sexta-feira, 29 de outubro de 2010

quinta-feira, 21 de outubro de 2010

A CRÔNICA DO DIA – 21/10/2010



SEGUNDO TURNO

No próximo dia 31 de outubro, os brasileiros estarão votando mais uma vez para Presidente da República e, em alguns estados da Federação, para Governador, pondo, assim, um ponto final nas eleições de 2010, que já determinaram, à esta altura, a vitória de candidatos ao Senado, à Câmara Federal e às Assembléias estaduais, cujos eleitos já estão festejando, em parte, os votos recebidos, de uma vez que a celebração definitiva sòmente será feita com a divulgação dos vencedores do segundo turno.

Se existe algo na legislação eleitoral que merece o nosso aplauso, esta é, sem dúvida, a possibilidade dada ao eleitor para que crie uma segunda chance, a fim de que todos repensem o seu voto e, com mais calma e ponderação, votem mais uma vez, agora com a certeza de que estarão escolhendo os melhores candidatos para atendimento aos anseios da população.

O segundo turno, portanto, só aparece nas eleições onde as dúvidas perma-necem durante todo o pleito, apesar do aparente favoritismo de A ou B, independente das forças políticas que o apóiam edo que dizem os institutos de pesquisa, já que, no final das contas, é ao povo que cabe decidir quem vai governar a sua terra.

Sendo um pleito bem mais fácil que o primeiro, de uma vez que o eleitor só terá que se preocupar a digitação de duas cifras (13 ou 45) para Presidente e outras duas cifras para Governador (nos estados onde houver eleição), como no caso da Paraíba (15 ou 40), o segundo turno, na verdade, é uma forma de tomada de tempo dos votantes para que repen-sem ou consolidem o seu voto.

É votar mais ou votar menos: são dois números apenas, bem fáceis de serem digitados, mas que significam, no momento rápido da sua digitação, a força de um sonho ou a realização de um desejo, já que eles deverão estar de acordo com que determina a sua consciência e com os anseios do seu coração.

A facilidade e a rapidez da votação, contudo, não alteram a responsabilidade da escolha, já que o tempo que manterá os eleitos nos cargos, fazendo ou desfazendo os nossos sonhos, continuará o mesmo: quatro anos.

Apesar de tudo parecer mais fácil, a dificuldade continua sendo a mesma, de uma vez que caberá, como sempre, ao povo, de forma definitiva, colocar os pontos nos is e dizer, em alto e bom som, quem é que vai governar o Brasil e, em nosso caso, quem é que vai comandar os destinos da Paraíba.

São dois candidatos apenas, com dois números – um menor, outro maior.

A escolha é sua: vote bem pelo bem de todos.

sexta-feira, 15 de outubro de 2010

CRÔNICA DA SAUDADE - 15/10/2010


LEGIÃO DA SAUDADE

Quando nasceu, no Rio de Janeiro, num domingo de sol – no dia 27 de março de 1960 -, Renato Russo recebeu o nome do pai, tendo sido registrado como Renato Manfredini Júnior, ganhando, com o sobrenome, uma certa ligação com a Itália de tantos e tão inspirados compositores e músicos.

Aos sete anos, foi morar com seus pais em Nova York, onde viveu até o ano de 1969, nascendo daí a ligação com o idioma que o fez, mais tarde, tornar-se professor de inglês. Antes de criar o grupo de punk-rock Aborto Elétrico, em 1978, já havia incluído o Russo ao nome, como homenagem – segundo sempre explicou – ao filósofo inglês Bertrand Russel, ao pintor francês Henri Rousseau e ao filósofo iluminista Jean-Jacques Rousseau.

Foi em 1982 que criou o grupo Legião Urbana, que só começou a se destacar no cenário artístico nacional a partir de 1984, quando fez o lançamento do disco que tinha o nome da banda, onde logo se transformaram em sucesso músicas de sua autoria, como Será, em parceria com Marcelo Bonfá e Dado Villa-Lobos, e Geração Coca-Cola. Seu primeiro sucesso musical, no entanto, foi Química, gravada pelos Paralamas do Sucesso. Em 1986 foi lançado o segundo LP do Legião Urbana, que consagrou Renato Russo definitivamente como um dos maiores compositores brasileiros. Quem não se lembra, até hoje, de sucessos marcantes, como Eduardo e Mônica, Tempo Perdido e Índios ? Poeta genial e polêmico, Renato foi mais adiante, no ano seguinte, causando intensa discussão em todo o Brasil com as músicas Que País é Este ? e Faroeste Caboclo, que chegaram a ter suas execuções proibidas em emissoras de rádio. Em 87, em parceria Dado Villa-Lobos e Marcelo Bonfá, obteve um sucesso estrondoso com Pais e Filhos e Meninos e Meninas.

