terça-feira, 28 de junho de 2011

CRÔNICA DA SAUDADE - 28/06/2011



UMA NOITE QUE FICOU

Existem pessoas que chegam à esta vida e logo começam a formar o seu destino, independente das condições financeiras que a cerquem, passando a fazer tudo o que tem que ser feito com extrema rapidez, principalmente quando o seu período de permanência entre nós é bastante curto para que se possa atingir todos os objetivos traçados.

Dolores Duran foi uma dessas invulgares inteligências, voltadas para a música e para a poesia, mas que teve que lutar contra o tempo – bastante exíguo em sua rápida passagem pela vida – para que pudesse deixar, para a posteridade, algumas das mais belas páginas da música popular brasileira.

Tendo nascido no dia 07 de um mês de junho como este que estamos vivenciando, frio e chuvoso, na rua do Propósito, no bairro da Saúde, no Rio, Adiléa da Silva Rocha – era esse o seu verdadeiro nome – começou a cantar desde os três anos de idade, chamando a atenção dos pais e dos amigos. Aos dez anos, incentivado por um amigo da família, participou do programa Calouros em Desfile, de Ary Barroso, interpretando uma fantasia mexicana intitulada Vereda Tropical, com letra em português e espanhol. Não deu outra: tirou a nota máxima, recebeu elogios de Ary e 500 mil-réis, o que lhe abriu caminho para que aparecesse em outros programas em várias emissoras cariocas.

Ao participar do concurso À Procura de uma Cantora de Boleros, organizado por Renato Murce na Rádio Nacional e tendo facilidade em pronunciar palavras em inglês, francês, italiano e espanhol, a nossa Adiléa, menina ainda, aos 15 anos, alcançou grande sucesso e, ao ser convidada para trabalhar em shows na Buate Vogue, já havia adotado o pseudônimo de Dolores Duran. Ao mesmo tempo, César de Alencar conseguiu coloca-la sob contrato na Rádio Nacional, ganhando 150 mil-réis por mês. Tornou-se, em pouco tempo, uma das mais consagradas cantoras noturnas, apresentando-se, diariamente, nas mais famosas buates do Rio de Janeiro. Foi no final de 1951 que gravou seu primeiro discos, com os sambas Que bom Será e Já Não Interessa, pela gravadora Star. Só a partir de 1954 é que Dolores começou a gravar músicas de muito sucesso, A Canção da Volta, de Antonio Maria, O Amor Acontece, de Celso e Flávio Cavalcanti e Manias, dos mesmos autores, Se é Por Falta de Adeus (a primeira música de sua autoria), Canção da Volta, de Ismael Neto e Antonio Maria, Por Causa de Você, de parceria com Vinicius, além de Estrada do Sol, Idéias Erradas e Castigo, Não Me Culpes e Solidão, todas de sua autoria, que foi sucesso inclusive nas vozes de várias amigas, como Marisa Gata Mansa.

Ao compor A Noite do Meu Bem, em 1959, diferenciando-se das outras composições que fazia questão de dividi-las com músicos e letristas da sua amizade, Dolores Duran fez questão de faze-la sòzinha, como se fosse uma marca na sua vida – uma música que haveria de eternizar o seu nome. Assim que a gravou, aos 29 anos, no dia 24 de outubro de 1959, chegou em casa cansada, deitou-se para repousar e não mais acordou.

A noite de Dolores ficou para sempre na lembrança de todos nós.

http://www.youtube.com/watch?v=Y6HWZ_wa_l4

segunda-feira, 27 de junho de 2011

CRÔNICA DA SAUDADE - 27/06/2011



A TREPIDANTE CELLY

Os setentões de hoje, que gostam de música popular e viveram uma juventude embalada pelos sucessos dos anos sessenta, não têm como negar toda beleza e encanto que uma única cantora, pequenina e envolvente, representou em suas vidas, marcando para sempre aquela época com suas notáveis interpretações.

Qual o setentão que não se lembra de Celly Campelo... que não é capaz de solfejar uma de suas músicas dos anos sessenta... que não dançou com alegria, saudando o rock que acabava de chegar, tendo, na menina saltitante, que cantava e conquistava tantos fãs, uma lembrança que jamais será esquecida ?

