quarta-feira, 21 de agosto de 2013

CRÔNICA DA SAUDADE - agosto de 2013




                                                                                  



                                          SAUDADES DE ISAURINHA


Hoje, logo cedinho, inventei de ligar o rádio e passei a ouvir um programa feito de reminiscências, através de músicas que ficaram para sempre na memória de todos nós, cada uma delas chegando aos meus ouvidos em forma de saudade, sendo que uma delas - Aperto de Mão -, na voz incomparável da eterna Isaurinha Garcia, colocou-me nas núvens.
É que, no início dos anos 80, numa viagem que fiz ao Rio, fui premiado, numa certa noite, com a notícia de que Isaurinha Garcia, uma das minhas musas preferidas por suas geniais interpretações do nosso samba, estaria cantando num show musical, num teatro bem ali, pertinho do hotel onde estava hospedado.
Sendo fã de carrteirinha da cantora não tive como resistir à tentação de assistir ao show, o que fiz, sentando-me na primeira fila, e ali aguardando, por alguns minutos, a chegada triunfal da grande intérprete, sendo recebida, é claro, com os aplausos entusiásticos da multidão que superlotava a casa de espetáculos.
E a primeira música a ser interpretada por Isaurinha, qual foi ? - justamente o Aperto de Mão que, justamente agora, mais de 30 anos depois, eu estava a ouvir com a mesma de emoção dos velhos tempos.
Isaura Garcia (o diminutivo só chegou depois) nasceu em São Paulo, no dia 26 de fevereiro de de 1923, cidade onde também faleceu, justo num mês de agosto como este, no dia 30, em 1993, quando estaremos, portanto, completando 20 anos sem a eterna musa da nossa música popular.
Com mais de cinquenta anos de carreira, Isaurinha foi uma das maiores intérpretes da MPB, sendo considerada por muitos como a Edith Piaf brasi-leira, tendo gravado mais de trezentas canções, dentre as quais músicas de sucesso, como Mensagem, Linda Flor (Ai, Iôiô), De Conversa em Conversa, Mensagem, Nunca, Candei de Ilusões, Foi a Noite, De Conversa em Conversa, Água de Beber e tantas outras que ficaram para sempre na memória dos seus fãs. 
No começo da carreira artística, participou de um concurso na Rádio Record de São Paulo, inspirando-se em Carmen Miranda e Aracy de Almeida, e logo foi contratada pela emissora, nascendo, a partir dai, uma carreira de sucesso, im-pulsionada, depois, mais ainda, pelo seu marido, Walter Wanderley, organista de muito êxito que renovou a bossa-nova com seu talento.
Neste mês de agosto, portanto, o Brasil precisa lembrar esses 20 anos sem a presença de uma das maiores intérpretes da nossa música.
Há uma saudade de Isaurinha no ar.

                https://www.youtube.com/watch?v=U8aKC11bfwQ






sexta-feira, 16 de agosto de 2013

A CRÔNICA DO DIA - 16/08/2013




                                                                                      



