quarta-feira, 20 de julho de 2011

CRÔNICA DA SAUDADE - 20/07/11




                 ISAURINHA, A PERSONALÍSSIMA

                Certa vez, em seu famoso programa de auditório na TV Tupi, o saudoso locutor Blota Júnior, ao anunciar a cantora, cuja presença marcante em nossa música popular jamais será esquecida, disse, pela primeira vez, o slogan que haveria de acompanha-la por toda a vida: “Com vocês... Isaurinha Garcia – a personalíssima !” Na verdade, o velho Blota havia definido a cantora com um slogan, já que ela, realmente, sabia colocar, em cada uma das suas interpretações, uma conotação toda especial, através do jeito de cantar, dando uma personalidade própria a cada música, como uma marca pessoal. 
                  Paulistana do bairro do Brás, onde nasceu, na rua da Alegria, no dia 26 de fevereiro de 1919, já encantava, com sua voz, desde menina, aos que a ouviam cantar, enquanto trabalhava na loja da família, engarrafando vinho. Aos 13 anos, já cantava na Rádio Cultura, mas foi na Radio Record onde se firmou, em 1938, ao se sair vitoriosa de um concurso, onde foi classificada em primeiro lugar, cantando o samba “Camisa Listada”. Em 1941, gravou, pela Colúmbia, seu primeiro disco, com as músicas Chega de Tanto Amor, choro de Mario Lago, e Pode Ser, samba de Geraldo Pereira e Marino Pinto. A partir daí, o samba passou a fazer parte da sua vida e foi com esse ritmo que ela gravou algumas das mais belas páginas da nossa música popular. Em 1943, já gravava o seu primeiro sucesso nacional: Aperto de Mão, de Jaime Florence e Augusto Mesquita. A partir daí, outros sucessos a tornaram cada vez mais conhecida em todo o Brasil, como o clássico samba-canção Linda Flor (Ai, ioio), de Henrique Vogeler, além de outras páginas imortais, como Não Faças Caso Coração; de Custódio Mesquita e Evaldo Rui, Mensagem, de Aldo Cabral e Cícero Nunes;  Barulho no Morro, de Roberto Martins; Edredon Vermelho, de Herivelto Martins; De Conversa em Conversa, de Lúcio Alves e Haroldo Barbosa; Carinhoso, de Pixinguinha e João de Barro; No Rancho Fundo, de Ary Barroso; Pé de Manacá, de Hervê Cordovil; Nunca, de Lupiscínio Rodrigues; Mocinho Bonito, de Billy Blanco, além de muitas outras músicas que jamais serão esquecidas na sua voz. Em 1957, gravou o seu primeiro LP – A Personalíssima -, iniciando outra fase de grande sucesso, com músicas inesquecíveis, como Deixa Pra Lá, de Vinicius de Morais, Foi a Noite, de Newton Mendonça e Tom Jobim; Cansei de Ilusões, de Tito Madi; ...E Daí, de Miguel Gustavo; Saia do Meu Caminho, de Evaldo Rui; Corcovado, de Tom Jobim;  Água de Beber, de Vinicius e Tom Jobim; Meu Nome é Ninguém, de Haroldo Barbosa; Tem Bobo Pra Tudo, de João Correia da Silva, afora muitas outras interpretações. Nos anos 60, Isaurinha Garcia eternizou músicas geniais de Martinho da Vila e Dolores Duran, cantando, de Martinho, O Pequeno Burguês e Casa de Bamba e, de Dolores, Castigo e A Noite do meu Bem, imortalizando outros grandes compositores brasileiros, gravando sucessos, como Januária, Com Açúcar e Com Afeto, e Carolina, de Chico Buarque, e Folha Morta, Camisa Amarela e Três Lágrimas, de Ary Barroso. 
                Num dia 30 de julho como este que vem aí, no ano de 1993, há 18 anos atrás, em sua residência, na cidade de São Paulo onde nasceu, viveu e alcançou um sucesso musical sem precedentes em nossa musica popular, Isaurinha Garcia fechava os olhos para a vida e deixava escrito um dos mais belos capítulos da historia da nossa musica popular, cantando, com toda a sua personalidade, páginas inesquecíveis do nosso cancioneiro.