Celly foi a musa de muitos jovens que, hoje, já ultrapassam a barreira dos setenta, mas que jamais a esqueceram. Para aquela rapaziada toda, de 15,18 e 20 anos, ela representava o rock que estava chegando como grande novidade, após tomar conta dos Estados Unidos. Celly foi uma marca indelével no coração da juventude daquele tempo.

Nascida em Taubaté, no interior de São Paulo, no dia 18 de junho de 1942 (se ainda estivesse viva, estaria completando 69 anos), Célia Campelo Gomes Chacon foi criada na cidade onde nasceu, tendo estudado piano, violão e balé, tendo se apresentado, com apenas seis anos, numa emissora local, começando a cantar em um grupo amador, o Ritmos OK. Já em São Paulo, com o pseudônimo de Celly Campelo, ela logo se firmou como a primeira artista brasileira a obter sucesso cantando rock, tornando-se, no fim dos anos 50, uma das criadoras do movimento Jovem Guarda. Em 1958, com apenas 15 anos, lançou, com o irmão Tony Campelo, o seu primeiro compacto, já com os arranjos feitos pelo acordeonista Mario Genari Filho, que o acompanharia, doravante, em toda a sua vida artística. Celly alcançou o auge da sua popularidade nos anos 60, quando foi aclamada como Namoradinha do Brasil, gravando sucessos que dominaram a nossa juventude, como Estúpido Cupido, Banho de Lua, Hey Mama, Gosto de você meu bem, Broto Legal, Trem do Amor, Mar de Rosas, Ta-hi, Help (Vem me ajudar), Túnel do Amor e tantos outros. O sucesso era tanto que foi lançada a boneca Celly, pela Trol, e a Lacta lançou o chocolate Cupido. Em 1976, voltou às paradas musicais, tendo a música Estúpido Cupido se transformado em tema de novela da Rede Globo. No auge da sua carreira, Celly Campelo competia em popularidade com a italiana Rita Pavone, quase da mesma idade, já que nascera em Torino, no dia 23 de agosto de 1945 e menina ainda despertára para a música, lançando sucessos internacionais, cujas versões, em português, viravam coqueluche em todo o Brasil na voz da brasileira. Em 1996, já se apresentando esporadicamente pelo interior paulista, Celly Campelo detectou um câncer de mama. Com a operação, pareceu curada. Dois anos depois, no entanto, a doença voltou a atingir o pulmão, obrigando-a a ficar internada de 20 de fevereiro a 4 de março de 2003, quando veio a falecer, numa segunda-feira de carnaval, às 10 horas da manhã, em Campinas, deixando o mundo em que vivemos.

A menininha de ouro, que enfeitiçou os anos dourados da vida de muita gente, foi viver, como uma estrela de primeira grandeza, lá no céu.

É sempre bom recordar a sua voz.

http://www.youtube.com/watch?v=K-FLU9AxXQE

sexta-feira, 10 de junho de 2011

O CONTO DO MÊS - junho 2011




O HOMEM QUE VIA DEMAIS

A rotina era a mesma de sempre: ao chegar do trabalho, tirava a roupa, jogava tudo em cima do sofá da sala, sapatos para um canto e meias pra outro, ligava a TV com um rápido toque no controle remoto e se metia no banheiro, recebendo a água morna da ducha por alguns minutos no rosto, como se quisesse livrar-se do grande cansaço que se acumulára pelo corpo durante todo aquele dia – exatamente igual a tantos outros, extremamente cansativo - que fazia parte do seu cotidiano como gerente de banco. Após o banho, vestindo uma bermuda, preparava ele mesmo o seu café, retirava da geladeira o necessário para alimentar-se e, em seguida, já de cigarro acêso na boca, dirigia-se à varanda do apartamento, no vigéssimo quinto andar, onde morava, sozinho, há mais de quatro anos, desde que se divorciára da esposa. Sentava-se diante da luneta, observava o relógio e dizia consigo mesmo:

- Sete e quinze... Vamos à Madonna...