UM MACACO QUERIDO

A aposentada Elizete Farias Carmona, de 71 anos, que sofre de problemas cardíacos, residente em São Carlos, no estado de São Paulo, sofreu um terrível golpe em sua vida, que quase a levou a óbito.
Tudo começou quando, em 1976 (há exatos 38 anos), um caminhonheiro, amigo da família, chegou em sua casa, trazendo em suas mãos um macaco-prego recém-nascido - a quem dera o nome de Chico -, entregando-o, como presente, à dona Elizete.
A partir daí, Chico se transformou no mimo da família, sendo tratado, desde então, como um filho, já que a sua nova mãe lhe cobria de carinhos que eram retribuidos pelo macaquinho, que não se cansava de demonstrar, a todo instante, que não podia mais viver longe da dona Elizete, reclamando até mesmo quando, por alguns instantes, tinha ficar afastado dela.
No dia 3 de agosto, a Polícia Militar Ambiental, através de denúncia, compareceu à residência da família onde o Chico morava e, com uma ordem de apreensão, levou o animal para a vizinha cidade de Assis, sem notar, com certeza, que haviam deixado, naquela casa, uma pobre senhora, já idosa e cardíaca, ali, aos prantos, sem saber, ao certo, como poderia continuar vivendo sem o seu filho, que jamais deixára de estar ao seu lado, ao longo de quase 40 anos.
A notícia da apreensão do Chico e da dor imensa que dona Elizete estava sentindo por estar longe do seu amado filho, repercutiu na imprensa nacional e na internet (com internautas mobilizando dois abaixo-assinados na web com mais de 18 mil assinaturas), até que a juiza Gabriela Muller Carioba Attanásio, baseada no fáto de que, de acordo com a legislação vigente, manter um animal silvestre em casa, sem a devida autorização, é crime contra a fauna, mas se ele, na guarda doméstica, não estiver ameaçado de extinção, cabe uma decisão jurídica, determinou que, no prazo de cinco dias após a notificação, a Secretaria Estadual do Meio Ambiente e a Associação Protetora dos Animais Silvestres de Assis devolvessem Chico à sua dona, sob pena do pagamento de mil reais por dia em caso de descumprimento.
Assim que a notícia chegou à casa de dona Elizete, a alegria voltou à vida da aposentada que, agora, com um novo corte de cabelo e com um sorriso permanente no rosto, aguarda, com a ansiedade a volta do Chico, que será comemorada não apenas por seus amigos e familiares, mas, à esta altura dos acontecimentos, por milhares de pessoas em todo o Brasil.
- Chorei demais - afirma a aposentada. Não tinha nenhum lugar aqui em casa que não me fizesse lembrar dele, à toda hora ! 
E acrescentou:
- Cortei o cabelo, que há dias nem penteava, estou comendo melhor e dormindo bem, já que aquele aperto terrível no coração chegou ao fim.
Vamos todos comemorar a volta do Chico.
Como se vê, neste país nem tudo está perdido.

terça-feira, 13 de agosto de 2013

A CRÔNICA DO DIA - 14/08/2013




                                                                                      



A FORÇA DE UM PAI


No último domingo, ao comemorar ao lado dos meus meninos, mais um Dia dos Pais, lembrei-me, ao longo da balbúrdia que aprontaram lá em casa, quando, há muitos anos atrás, fui apresentado a Sergio Bittencourt, nos corredores da antiga TV Tupi, no Rio, antes do início do Programa Flávio Cavalcanti. Emocionei-me, na ocasião, ao conhecer de perto, muito mais que o jurado famoso que sempre dava notas sensatas e merecidas aos calouros, mas o jornalista e compositor de tanto sucesso, que o Brasil inteiro aplaudia. 

Num bate-papo informal enquanto a gente tomava um cafezinho, fiquei sabendo do amor imenso que Sergio sempre havia dedicado ao seu pai, Jacob do Bandolim. Soube ainda que, para tristeza minha, o inspirado jurado, compositor e jornalista, era hemofílico desde a mais tenra idade e, apesar da sua luta constante contra a terrível doença, havia perdido praticamente uma das pernas, locomovendo-se com dificuldade. 

Foi da sua própria voz que ouvi um breve relato da morte do pai: Foi no dia 14 de agosto de 1969 – esse agosto é sempre insano – que meu pai, dirigindo sozinho o seu carro, chegou à sua casa, em Jacarepaguá, vindo da residência de um dos seus poucos ídolos, Pixinguinha, e – já ofegante – avisou que estava morrendo, sendo recostado por minha mãe e pelo meu avô no chão da grande varanda, onde morreria. Jacob Pick Bittencourt foi, para mim, mais do que um pai, do que um amigo, do que um ídolo. Ele foi, é e será sempre, para seu filho, um homem, desses que a gente escreve com “agá” maiúsculo, um ser genial. Tenho certeza e assumo: não sou nada, porque, de fato, não preciso ser. Me basta ter a certeza inabalável de que nasci do amor, da loucura, da irrealidade e da lucidez de um grande gênio. 

No dia do nosso encontro, o compositor Sergio Bittencourt ainda ouvia os aplausos do público brasileiro quando o grande sucesso musical do momento - Naquela Mesa - um samba-póstumo que fizera em homenagem ao seu pai,  era interpretado pela saudosa Elizeth Cardoso, que o imortalizou.