segunda-feira, 11 de julho de 2011

CRÔNICA DA SAUDADE - 11/07/2011





O REI DA VALSA

Filho de pais italianos, Catello Carlos Guagliardi nasceu em São Paulo, no dia 24 de abril de 1913, mas quando tinha apenas um ano de idade, a família resolveu transferir-se para o Rio, onde passou toda a infância e juventude, trabalhando em muitas loterias do bairro do Rio Comprido, dando mostras, de vez em quando, da potencialidade da sua voz, cantando os sucessos da época em festas populares. Aos 20 anos de idade, em 1933, o nosso Carlos, já com o Galhardo incluído no nome, gravava o seu primeiro disco, com as marchas Você Não Gosta de Mim e O que é que há, dos Irmãos Valença e Nelson Ferreira, respectivamente. Menos de um mês depois, já estava gravando os sambas Pra Onde Irá o Brasil e É Duro de se Crer, ambos de Assis Valente. No mesmo ano, gravou outros sambas, inclusive Sonho, de Ataulfo Alves, mas foi com uma marcha-natalina – Boas Festas - composta por um solitário Assis Valente no quarto onde morava, na praia de Icaraí, em Niterói, que obteve o seu primeiro grande sucesso nacional, sendo cantada, até hoje, em todas as comemorações natalinas que se realizam em todo o país.

E o cantor da voz de veludo... o Rei da Valsa... onde é que estava ? Após gravar dezenas de marchinhas carnavalescas e sambas que o tornaram conhecido, Carlos Galhardo resolveu despertar o cantor romântico adormecido , quando gravou, em 1936, de Paulo Barbosa e Osvaldo Santiago, a valsa-canção Cortina de Veludo, música que marcou época no Rio de Janeiro e em todo o Brasil. No ano seguinte, com acompanhamento da Orquestra Copacabana, começou a gravar belíssimas valsas, como Assim Acaba Um Grande Amor e a famosa E o Destino Desfolhou, ambas da dupla Gastão Lamounier e Mário Rossi. O cantor da voz de veludo... o Rei da Valsa... estava começando a surgir e a tomar conta da sensibilidade do povo brasileiro, que não se cansava de aplaudi-lo. Os sucessos se tornaram constantes na vida de Carlos Galhardo e todos os seus fãs guardam na memória alguns das suas maiores interpretações, como Vela Branca Sobre o Mar, Mais uma Valsa...Mais uma Saudade, Italiana, Noite Sem Luar, Linda Butterfly, Perfume de Mulher Bonita, Maringá, Beija-Flor, Lagoa Azul, Nós Queremos Uma Valsa, Saudades de Matão, Fascinação (uma marca registrada na sua carreira), Última Inspiração, Mês de Maio, Velho Realejo, Cortina de Veludo, Rapaziada do Braz, Valsa dos Namorados, Mágoas de Caboclo, Último Beijo, Boneca, Mimi, Só Nós Dois no Salão... e Esta Valsa, Chão de Estrelas, A Mulher e a Rosa, Zíngara, Luzes da Ribalta Bodas de Prata, Valsa do Meu Subúrbio e muitas outras, todas em ritmo de valsa.

Com sua voz de veludo, Carlos Galhardo foi sucesso em todos os ritmos, desde os sambas e marchinhas de carnaval, até os baiões e toadas, assim como os boleros e sambas-canções que jamais serão esquecidos, como Fim de Estrada, Idéias Erradas e tantos outros que vivem em nossa lembrança.

Neste mês de julho – no dia 25 - o Brasil inteiro vai reverenciar vinte e cinco anos de saudade de Carlos Galhardo, o cantor que sempre dispensou adjetivos, falecido, no Rio, em 1985.

Para melhor lembrar a sua presença, ouça a sua voz.