Àquela hora da noite, dezenas de janelas se acendiam nos muitos edifícios que circun- davam aquele onde morava. E Maurício conhecia a história da maioria delas. Uma das suas janelas preferidas era, sem dúvida, a da Madonna. Dera-lhe esse nome pelo excesso de exibicionismo da jovem. Assim que entrava no apartamento, por volta das sete da noite, acendia todas as luzes, livrava-se do vestido e de tudo o mais e, completamente nua, desfilava ante as janelas abertas, indo da sala para o quarto e vice-versa, até que iniciava uma sessão de ginástica para matar qualquer voyeur. A luneta possante a deixava ali, bem pertinho, ao alcance das suas mãos. E Madonna, ninguem sabe como, parecia sentir a presença de alguém, desdobrando-se em gestos sensuais, ao som de salsas e merengues. Quinze minutos depois, seguia para o banheiro e, ao se passarem dez minutos, estava lá, diante do espelho, enxugando-se e usando, após, a mesma toalha, enrolada na cabeça, para secar os cabelos. Deitada na cama, com as pernas abertas na direção da janela, fazia uso do controle remoto para ligar a TV. E ficava assim, por uma hora, mais ou menos, até que, colocando um travesseiro entre os braços, apagava as luzes para dormir. Parecia viver sozinha, longe da família e, ao que tudo indicava, não tinha namorados nem muitos amigos. Ao longo daqueles anos de observação, somente de tectára umas dezenas de visitas, algumas delas repetitivas, como a de um casal de meia idade (aparentemente seus pais), que sempre ficava por uma semana no apartamento e depois desaparecia por longo tempo. E as duas jovens (colegas de profissão, com certeza) e que só apareciam em alguns finais de semana, quando ficavam num bate-papo sem fim, entrecortado por risadagens e paradas estratégicas para novas doses de uísque. Afora isso, mais nada que pudesse alterar a vidinha rotineira de Madonna no seu nem sempre privativo recanto.

Uma outra janela muito interessante era a de Romeu e Julieta. Jovens ainda, eles estavam na faixa de idade de Madonna: entre vinte e trinta anos. Ela, estudante, morava com seus tios, que jamais a deixavam sozinha, exceto em certas ocasiões, quando tinham que sair e ela arranjava uma desculpa para ficar sozinha. Vendo-se só, corria pro telefone e dava o aviso. Minutos depois, o Romeu ali estava, tocando a campainha do apartamento.Toda perfumada, usando apenas uma mini-saia e uma blusinha, ela o fazia entrar e, tão logo fechava a porta, eles se abraçavam, como se não quisessem perder tempo. Dali por diante era uma sequência de transas as mais diversas, como se estivessem enlouquecidos pelo sexo, ora rolando na cama, ora no piso atapetado, traduzindo em gestos e beijos toda a paixão que os envolvia. Antes da meia-noite, Romeu já estava longe e ela, deitadinha na cama, esperava, tranquila, a volta dos tios.

Tendo aprendido a ler os lábios, ficava fácil, para Maurício, identificar seus personagens, penetrar em suas vidas e descobrir seus mais íntimos segredos.

Foi assim, atento a um dos telefonemas de Madame Bovary, que descobriu uma nova faceta daquela mulher, belíssima nos seus quarenta e poucos anos, de corpo escultural, de longos cabelos louros e de olhos azuis, que dava um verdadeiro show erótico com seu marido, em noites inesquecíveis, não só para ambos, como para o espectador privilegiado. Quando o marido viajava, ligava para a cunhada, e abria o jogo:

- Não quero trair seu irmão. Preciso de você.

E a jovem cunhada, como autêntica defensora da honra da família, fazia companhia à pobre e abandonada esposa, satisfazendo todos os seus caprichos, especialmente as suas taras sexuais. Como a mulher morava no vigéssimo primeiro andar, a visão de Maurício era perfeita. E ele, logicamente, vivia rezando para que o marido viajasse muito e demorasse bastante a voltar.

Eram poucos os amigos que o visitavam e desfrutavam do privilégio de observar as janelas, ali, no conforto da varanda às escuras. Todos, sem exceção, ficavam malucos com a novidade.

- É melhor que filme pornô ou show de strip-tease...

- Está na hora da Mulher-Gato. Sem o Batman, é claro - dizia o Maurício.

E lá estava ela, toda vestida de preto, praticando karatê. Como sempre, ao começar a suar, tirava a roupa e continuava com o treinamento, agora bem mais interessante para os ávidos olhos da platéia inquieta.

À sua maneira, Maurício adorava tudo aquilo e ia levando a sua vida, divertindo-se cada vez mais com o seu cinema particular e exclusivo.