A partir de 1994 começou propriamente a sua carreira solo, lançando o disco The Stonewal Celebration Concert, que destinou 50 por cento das suas vendagens para projetos da Ação da Cidadania Contra a Miséria e a Fome, tendo vendido 250 mil cópias. O LP seguinte, em 1995, seu segundo disco solo, Equilíbrio Distante, com músicas em italiano, vendeu cerca de um milhão de cópias, com destaque para as faixas La Solitudine e Strani Amori, que alcançaram estrondoso sucesso.

Já doente, sofrendo terrivelmente com uma broncopneumonia, sepicemia e infecção urinária – tudo decorrente da Aids que o matava aos poucos -, Renato Russo, após seis anos de intenso padecimento, faleceu no dia 11 de outubro de 1996, na mesma cidade do Rio de Janeiro onde nasceu, com apenas 36 anos de idade, deixando uma imensa legião de fâs chorando a sua ausência.

Ninguém, mais do que ele, recebeu tantas homenagens póstumas.

Melhor seria que estivesse aqui, entre nós, comemorando, feliz, seus 50 anos de vida.

quinta-feira, 7 de outubro de 2010

O CONTO DO MÊS - OUTUBRO

O sonho que durou dez dias

Ao ver o amigo ao longe, na mesa do bar, tomando sua cervejinha, ao entardecer, teve um susto tremendo, mas logo sentiu que tinha que ir até lá, a fim de descobrir o que estava acontecendo.

- Alcebíades ? - perguntou baixinho, quase num sussurro.

- Que foi ? - retrucou o outro. Tá com problema na voz ? Fale alto, homem, e sente-se aqui. Tome um copinho de cerveja...

- Mas... é você mesmo ? - tornou a perguntar, botando a mão de leve no ombro do Alcebíades.

- Quem queria que fosse ? O Antônio Fagundes? Claro que sou eu, o velho Alce. Quer que mostre os documentos ? - debochou, segurando os ovos.

- Não pode ser. Você morreu. Eu fui ao seu velório, ao seu enterro. Vi que estava lá, no caixão, mortinho da silva !

- Ah, isso é outra história. Depois eu conto. Por enquanto, sente-se e tome um copo de cerveja. Relaxe. Fique frio.

Mesmo sem acreditar no que via e ouvia, o Justino começou a beber, sem tirar os olhos assustados do amigo.

- Foi bom te encontrar. Amanhã, estarei aqui com o Neves. Já marcamos. Mandei preparar uma fava daquelas...

- Você tá falando do Neves... o Oscar ?

- Dele mesmo. Que outro Neves conhecemos ?

- Mas o Oscar... o Oscar Neves também morreu !

- Garanto que explico tudo. Mas tu tens que prometer que aparecerás por aqui amanhã !

- Devo estar sonhando...

- Estaremos à tua espera, eu e o Neves. Não vá faltar !

Ao ouvir uma voz de mulher chamando pelo seu nome, acordou em sobressalto.

- Justino ! Seis horas. Levante-se, senão vai chegar atrasado ao trabalho !

- Graças a Deus estou em casa ! - exclamou aliviado, ao ouvir a voz de Letícia, sua esposa.

Durante alguns minutos, ficou sentado à beira da cama, com as mãos na cabeça, procurando entender o que acontecêra.

- Foi um sonho. Só podia ser um sonho. Tinha que ser...

Só para provocar risos, contou tudo o que sonhára à esposa e ao filho, Claúdio, durante o café da manhã.

- Quer dizer que nem depois de morto Alcebíades te deixa em paz, hein ? E o que é pior: carregando você pra bebedeira, como sempre fez !

- Não brinque, Letícia. Parecia real.

- Apesar de tudo, foi melhor encontrar o Alce do que o safado do Neves, aquele raparigueiro ! - alfinetou a mulher.

Durante todo o dia, na repartição pública onde trabalhava, o Justino não conseguiu tirar o sonho da cabeça.

À noite, estava vendo televisão, deitado no sofá da sala, quando adormeceu.

E lá estavam os dois, o Alcebíades e o Neves, no mesmo bar, acenando pra ele.