http://www.youtube.com/watch?v=5g2sY1pUZdc

segunda-feira, 4 de julho de 2011

O CONTO DO MÊS - julho 2011



A ÚLTIMA MENSAGEM


Desde o dia em que recebera, do pai, como presente de aniversário, um computador, com todos os seus programas favoritos devidamente instalados, inclusive um modem e a sua tão sonhada linha de acesso à Internet, Marcelo não fazia outra coisa, quando não estava na uni-versidade, senão comunicar-se com o mundo, buscando mais conhecimentos e fazendo novas amizades. Aos vinte e um anos, recém-saido da adolescência, era um jovem inteiramente fascinado pela informática e suas infindáveis possibilidades de percorrer os muitos caminhos da terra sem sair de casa. O doutor Robson, o seu pai, que exercia a medicina com sucesso (era dele uma das clínicas de cardiologia mais conhecidas da cidade), como quase todos os pais da nossa época, queria que o filho ficasse longe das drogas sem que fosse preciso alertá-lo a todo instante sobre o assunto. Notando que o jovem sempre demonstrara interesse por computação, combinou tudo com dona Lenira, a esposa, e foi assim que Marcelo ganhou o seu sonhado micro. Agora, estavam preocupados, pois o jo- vem não se afastava da máquina. Às vezes, tarde da noite, ora entrando pela madrugada, lá estava ele, batendo papo com amigos distantes, através da Internet.
- Tá na hora de dormir, filho - ia até lá e dizia.
- Ora, pai, só mais um pouquinho. O David vai enviar-me um postal da sua cidade, nos Estados Unidos - ponderava o Marcelo, que sempre ficava por mais alguns minutos diante do monitor.
E o pai, que vivia, na sua clínica, inteiramente às voltas com computadores, sentia-se feliz com o interesse do filho pela informática, mas não o queria obcecado por tudo aquilo.
Célia, sua única irmã, dois anos mais nova que ele, sempre estava a chateá-lo:
- Maninho, já te contaram que existe vida lá fora ?
- Já, sim.
- Vamos sair. Hoje é sábado. A Eliana tá vidrada em você. E ela é um xuxuzinho, você não acha ?
- Acho, mas nào é meu tipo. Agora, deixe-me em paz.
- Tá bom. Se prefere ficar aí com suas menininhas imaginárias, tudo bem.
Marcelo gostava de ler e escrever. Tinha suas próprias teorias a respeito das criaturas humanas, com relação ao amor e ao sexo.
- Cada pessoa possui uma concentração diferente de energia, que a torna um ser especial e único, embora seja semelhante, fisicamente, aos demais - dizia, com ar professoral, a Lúcio, um dos seus melhores amigos.
- Concordo quando diz que somos feitos de energia - disse Lúcio.
- E de energia pura, que une as células, que nos movimenta, que nos faz pensar e viver, que nos conduz a todos os sentimentos - continuou.
- É... pode ser - concordou o amigo, reticente.
- Se somos energia, devemos ter, como toda e qualquer fonte energética, nossos polos positivos e negativos - aqueles que nos repelem e que nos atraem.
- Aonde quer chegar ?
- No seguinte: cada um de nós tem seu polo positivo perfeito, a sua outra metade, a sua alma gêmea, como dizem. O verdadeiro amor depende dessa busca. Quando a nossa energia encontra o seu polo perfeitamente positivo, os dois se atraem, misturando as suas forças e nada mais pode separá-las.
- É o tipo da teoria que explica as paixões repentinas...
- Ela explica os grandes amores, que resistem aos desafios do tempo e se perpetuam, em forma de saudade, após a morte.
- Pelo visto, ainda preciso encontrar o meu polo positivo perfeito.
- Pois eu já encontrei o meu, tenho certeza disso.
- Mas... como ? Dificilmente sai de casa... não tem namorada fixa... Como conseguiu encontrar essa pessoa ? Melhor ainda... onde a encontrou ?
Sentado diante do micro, limitou-se a apontar pro monitor ligado, dizendo:
- Aqui.
- Essa, não - debochou o amigo. Não me diga que tá apaixonado por uma imagem virtual ?
- Por uma imagem, não: por uma jovem chamada Rosália, inteligente, criativa, que escreve as palavras que me agradam e que me torna feliz a cada encontro.
- Você tá doido. Prefiro uma mina de carne-e-osso.
- Divirta-se, então. Tenho um novo encontro com a Rosália dentro de dez minutos.
- Pois fique aí. Tchau. - disse o Lúcio, afastando-se e balançando a cabeça negativamente.
Novamente só, no seu quarto, Marcelo ficou à espera do contáto com Rosália. fazia uma semana que eles se conheciam e, a cada encontro pela Internet, mais descobriam afinidades entre si e mais se declara- vam apaixonados. A distância não importava. Ele, no Recife; ela, em Porto Alegre, mas pareciam estar ali, juntinhos, a ponto de se tocarem. Do pai, Marcelo já conseguira a promessa de que, nas férias, iria à capital gaúcha, visitar sua tia Margarida, quando, então, haveria de conhecer pessoalmente a sua musa. E era dessa expectativa que estavam vivendo há dois dias, em permanentes contatos.
- Alô, Marcelo ! Você está aí ?
Ao ver a mensagem na tela, sorriu e foi ao teclado.
- Estou aqui, claro. Tudo bem, Rosália ?
- Só a saudade. Não vejo a hora de falar com você.
