2011

CRÔNICA DA SAUDADE - 07/11/2011


                                         
                                           O GENIAL ARY BARROSO



         Logo no começo deste mês de novembro, no dia 7, não existe uma motivação mais forte para uma Crônica da Saudade do que a lembrança da passagem da data que assinala o aniversário de nascimento de um dos maiores compositores do Brasil, autor de músicas consagradas no país e no exterior, que é Ary Barroso.
        Em 2003, no centenário do nasscimento de Ary Barroso, a Rede STV Sesc/Senac foi a única a produzir um documentário especial de 60 minutos sobre  a vida deste brasileiro único, intitulado “O Brasil Brasileiro de Ary Barroso”, com depoimentos de Sergio Cabral, Carminha Mascarenhas, Carmélia Alves, Roberto Luna e a filha do homenageado, Mariúza.
           Ary Evangelista de Resende Barroso nasceu em Ubá, Minas Gerais, na Fazenda da Barrinha, no dia 7 de novembro de 1903. Órfão de pai e mãe, ainda criança, foi criado pela avó materna e por uma tia. Aos 12 anos, já tocava piano no cinema de sua cidade, fazendo fundo musical para filmes mudos. Em 1920, mudou-se para o Rio de Janeiro, onde formou-se em direito, mas foi sòmente em 1928 – durante uma temporada que passou em Santos e em Poços de Caldas - que começou a compor as suas primeiras produções, como “Eu vou à Penha” e “Vamos Deixar de Intimidade”, que foram bem recebidas pelo público, já que estavam incluídas no seu primeiro disco. Em 1930, Ary venceu o concurso carnavalesco daquele ano com a marcha “Dá Nela”, mas foi com o samba-exaltação “Aquarela do Brasil”, em 1939, que ele se celebrizou, inovando a música popular brasileira, incorporando ao acompanhamento células rítmicas até então só conhecidas em instrumentos de percussão. Em cima da mesma linha patriótica, Ary Barroso compôs outras músicas, igualmente famosas, como “Na Baixa do Sapateiro”, em 1938, “Brasil Moreno”, em 1942, e “Terra Seca”, em 1943. Em 1944, convidado por Walt Disney, Ary Barroso fez a música do filme “Você Já Foi à Bahia ?” e foi premiado pela Academia de Ciências e Artes Cinematográficas de Hollywood.
            Como locutor e cronista esportivo, Ary Barroso fez fama na Rádio Tupi, do Rio (especialmente por torcer abertamente pelo seu Flamengo !), tendo criado, ao longo do tempo, vários programas, dentre eles o “Hora do Calouro” , de onde surgiram alguns dos maiores intérpretes da música popular brasileira, como Elza Soares e tantos outros. Recebeu a Ordem Nacional do Mérito, em 1955, como o mais patriota dos nossos compositores em todos os tempos.
           Morreu no Rio de Janeiro, num domingo de carnaval, no dia 9 de fevereiro de 1964, após dizer, por telefone, ao seu amigo David Nasser: Acho que vou morrer. Estão tocando as minhas músicas no rádio. Ary Barroso virou saudade e, no aniversário do seu nascimento, as suas músicas deveriam ser tocadas por esse Brasil a fora, homenageando, assim, quem tanto, em vida, homenageou a nossa terra.
            Esse Brasil, sem dúvida, que dele recebeu todo o seu amor e toda a sua admiração, através de suas composições que jamais serão esquecidas, deve reverenciá-lo hoje e sempre.