Num dia como o de hoje – 14 de agosto – pertinho Dia dos Pais (ocorrido no último domingo), o cronista fica sem saber, ao certo, a quem homenagear: se a Jacob Pick Bittencourt, que nasceu no Rio, no dia 14 de fevereiro de 1918, tendo falecido, há 44 anos, na mesma cidade, numa data igual à esta, ou a seu filho, Sergio Bittencourt, que na cidade maravilhosa também nasceu, em 1941, deixando inúmeras musicas de sucesso, até que a morte, um dia, em 9 de julho de 1979, também o levou, vítima de um enfarte, aos 38 anos.

A homenagem, justa e merecida, deve ficar para os dois expoentes da nossa música: para Jacob, por ter sabido ser um pai, na verdadeira expressão da palavra, e por ter legado à música popular brasileira tantos sucessos que ainda hoje recebem os aplausos do público; e ao seu filho, Sergio, por sua declaração pública de amor ao pai que sempre esteve ao seu lado, mesmo depois de morto, através de uma composição que, ainda hoje, mais de quarenta anos depois, continua presente em nossas vidas, tornando mais bela a data que hoje comemoramos. 

Cada filho que esteve, no último domingo, ao lado do seu pai, feliz com a felicidade daquele homem que sempre o guiou na vida, pode emocionar-se muito mais ainda, ouvindo a historia que Sergio Bittencourt nos conta com sua música.

Jacob foi um pai que serviu de inspiração a um grande filho. 



quarta-feira, 7 de agosto de 2013

CRÔNICA DA SAUDADE - agosto de 2013




                                                                               



AS PEDRAS NO CAMINHO

              Amanheci hoje com a poesia de Carlos Drummond de Andrade na cabeça, provavelmente porque, a cada dia 17 de agosto, lamentamos o  falecimento do nosso poeta, ocorrido há exatos 26  anos , desde quando vivemos apenas com a força da sua poesia..
     Quando conheci Drummond, na José Olympio Editora, lá no Rio, tive a nítida impressão, ao ouvi-lo falar sobre um dos seus livros, que estava sendo lançado naquele momento, que o poeta não nascêra para viver num mundo repleto de tantos caminhos tortuosos como o nosso. A impressão que ficára era a de que ele não teria condições de sobreviver por muito tempo ao mundo hostil e violento como este em que estávamos vivendo. Só que nunca me enganára tanto: a poesia daquele homem, fisicamente frágil, era uma arma poderosa, de extremo poder tranqüilizante, que serenava os espíritos, dissipava rancores, afastava tristezas, reacendia esperanças e semeava ternura por onde passava.

Nascido na distante Itabira do Mato Dentro, no interior de Minas Gerais, no dia 31 de outubro de 1902, Carlos Drummond de Andrade estudou em Belo Horizonte e com os jesuítas do Colégio Anchieta, em Nova Friburgo, no Rio, de onde foi expulso por insubordinação mental. De volta à capital mineira, passou a escrever no Diário de Minas, onde começou a aglutinar muitos adeptos para um incipiente movimento modernista. Em 1925, formou-se em farmácia, em Ouro Preto. Logo em seguida, entrou no serviço público e, em 1934, transferiu-se para o Rio de Janeiro, onde foi chefe de gabinete de Gustavo Capanema, Ministro da Educação, até 1945, escrevendo, de 1954 a 1969, no Correio da Manhã e, a partir daí, no Jornal do Brasil.

Foram com seus livros, no entanto, que conseguiu falar com seu povo e tornar-se conhecido em todo o mundo. Em 1940, lançou Sentimento do Mundo e, em 1942, José; mas foi com A Rosa do Povo, em 1945, que Drummond lançou-se ao encontro da história contemporânea e da experiência coletiva, participando, social e politicamente, da luta do povo brasileiro em todos os níveis. A partiu daí, o que se viu foi uma sucessão de obras-primas que marcaram definitivamente a sua vida.

A morte de sua filha única, a cronista Maria Julieta Drummond de Andrade, no dia 5 de agosto de 1987, atingiu profundamente a sua alma e fez com que o poeta, já com 85 anos, viesse a falecer doze dias depois, lá mesmo, no Rio. 

Nunca me esquecerei – disse, num dos seus poemas, Drummond – que no meio do caminho tinha uma pedra.