- Eu também. Mas logo estaremos juntos. Papai já me deu a passagem.
- Ótimo. Mas hoje, conforme combinamos, vamos nos conhecer melhor. Já preparou a impressora ? Eis a minha foto. Estava na praia.
Quando a foto de Rosália apareceu no vídeo, Marcelo extasiou-se e disse baixinho:
- Além de inteligente, ela é linda... perfeita.
- Agora, trate de mandar sua foto. Trato é trato.
- Não poderia falhar. Pronto.
Houve um espaço de alguns minutos.
- Rosália... você ainda está aí ?
- Lindooooo !
Marcelo era, realmente, um belo rapaz e a foto, tirada à beira da piscina, mostrava-o por inteiro. Sem perder tempo, acertaram tudo para o encontro ao vivo em Porto Alegre. Ela o aguardaria no aeroporto, mas fez questão de não dizer como estaria vestida. Eles teriam que se reconhecer ao primeiro olhar. E assim aconteceu: no saguão de desembarque, seus olhos logo acharam os de Rosália e os dois, ao se verem juntos, deram-se as mãos e, sem dizer uma única palavra, ficaram por alguns minutos a se observarem, até que, num ímpeto, abraçaram-se, felizes.
- Ainda não acredito que esteja aqui - disse Rosália, apertando-o.
Já no carro, os dois não paravam de se admirar, até que a moça conseguiu dizer:
- Vou deixá-lo no hotel. À noite estaremos juntos.
Os dois se beijaram e Marcelo entrou no hotel, ainda sem acreditar no que estava vivendo. À noite, da janela do apartamento, viu quando Rosália estacionou o carro e ficou à sua espera. Tratou de apressar-se. Logo, estavam dançando num barzinho da moda, onde foi apresentado a Rogério, de quem, ao longo da noite, tornou-se amigo. Mais tarde, já de madrugada, voltaram ao carro.
- Quer dirigir ? - perguntou a moça.
- Desde que indique os caminhos, tudo bem - respondeu.
Ao volante, quis saber:
- Para onde vamos ?
- Precisamos de algum tempo a sós. Que tal um motel ?
Se é verdade que algo de estranho ocorre quando as energias positivamente perfeitas se encontram, está explicado porque, de repente, o quarto à meia-luz se envolveu em um brilho intenso e a madrugada, antes cinzenta, vestiu-se de sol, despertando os pássaros antes do tempo. E eles se amaram - mas se amaram tanto - que seus ais mais pareciam música a embalar seus corpos jovens, contorcendo-se em êxtase, como num bailado frenético, todo feito de intensa paixão.
Só o amor consegue deter o tempo e vencer distâncias.
Já de volta à sua terra, após seguidas noites de encontros inesquecíveis, ele estava feliz, como se ainda a tivesse em seus braços. Os contatos voltariam à Internet, a partir daquela noite, quando passariam a aguardar o final do ano, época em que ela viria, de férias, ao Recife.
Ao entrar no seu quarto, tratou de ligar o computador e, para sua surpresa, Rosália entrou em linha, pela primeira vez, no horário matinal.
- Que houve ?
- Quis saber se chegou bem.
- Estou saudoso, mas feliz.
- Quero que saiba que haverei de amá-lo eternamente. Agora e sempre. Nesta vida e além dela. Hoje e até o fim dos tempos.
- As suas palavras denunciam que algo não vai bem. Que aconteceu ?
- Nada que a vida não explique.
- Você virá, realmente, no fim do ano ?
- No fim deste e de todos os anos que fizerem parte da nossa existência, porque jamais, aconteça o que acontecer, estaremos separados. Agora, somos um só.
Marcelo notava algo diferente naquelas mensagens de Rosália. Alguma coisa o deixava aflito. Resolveu insistir.
- Rosália... você ainda está aí ? Querida... Rosália... responda.
De nada adiantava. A tela permanecia parada. Só o cursor piscava, como se imitasse as batidas aceleradas do seu coração.
Conversou com a irmã e com seu amigo Lúcio a respeito.
- O que é que vocês acham de tudo isso ?
- Você mesmo vive afirmando que Rosália é uma mulher bastante inteligente - concluiu Lúcio. Ela, de modo criativo, apenas quis declarar o seu amor.
- Maninho, essa sua Rosália é demais - acrescentou a irmã. Veja só o que ela escreveu aqui: “Quero que saiba que haverei de amá-lo eternamente . Agora e sempre. Nesta vida e além dela. Hoje e até o fim dos tempos”. Qual é a dúvida ?
- Não sei. Algo não vai bem.
No início da tarde, o telefone tocou e Marcelo atendeu.
- Marcelo ?
- É ele mesmo. Quem fala ?
- Aqui é o Rogério.
- Rogério ?
- De Porto Alegre. Fomos apresentados pela Rosália... no barzinho... lembra-se ?
- Claro. Como vai você ?
- Bem. Só que tenho uma péssima notícia para você. Passei a manhã toda tentando descobrir seu telefone. Só agora o encontrei.
- Que notícia é essa ?
- Segure-se, meu irmão. Seja firme. Essas coisas acontecem.
- Diga logo o que houve.
- Ontem à noite, ao voltar da casa de uma amiga, o carro de Rosália bateu... foi de encontro a um caminhão.
- E Rosália ?
- Infelizmente, morreu no local do acidente !
Marcelo empalideceu, perdeu a voz e ficou ali, por alguns minutos, sentindo uma dor tremenda e chorando baixinho.
- Rosália... não pode ser ! Ela hoje se comunicou comigo !
Ao entrar no quarto, havia uma frase no monitor:
- Não chore para não me fazer sofrer. Adeus. Rosália.
Era a última mensagem.