Só uma coisa, no entanto, o intrigava: o buraco negro - um apartamento que sempre estava com as janelas fechadas, quando as luzes estavam acêsas, mas que eram abertas quando a escuridão domina-va o seu interior. Jamais vira um vulto sequer do seu inquilino. E assim estava há muitos meses. Como se um espírito o habitasse.

Numa certa noite, após o banho, abriu a geladeira, preparou um sanduiche, botou refrigerante num copo, apagou as luzes e lá se foi pra varanda, rapidamente:

- Já são quase oito horas - pensou. Estou atrasado. Devo ter perdido o show desta noite da Ma-donna !

Mordeu o sanduiche, já que estava faminto, tomou um gole do refrigerante, sentou-se e meteu o olho na luneta, que já estava apontada para seu alvo predileto.

- A Madonna... ela não está na sala... nem no banho... vejamos o quarto... a cama...

Tomou um grande susto com o que viu:

- Meu Deus !

A jovem estava estirada na cama, completamente nua, e havia sangue sobre o seu peito esquerdo.

- Parece que está ferida... ou morta !

Súbito, saindo do banheiro, despido, um homem... de rosto muito conhecido... o marido de Madame Bovary. Parecia nervoso. Vestiu-se apressadamente. Apanhou o revólver sobre a mesa de cabeceira e o colocou na cintura. Ficou, por um momento, olhando, como se estivesse admirando o corpo inerte de Madonna. Depois, apagou as luzes, abriu a porta e saiu.

Mesmo apavorado, Maurício dirigiu a luneta para a janela de Madame Bovary. Na cama, a mulher e a cunhada se divertiam, enquanto assistiam, na TV, filmes pornográficos, em vídeo.

Viu quando o marido abriu a porta com cuidado e entrou.

- Essa, não. O homem vai mata-las ! - pensou.

Sentiu um alívio, quando o marido guardou o revólver na escrivaninha e gritou:

- Lídia, meu amor, estou de volta !

Imediatamente, tratou de focalizar a janela do quarto.

As duas mulheres saltaram da cama, a cunhada retirou a fita do vídeo e desligou a TV, enquanto a esposa se vestia e elevava a voz, dizendo:

- Um momento, querido.

As duas mal haviam se vestido, e a mulher já mandava:

- Pode entrar, Adolfo.

O homem entrou e foi dizendo:

- Hoje, a minha querida irmãzinha vai dormir no seu quarto.

E dando-lhe um beijo:

- Obrigado por ter feito companhia à Lídia.

Assim que a irmã saiu e se trancou no quarto, convidou a esposa:

- Vamos tomar um bom banho juntos ?

Despidos, entraram no banheiro já entre beijos e abraços.

Impressionado com tudo o que assistira, angustiado mesmo, não queria mais ver nada daquilo. Completamente zonzo, dirigiu-se à uma poltrona, na sala, onde praticamente desfaleceu. Estava em pânico.

- O miserável matou a Madonna e, agora, está transando com a mulher como se nada demais tivesse acontecido ! - concluiu.

Sem saber o que fazer, ficou ali, remoendo os fátos:

- Se eu avisar à polícia, terei que explicar tudo. Não devo envolver-me nisso. Perderei meu cargo no banco.

Foi quando a campainha tocou. Coração aos saltos, foi atender. Era um homem estranho, calvo, de olhos pequenos, aparentando mais de quarenta anos pelo bigode grisalho.

- Sou delegado de polícia e vim lhe propor um trato.

- Que trato ? - quis saber, mais nervoso do que nunca.

- Moro no prédio em frente - foi dizendo e entrando. - Naquele apartamento ali, que vive às escuras.

- O buraco negro... - sussurrou Maurício.

- Houve um assassinato. Mataram uma jovem. Chamaram-me ao local. Diga-me quem é o assassino e livrarei sua cara.

- Nada sei...

- Uso uma luneta de lentes infra-vermelhas. Vejo tudo o que ocorre, inclusive no escuro. Tenho acompanhado todo o seu interesse em olhar a janela da moça. Não o recrimino e até o invejo. Era uma belíssima mulher.

- Mas eu...

- Se não quiser colaborar, terei que prendê-lo.

Dirigiu-se à varanda e olhou pela luneta. A Madame Bovary continuava dando ao marido tudo o que ele merecia.