Foi essa pedra, com certeza, que não deixou o poeta prosseguir pelo seu caminho de sempre, já que, numa encruzilhada, preferiu seguir outros rumos, deixando o nosso mundo, cada vez mais conturbado, para iniciar uma viagem em busca de outros sonhos.

Com sua poesia, Drumond eternizou-se em nossas vidas.

http://www.youtube.com/watch?v=2GMoB1ukqCk




sábado, 3 de agosto de 2013

CRÔNICA DA SAUDADE - agosto de 2013



                                                                           



O CANTOR DAS MULTIDÕES


Quando nasceu, no dia 03 de outubro de 1915, numa casa simples da Estação do Engenho de Dentro, no Rio de Janeiro, Orlando Garcia da Silva era uma criança pobre como muitas outras, cujo nascimento foi festejado, com música, por seu pai, que era um exímio violonista, tendo participado, inclusive, à época, da formação do conjunto Oito Batutas, do famoso Pixinguinha.

Incentivado por seu irmão Eduardo, Orlando começou a ensaiar para fazer um teste na Rádio Cajuti, quando o compositor Bororó, encantado com sua voz, resolveu apresenta-lo ao grande Francisco Alves. Na oportunidade, Orlando, que tinha apenas 17 anos de idade, cantou a valsa Mimi, deixando o nosso Chico Alves entusiasmado, a ponto de convida-lo a se apresentar no seu programa na Rádio Cajuti. Foi o primeiro passo para o sucesso, já que, três anos depois, gravava seu primeiro disco, na RCA Victor, com o samba-canção No Quilômetro Dois, de Aimberê, e o samba Para Deus Somos Iguais, de J. Cascata e J. Barcelos. No mesmo ano, o jovem Orlando Silva já gravava dois clássicos do seu repertório: a valsa-canção Última Estrofe e a valsa Lágrimas, de Cândido das Neves, além dos sambas Não é Proceder e Já é de Madrugada, de Assis Valente. 

A partir daí, apresentando-se nas principais emissoras do Rio, à época, Orlando Silva gravou inúmeras musicas que se tornaram sucessos populares, como Tristeza, de J. Cascata, e Dama de Cabaré, de Noel Rosa, tendo participado, no dia 12 de setembro de 1936, da inauguração da Rádio Nacional, passando a ser o primeiro cantor a ter um programa exclusivo naquela emissora. No auge da sua forma vocal, Orlando gravou, em 1936, com a Orquestra da RCA Victor, a valsa Lábios Que Beijei, da dupla J. Cascata e Leonel Azevedo, tendo, no outro lado do disco, com Radamés Gnatalli e sua orquestra, Juramento Falso, da mesma dupla de compositores, dois dos sucessos mais marcantes da sua carreira. E vieram, desde então, outras interpretações inesquecíveis, como a valsa Aliança Partida e o samba-canção Amigo Leal, ambas de Benedito Lacerda; Boêmio, samba de Ataulfo Alves; Carinhoso, samba de Pixinguinha; a valsa Rosa, também de Pixinguinha (música preferida de Dona Balbina, mãe do cantor, e que ele jamais voltaria a interpretá-la após a sua morte); a marchinha A Jardineira, de Benedito Lacerda; Abre a Janela, de Arlindo Marques; Caprichos do Destino, valsa de Claudionor Cruz; Nada Além, fox de Custódio Mesquita; os sambas Meu Pranto Ninguém Vê e Errei,Erramos, de Ataulfo Alves; Página de Dor, de Custódio Mesquita; Balalaika, de George Moran;  Meu Consolo é Você, de Nássara; Dá-me Tuas Mãos, de Roberto Martins; Uma Dor e Uma Saudade, de Zé Pretinho; Sertaneja, de René Bittencourth; Súplica, de Otávio Mendes; Preconceito, de Marino Pinto; Adeus, de Silvino Neto;  Inquietação, Faceira, Risque e Terra Seca, todas de Ary Barroso; Serenata do Adeus, de Vinicius de Moraes, e centenas de outras interpretações que ficaram para sempre em nossa lembranca.

Neste mês de agosto (ele morreu no dia 7 de 1978), os brasileiros estarão chorando com muita tristeza os 35 anos de saudade de Orlando Silva – o cantor das multidões.  

                                http://www.youtube.com/watch?v=ats2UIVi5OQ