- Isso é que é homem de palavra ! Prometeu que vinha e veio mesmo ! - saudou o Alcebíades.

- Me dá um abraço, Justino ! - disse o Neves, com espalhafato, todo risonho. Fazia mais de um ano que a gente não se via !

- Claro - acrescentou Justino -, faz mais de um ano que você morreu.

- Ninguém morre, amigão. Ninguém morre. Lembra-se da Rosinha-Bunda-Grande ? - perguntou, já puxando uma mulher que estava afastada para perto dele. Pois olha a Rosinha aqui ! E continua boa e gostosa como sempre !

- A Rosinha... - esfregou os olhos o Justino, para ver melhor. Ela sofreu um acidente de carro. Nós choramos a sua morte !

- Como vê, a gente podia ter economizado aquelas lágrimas... A Rosinha tá aqui e com a bunda cada vez maior !

- A cerveja tá esquentando - lembrou o Alcebíades. Afinal, nós viemos aqui pra beber ou pra conversar ? - perguntou, repetindo a antiga publicidade da Antarctica.

Puxado pelos amigos, em meio à brincadeiras, Justino sentou-se à mesa, tomou um gole da cerveja geladinha e disse consigo mesmo:

- Preciso acordar. Não aguento mais esse sonho !

- Vamos erguer um brinde ao nosso reencontro ! - sugeriu o Alcebíades.

- Um brinde ao reencontro ! - exclamou o Neves, acrescentando: E um brinde ao Juca Safado e ao Pedro Teimoso, que estarão com a gente amanhã !

O tilintar do despertador quase fez o Justino pular da cama. Suado, ofegante, dirigiu-se à Letícia, que estava ali, ao seu lado, ainda com cara de sono:

- Sonhei de novo.

- De novo ? Com o Alcebíades ?

- Com o Alcebíades... O Neves... e...

- ...e quem mais ?

Lembrou-se que a mulher odiava a Rosinha, desde o dia em que a encontrou sentada no seu colo, lá no bar.

- Nada. Ninguém mais. Preciso procurar o Jório.

- Um psicólogo e psiquiatra. Acha que tá ficando doido ?

- Acho.

- Ao chegar ao consultório do doutor Jório, o Justino foi logo recebido pelo amigo de tantos anos.

- Notei que estava muito aflito ao telefone. Que houve ? Algum problema com a Letícia ?

- Não. O casamento, agora, vai muito bem.

- E qual é o problema ?

- Meu problema é o sonho.

- Sonho ? Que história é essa ?

- Há dois dias venho sonhando o mesmo sonho.

- O mesmo ?

- É como uma novela de TV. Surgem novos personagens, mas o cenário é sempre o mesmo: o Bar da Fava.

- Mas o Bar da Fava fechou, desde que o Benedito - o nêgo Bené - morreu. E isso já faz uns cinco anos. E como faz falta, hein ? A gente ficou sem ter um local para nossos encontros de fins de semana.

- E sabe quem estava lá no bar ? No primeiro dia, o Alcebíades. No segundo, o Neves e a Rosinha.

- Todos mortos.

- E pra amanhã, já anunciaram que estarão por lá o Juca Martins - aquele safado - e o Pedro Tavares - o teimosinho.

- Mortos também.

- Acha que estou ficando maluco ?

Pela primeira vez, desde que começára a atender o amigo, o doutor Jório ficou sério e falou como profissional:

- Quando chegamos aos cinquenta, sessenta anos, não temos como escapar das tristezas provocadas pelo falecimento de amigos. De vez em quando, lá se vai mais um. E o sub-consciente costuma nos pregar peças. Sendo o arquivo do cérebro, ele libera imagens de acordo com as provocações emocionais, aproveitando justamente o momento em que dormimos e estamos mais vulneráveis. A morte do Alce, que foi o último, deve ter provocado todos os sonhos. Mas não acredito que aconteça de novo. Pode dormir em paz. Agora, que você já conhece as causas, os efeitos deixarão de existir.

Só que não foi bem assim. No dia seguinte, Justino voltou a sonhar com o Alcebíades, o Neves, a Rosinha, o Juca Safado e o Pedro Teimoso, tendo entrado em cena, inclusive, um elemento inesperado - o próprio nêgo Bené, o dono do bar. Cada vez mais nervoso, sem saber o que fazer, resolveu dar um tempo pra ver se a coisa acabava. No nono encontro, todas as mesas do bar estavam ocupadas por velhos e queridos amigos, que tinham partido, deixando saudades. Esse último encontro, no entanto, foi diferente:

- A partir de amanhã - disse o Alcebíades, ao se despedir -, você ficará para sempre com a gente ! Ficará aqui... em nossa companhia... à espera dos amigos que virão !