             http://www.youtube.com/watch?v=gycZSBu1yjI

quinta-feira, 3 de novembro de 2011

O CONTO DO MÊS - novembro 2011




              A MORTE DO ALFREDINHO 

     O pior da gente completar setenta anos são as  notícias  que nos chegam sobre a morte de amigos que estão justamente dentro da nossa faixa de idade. Quando menos se espera, aparece alguém pra conversar, trazendo sempre a notícia do falecimento de um conhecido.
              - Sabe quem morreu ?
              - Não.
              - O Alfredinho.
              - Que Alfredinho ?
              - O cardiologista. Aquele que fez teu check-up.
              - O Alfredo Borba ?
              - Ele mesmo.
              - De que foi ?
              - Do coração. Enfarto fulminante.
              A cada notícia dessas, por mais que se procure disfarçar, não dá para esconder o susto que se leva com a tristeza pela morte do amigo e com a incerteza quanto ao que poderá acontecer amanhã.
              Todos nós temos que morrer um dia - raciocinamos. Preciso acostumar-me com esses  porta-vozes fúnebres. Por que devo abalar-me com a morte, se ela é inevitável ?
              E decidimos:
              - Daqui pra frente não vou dar mais a mínima pra isso.
              O que não está nos planos é aquela dor no braço esquerdo, tendo um amigo mais jovem como confidente.
              - Pode ser um torcicolo, não acha ? - perguntamos.
              - Talvez.
              - Que quer dizer com esse “talvez” ?
              - Como sou seu amigo, acho que deve procurar um médico.
              - Besteira.
              - O Alfredinho começou assim. Queixou-se de uma dor no braço esquerdo quando a gente tomava um uísque no bar da sua casa. E olha que ele era cardiologista...
              Temos que ter calma, mas não podemos facilitar. O certo é procurar um médico.
              - Como vai esse grande jornalista ?
              - Com uma grande dor no braço esquerdo.
              - E está com medo, hein ?
              - É que a dor incomoda...
              - Temos a mesma idade. Sei o que sente.
              - Resolvi procura-lo pela amizade que nos une, desde os tempos de colégio.
              - Principalmente agora, com a morte do Alfredinho.
              - Não me fale mais nisso.
              - Vamos fazer um eletro.
              Já que começamos, temos que ir até o fim. O negócio é não se impressionar com as entrelinhas.
              - O eletro deu em ordem.
              - Ainda bem.
              - Mas alguns exames nem tanto.
              - Que quer dizer ?
              - Como vai o cigarro ?
              - Bem, obrigado.
              - Quantos por dia ?
              - Dez... quinze...
              - Procure diminuir. Se não puder deixar o fumo, mantenha o mínimo - apenas o suficiente para acalmar o vício.
              - Tem também a tosse... aquela gosma...
              - Aí não tem jeito. Só deixando o cigarro de vez.
              - Vamos mudar de assunto.
              - Mande despachar esta receita e cumpra as instruções à risca. Vai melhorar da tosse.
              - E no mais ?
           - Não adianta se preocupar com  o resto. Na nossa idade, temos uma expectativa de vida. Com um pouco de cuidado, dá pra alcançar esses anos que nos restam...
              Podemos concluir, depois dessa, que o melhor mesmo é nunca procurar um médico da nossa faixa de idade.
              - Voltou cedo pra casa... Que houve ?
              - Nada, querida.
              - Soube da morte do Alfredinho ?
              - Soube.
              - A Dina me ligou. Foi de repente. Estava tomando um uísque com uns amigos.
              - Eu sei.
              - Vamos ao velório.
              - Temos que ir... mesmo ?
              - Claro. Ele era seu amigo.
              - Essa dor no braço esquerdo...
              - Deve estar cheio de médico por lá. Aproveite e faça uma consulta.
              - De que adianta ? Será que o Alfredinho se esqueceu de se consultar ?
              - Realmente, é desestimulante. Justo o Alfredinho, o melhor cardiologista da cidade, morre do coração.
              - Dizem que foi de repente. Pum. Sem tempo pra nada.
              - É. E ele nunca sentiu dor nenhuma. Principalmente no braço esquerdo.
              - Vou tomar um bom banho.
              Em certos momentos, como no velório de um amigo - especialmente quando esse amigo tinha a mesma idade da gente, e se cuidava bem mais do que a maioria dos mortais, pois era médico -, aí, sim, é que temos que nos fazer de forte.
              - Meus pêsames, Dina. Lamento.
              - Oh, meu Deus... ainda ontem ele falou em você !
              - Falou em mim ? E o que disse ?
              - Disse que estava preocupado com sua saúde... que você precisava se cuidar... que estava  tossindo demais !
              - Ele... disse isso ?
              - Sempre tão preocupado com a saúde dos outros, acabou esquecendo-se da sua.
              Temos que aguentar o choro da família, enxugar as lágrimas da viúva, e aproveitar, ao entrarmos estrategicamente no banheiro, para olharmo-nos ao espelho, o que nos vai deixar mais apavorados ainda.
              - Que houve comigo ? Estou velho !
              Liquidado, a ponto de entrar em pânico, pegou a mulher pelo braço:
              - Despeça-se da Dina. Invente qualquer coisa. Vamos embora.
          No outro dia, nada de enterro. Devemos fugir de cemitério. E mais: quando alguém chegar com uma notícia daquelas, é melhor fugir como o diabo foge da cruz
              - Sabe quem morreu ?
              - Nem sei nem quero saber.
              - Mas é seu amigo...
              - Que tal uma cervejinha gelada no bar da esquina ?
              - Mas...
              - Eu pago.
              Até os setenta, existem a vida e a morte. Depois, só a vida.
              Ou o que resta dela.
              É melhor aproveitar.