- Foi ele ? - perguntou, virando-se para Maurício.

Balançando a cabeça afirmativamente, foi adiante:

- Ele a matou. O miserável. E nunca esteve antes no apartamento. Deve ter arranjado uma outra chave ou coisa assim. Ponha esse sujeito na cadeia !

- Deixe comigo - prometeu o delegado. E uma dica: você não sabe o que está perdendo olhando de lá pra cá. Você tem umas vizinhas espetaculares.

Rindo, botou a mão no ombro de Maurício e se encaminhou para a porta:

- Obrigado por tudo.

E foi embora.

Dois dias depois, a notícia estava nos jornais: ”Desesperado por encontrar a mulher na cama com a irmã, foi repudiado pela vizinha e a matou a tiros.”

Vendeu a luneta.


CRÔNICA DA SAUDADE - 10/06/2011


A TREPIDANTE CELLY

Os setentões de hoje, que gostam de música popular e viveram uma juventude embalada pelos sucessos dos anos sessenta, não têm como negar toda beleza e encanto que uma única cantora, pequenina e envolvente, representou em suas vidas, marcando para sempre aquela época com suas notáveis interpretações.

Qual o setentão que não se lembra de Celly Campelo... que não é capaz de solfejar uma de suas músicas dos anos sessenta... que não dançou com alegria, saudando o rock que acabava de chegar, tendo, na menina saltitante, que cantava e conquistava tantos fãs, uma lembrança que jamais será esquecida ?

Celly foi a musa de muitos jovens que, hoje, já ultrapassam a barreira dos setenta, mas que jamais a esqueceram. Para aquela rapaziada toda, de 15,18 e 20 anos, ela representava o rock que estava chegando como grande novidade, após tomar conta dos Estados Unidos. Celly foi uma marca indelével no coração da juventude daquele tempo.

Nascida em Taubaté, no interior de São Paulo, no dia 18 de junho de 1942 (se ainda estivesse viva, estaria completando 69 anos), Célia Campelo Gomes Chacon foi criada na cidade onde nasceu, tendo estudado piano, violão e balé, tendo se apresentado, com apenas seis anos, numa emissora local, começando a cantar em um grupo amador, o Ritmos OK. Já em São Paulo, com o pseudônimo de Celly Campelo, ela logo se firmou como a primeira artista brasileira a obter sucesso cantando rock, tornando-se, no fim dos anos 50, uma das criadoras do movimento Jovem Guarda. Em 1958, com apenas 15 anos, lançou, com o irmão Tony Campelo, o seu primeiro compacto, já com os arranjos feitos pelo acordeonista Mario Genari Filho, que o acompanharia, doravante, em toda a sua vida artística. Celly alcançou o auge da sua popularidade nos anos 60, quando foi aclamada como Namoradinha do Brasil, gravando sucessos que dominaram a nossa juventude, como Estúpido Cupido, Banho de Lua, Hey Mama, Gosto de você meu bem, Broto Legal, Trem do Amor, Mar de Rosas, Ta-hi, Help (Vem me ajudar), Túnel do Amor e tantos outros. O sucesso era tanto que foi lançada a boneca Celly, pela Trol, e a Lacta lançou o chocolate Cupido. Em 1976, voltou às paradas musicais, tendo a música Estúpido Cupido se transformado em tema de novela da Rede Globo. No auge da sua carreira, Celly Campelo competia em popularidade com a italiana Rita Pavone, quase da mesma idade, já que nascera em Torino, no dia 23 de agosto de 1945 e menina ainda despertára para a música, lançando sucessos internacionais, cujas versões, em português, viravam coqueluche em todo o Brasil na voz da brasileira. Em 1996, já se apresentando esporadicamente pelo interior paulista, Celly Campelo detectou um câncer de mama. Com a operação, pareceu curada. Dois anos depois, no entanto, a doença voltou a atingir o pulmão, obrigando-a a ficar internada de 20 de fevereiro a 4 de março de 2003, quando veio a falecer, numa segunda-feira de carnaval, às 10 horas da manhã, em Campinas, deixando o mundo em que vivemos.

A menininha de ouro, que enfeitiçou os anos dourados da vida de muita gente, foi viver, como uma estrela de primeira grandeza, lá no céu.