Apavorado, voltou ao consultório.

- Não é brincadeira. Estou morrendo de medo. Você tem que me ajudar. Não quero mais dormir. Nunca mais.

Sendo médico, o amigo notou que algo sério estava se passando com Justino. Algo grave acontecêra ou estaria acontecendo com seu cérebro. Convenceu-o a fazer um eletroencefalograma. E marcou com ele um encontro em sua casa, à noite, onde tomariam alguns uísques, bateriam novos papos e procuraria descontrai-lo um pouco.

À noite, enquanto Letícia conversava com a mulher do doutor Jório, os dois amigos bebiam, contavam anedotas e relembravam histórias acontecidas ao longo de suas vidas. Lá pra meia-noite, o Justino, depois de não sei quantas doses de bebida, adormeceu no sofá.

- Olha só quem vem chegando, Neves... o Justino !

- Seja bem-vindo, amigão ! Pensei que não viesse mais !

- Reunimos a turma toda !

- Vamos lá, turma ! Um brinde !

Na hora de acordar o Justino, pois a Letícia estava morrendo de sono e queria ir embora, o doutor Jório empalideceu.

- O pulso... o coração...

- O que houve, Jório ? - perguntou Letícia.

- Ele... ele está morto ! - concluiu.

E a festa no Bar da Fava entrou pela madrugada.

Uma eterna madrugada, com certeza.



terça-feira, 5 de outubro de 2010

CRÔNICA DA SAUDADE - 06/10/2010

CAMPINA DE SEMPRE

Quando cheguei em Campina Grande, menino ainda, no final dos anos 40, deparei-me, de repente, com uma cidade bem diferente da cidade de hoje, mas que enchia-me os olhos e o coração com os encantos da sua simplicidade e com a alegria do seu povo, que ficaram para sempre dentro de mim.

Campina ainda era pequena... concentrava-se quase toda em volta da praça da Bandeira... nas ruas Marquês do Herval, Floriano Peixoto, Cardoso Vieira, Maciel Pinheiro e, principalmente, na João Pessoa, onde o comércio já indicava a vocação do seu povo... pois a antiga Vila Nova da Rainha já abrigava as multidões de forasteiros que chegavam em busca de novos caminhos... mas não abandonava o seu trono... não perdia a majestade.

Sou do tempo da Usina de Luz, logo ali, em frente da casa dos meus avós, na Clementino Procópio, que fornecia energia elétrica à cidade, até às 10 horas da noite... Sou do tempo do Edifício Esial... da Voz de Campina Grande, com José Jataí...do Beco do 3l... da Sorveteria Florida... das mil e uma lembranças de uma adolescência feliz... Sou do tempo das primeiras emissoras de rádio... da Borborema, principalmente... dos seus programas de auditório... dos grandes shows com famosos artistas do sul do país... de tudo, enfim, que fez parte de uma época que jamais será esquecida por quem a viveu.

A Campina que guardo na memória e que faz parte de minha vida é uma cidade em constante transformação. Como num filme, ela é uma seqüência de quadros que se alternam ao longo dos anos, conquistando-nos em cada uma das fases que marcaram a sua história, até faze-la grande como o seu nome, tornando-a uma das cidades mais progressistas de todo o interior nordestino.

Na próxima segunda-feira, dia 11, Campina estará comemorando seus 148 anos de fundação, recebendo, com certeza, as maiores e mais sinceras homenagens de todos aqueles que aprenderam, ao longo da vida, a amar e a respeitar a cidade do seu coração.

Bonita como sempre, cada vez mais alegre e fascinante, Campina se prepara para receber a todos quantos a admiram e que irão participar, sem dúvida, das festividades que serão realizadas no Parque do Povo, cantando, junto com todos os campinenses, um parabéns pra você que se renova, a cada ano, com muito mais alegria e emoção.

Mais do que nunca, a cidade merece o nosso amor.

Campina, para todos nós, é a mulher dos nossos sonhos: cada vez mais presente em nossas vidas, ajudando a construir os destinos da gente.

Campina, para os paraibanos que a conhecem como eu, é como Roma para o resto do mundo: bela e divina... sagrada e eterna.