sexta-feira, 1 de julho de 2011

CRÔNICA DA SAUDADE - julho 2011



CYRO MONTEIRO... QUEM É ?

Num dia desses, numa dessas conversas de bar onde assunto é o que não falta, o papo começou a girar em torno de música popular brasileira e, com relação às nossas raízes mais puras, defendi o ritmo do samba, feito numa caixinha de fósforos, no melhor estilo de Cyro Monteiro, como o que de mais fascinante existe em termos de Brasil. Embora a faixa de idade dos integrantes do bate-papo não fosse baixa, já que quase todos haviam passado dos quarenta, a maioria nunca tinha sequer ouvido falar no velho Cyro, embora gostassem da nossa música mais popular, que é o samba.

Como no próximo dia 13 de julho estaremos assinalando mais um aniversário do seu falecimento, teremos, a partir de agora, o cuidado de informar aos nossos mais jovens ouvintes, alguma coisa a respeito desse Cyro Monteiro, que o poeta e compositor Vinicius de Moraes considerava o maior cantor popular brasileiro de todos os tempos. Aos mais velhos, vamos apenas refrescar a memória, a fim de que eles se recordem dos grandes sucessos da nossa música que o Cyro interpretou melhor que ninguém. Nascido no bairro do Rocha, lá no Rio, no dia 28 de maio de 1913, Cyro Monteiro, além de ter sido um excepcional intérprete da nossa música mais popular, tendo marcado época com sua voz, seu ritmo e sua capacidade de modular e improvisar, ficou conhecido por sua grande simpatia, bondade e capacidade de fazer amigos. O cantor das mil e uma fãs, como era anunciado nos programas de rádio, era torcedor do Flamengo, mas era um flamenguista de quem até mesmo os adversários gostavam. Sempre cantou ao lado de grandes artistas da nossa música, como Carmen Miranda, Francisco Alves, Mário Reis, Custódio Mesquita, Noel Rosa, Gastão Formenti e muitos outros, mas Cyro era dono de uma interpretação toda sua que o destacava dos demais. Em 1937, já fazia grande sucesso com o samba Se Acaso Você Chegasse, de Lupiscínio Rodrigues e Felisberto Martins. A partir de 1939, os grandes sucessos carnavalescos se sucederam, OH, Seu Oscar, de Ataulfo Alves; Gosto de Te Ver Cantando, de Capiba; Os Quindins de Iaiá, de Ary Barroso; Linda Flor da Madrugada, de Capiba; Saudades dela, de Alcyr Pires Vermelho; seguindo-se, também, muitos sambas que até hoje ninguém esquece, como Deus Me Perdoe, O que se Leva dessa Vida, Pisei Num Despacho, Tem Que Rebolar, Madame Fulano de Tal (de sua autoria), Certa Maria (em parceria com Vinicius de Moraes), Formosa, e até mesmo Meu Pandeiro, uma das raras incursões de Luiz Gonzaga, o Rei do Baião, pelo universo do samba. Em 1970, lançou um LP pela Continental, com músicas de novos compositores, como Dela, de um tal Roberto Carlos e do seu parceiro Erasmo Carlos. Pela última vez, gravou, dois anos depois, com Vinicius e Toquinho, os sambas Que Martírio, de Haroldo Lobo, e Você Errou, de sua autoria.

Com apenas 60 anos, Cyro Monteiro faleceu na cidade do Rio de Janeiro, onde sempre viveu, no dia 13 de junho de 1973, tendo sido sepultado, com grande acompanhamento, no Cemitério de São João Batista, ao som do hino do Flamengo e coberto com as bandeiras rubro-negra do seu clube e verde-e-rosa da Estação Primeira de Mangueira.

Cyro Monteiro marcou, com seu talento, uma das melhores fases da musica popular brasileira. O Brasil de hoje não pode jamais esquece-lo.

http://www.youtube.com/watch?v=EQOl1OWIiZ0&feature=related